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Burkina Faso e o efeito de contágio

Guilherme Correia da Silva7 de novembro de 2014

A queda do Presidente do Burkina Faso, Blaise Compaoré, pode ter um efeito de contágio noutros países africanos em que os líderes estão há mais de vinte anos no poder? As opiniões divergem no Facebook e no Twitter.

Foto: Reuters/Joe Penney

Na altura em que a imprensa internacional noticiava que centenas de manifestantes entraram em fúria no Parlamento do Burkina Faso, incendiando partes do edifício, Lara Pawson escreveu um tweet. A jornalista britânica e autora do livro "Em Nome do Povo", sobre o 27 de maio de 1977 em Angola, perguntou: "Presidente Dos Santos, ao olhar para o Burkina Faso, está a tremer na Cidade Alta?", a zona de Luanda onde fica o palácio presidencial.

A pergunta ficou sem resposta, tanto na rede social Twitter, como nos média estatais. Segundo ativistas e utilizadores online, em Angola ter-se-á mesmo tentado evitar falar no assunto. Comentando uma mensagem no Facebook sobre o destaque dado pela Rádio Nacional de Angola aos acontecimentos no Burkina Faso, o movimento Central Angola 7311 escrevia: O "GRECIMA [Gabinete de Revitalização e Execução da Comunicação Institucional e Marketing da Administração] preocupa-se e manda tesouradas no magazine que lida com assuntos africanos. Hoje ouviu-se mais música do que é habitual… Em África não se passa nada, vamos dançar!"

Mas, mesmo que a imprensa angolana não fale, há quem fale, nota "Minigiedy Mia Loa" na página da DW (Português para África) no Facebook: "A imprensa angolana fecha-se em copas, mas, de qualquer das formas, as pessoas vão falando de um lado para o outro sobre o assunto!"

Haverá manifestações noutros países?

"Os angolanos não têm a capacidade de fazer aquilo que estamos a assistir" no Burkina Faso, opina por seu lado "Kennidy Mista Kenny". "Não temos força para isso, o angolano já é um 'deixa andar'". O utilizador Simão Sonjamba também diz ter as suas dúvidas, "tudo porque as nossas Forças Armadas são muito fiéis ao chefe de Estado".

Ainda no debate no Facebook, Nelson Silva diz que "Angola é um país que acabou de sair de uma guerra civil, as pessoas têm medo que isso volte a acontecer através de uma rebelião ou de uma onda de protesto. Então temos que ter muita calma." Não à violência é um pedido de muitos utilizadores. Alex Catimba sublinha que "é bem verdade que nós africanos não vivemos totalmente bem, e queremos mesmo mudança, mas que seja pacífica."

Populares do Burkina Faso ficaram indignados quando o Governo propôs uma revisão constitucional que permitiria ao PresidenteBlaise Compaoré, há 27 anos no poder, recandidatar-se ao cargoFoto: AFP/Getty Images/I. Sanogo

Em entrevista à DW África esta semana, Eugénio Almeida, investigador do Centro de Estudos Internacionais do Instituto Universitário de Lisboa, disse que a situação no Burkina Faso pode ter alguma influência noutros países, mas falar num efeito de contágio com caraterísticas de "Primavera Árabe" já seria um "exagero".

No caso de Angola, Eugénio Almeida acredita que "haverá jovens, nomeadamente do chamado Movimento Revolucionário, que vão aproveitar o que aconteceu no Burkina Faso para alicerçar as suas manifestações e os seus poderes reivindicativos". O investigador lembra, porém, que o Presidente José Eduardo dos Santos ainda se pode candidatar a um segundo mandato.

À DW África, o ativista angolano Adolfo Campos disse que a queda do Presidente do Burkina Faso, Blaise Compaoré, é certamente "uma lição muito grande".

O fator surpresa

Na página da DW no Facebook, Marcos Lopes diz que Compaoré "não teve outra escolha". E cita o líder fundador da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA): "Jonas Savimbi disse uma vez que nenhuma arma é capaz de calar a voz de um povo. Estou muito feliz com essa atitude do povo burkinabe. Gostaria que esse exemplo fosse seguido por todos os povos que ainda vivem reféns da ditadura e Angola é um desses".

Ainda antes de Compaoré abdicar do cargo de Presidente após a revolta e antes da União Africana dar duas semanas ao exército Burkina Faso para repor a constitucionalidade no país e instaurar um Governo de transição, já circulavam no Twitter mapas e listas que detalhavam os países africanos onde há líderes há mais de dez e vinte anos no poder.

O jornalista angolano e ativista dos direitos humanos Rafael Marques disse esta semana à agência de notícias France Presse que "cabe à sociedade ajudar [o Presidente angolano] a perceber que eles também o podem retirar do poder através de uma revolta popular se ele não responder ao apelo à mudança e não perceber que já está há demasiado tempo no poder".

"Ninguém contava que os burkinabes se revoltassem". Se os angolanos o fizerem, também ninguém o saberá dizer com antecedência, referiu Marques.

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