Burkina Faso: Governo denuncia tentativa fracassada de golpe
Lusa
28 de setembro de 2023
O Governo de transição do Burkina Faso, instituído após a tomada do poder pelos militares em setembro de 2022, denunciou uma tentativa fracassada de golpe de Estado ocorrida na terça-feira no país.
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"O Governo de transição informa que uma tentativa comprovada de golpe de Estado foi frustrada em 26 de setembro de 2023 pelos serviços de informação e segurança", disse o porta-voz do executivo, Jean Emmanuel Ouédraogo, num comunicado divulgado na noite de quarta-feira.
"Neste momento, agentes e outros atores alegadamente envolvidos nesta tentativa de desestabilização foram detidos e outros estão a ser procurados", acrescentou.
Segundo o porta-voz, este tipo de ações representam um "impedimento" para o povo do Burkina Faso alcançar a sua "soberania e a sua libertação total das hordas terroristas que o tentam escravizar", numa referência à violência 'jihadista' que assola o país e a região do Sahel.
O comunicado alertou ainda a população contra os rumores divulgados nas redes sociais sobre um possível motim e garantiu que "as investigações em curso permitirão revelar os instigadores" da tentativa de golpe.
Burkina Faso: Celebrações pro-junta nas ruas de Ouagadougou
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Quatro militares detidos
Mais tarde, a Procuradoria Militar de Ouagadougou, a capital do país, confirmou que quatro soldados foram detidos e dois ainda estavam desaparecidos.
As autoridades revelaram esta informação um dia depois de proibirem a distribuição no país da revista francesa Jeune Afrique, devido a publicação de um artigo que afirmava que as tensões e o descontentamento estão a crescer no Exército.
"Estas declarações lançadas deliberadamente sem qualquer prova têm como único objetivo desacreditar as Forças Armadas nacionais e todas as forças de combate que lutam arduamente pela soberania e dignidade do nosso povo", afirmou Ouédraogo.
O Burkina Faso sofreu dois golpes de Estado no ano passado: um em 24 de janeiro liderado pelo tenente-coronel Paul-Henri Sandaogo Damiba, e outro em 30 de setembro, liderado pelo capitão Ibrahim Traoré, atual chefe de Estado.
Estes acontecimentos ocorrem após uma série de golpes de Estado que ocorreram nos últimos anos na região ocidental e central de África, sendo os mais recentes no Níger, em 26 de julho, e no Gabão, em 30 de agosto.
Golpes de Estado em África: Um mal endémico
Em menos de um ano, o continente africano viveu oito golpes e tentativas de golpe de Estado. A maior parte aconteceu na África Ocidental, região do continente mais fértil para as intentonas. Não há fator surpresa.
Foto: Radio Television Guineenne/AP Photo/picture alliance
Níger: Tentativa de golpe fracassada
A tentativa de golpe de Estado aconteceu a 31 de março de 2021, dois dias antes da tomada de posse do Presidente Mohamed Bazoum. Na capital, Niamey, foram detidos alguns membros do Exército por detrás da tentativa. O suposto líder do golpe é um oficial da Força Aérea encarregado da segurança na base aérea de Niamey. O Níger já sofreu 4 golpes de Estado: o último, em 2010, derrubou Mamadou Tandja.
Foto: Bernd von Jutrczenka/dpa/picture alliance
Chade: Uma sucessão com sabor a golpe de Estado
Pouco depois do marechal Idriss Déby ter vencido as presidenciais, morreu em combate contra rebeldes. A 21 de abril de 2021, o seu filho, o general Mahamat Déby, assumiu a liderança do país, sem eleições, nomeando 15 generais para o Conselho Militar de Transição, entre eles familiares seus. Idriss governou o Chade por mais de 30 anos com mão de ferro e o filho dá sinais de lhe seguir os passos.
Foto: Christophe Petit Tesson/REUTERS
Mali: Um golpe entre promessas de eleições
O coronel Assimi Goita foi quem derrubou Bah Ndaw da Presidência do Mali a 24 de maio de 2021. Justifica que assim procedeu porque tentava "sabotar" a transição no país. Mas Goita prometeu eleições para 2022 e falou em "compromisso infalível" das Forças Armadas na defesa da segurança do país. Pouco depois, o Tribunal Constitucional declarou o coronel Presidente da transição.
Foto: Xinhua/imago images
Tunísia: Um golpe de Estado sem recurso a armas
No dia 25 de julho de 2021, Kais Saied demitiu o primeiro ministro, seu rival, Hichem Mechichi, e suspendeu o Parlamento por 30 dias, o que foi considerado golpe de Estado pela oposição, que convocou manifestações em nome da democracia. Saied também levantou a imunidade dos parlamentares e garantiu que as decisões foram tomadas dentro da lei. Nas ruas de Tunes, teve o apoio da população.
Foto: Fethi Belaid/AFP/Getty Images
Guiné-Conacri: Um golpista da confiança do Presidente
O dia 5 de setembro de 2021 começou com tiros em Conacri, uma capital que foi dominada por militares. O Presidente Alpha Condé foi deposto e preso pelo coronel Mamady Doumbouya - que dissolveu a Constituição e as instituições. O golpista traiu Condé, que o tinha em grande estima e confiança. Doumboya tinha demasiado poder e não se entendia com a liderança da ala castrense.
Foto: Radio Television Guineenne via AP/picture alliance
Sudão: Golpe compromete transição governativa
A 25 de outubro de 2021, os golpistas começaram por prender o primeiro ministro, Abdalla Hamdok, e outros altos quadros do Governo para depois fazerem a clássica tomada da principal emissora. No comando estava o general Abdel Fattah al-Burhan, que dissolveu o Conselho Soberano. Desde então, o Sudão vive manifestações violentas, com a polícia a ser acusada de uso excessivo de força.
Foto: Mahmoud Hjaj/AA/picture alliance
Burkina Faso: Golpe de Estado festejado
A turbulência marcou o começo do ano, mas a intentona foi celebrada em grande nas ruas da capital, Ouagadougou. A 23 de janeiro de 2022, o tenente-coronel Paul Damiba liderou o golpe de Estado ao lado do Exército. Ao Presidente Roch Kaboré não restou outra alternativa se não demitir-se. Tal como os golpistas de outros países, comprometem-se a voltar à ordem constitucional após consultas.
Foto: Facebook/Präsidentschaft von Burkina Faso
Guiné-Bissau: Intentona ou "inventona"?
Tiros, alvoroço, mortos e feridos no Palácio do Governo marcaram o dia 1 de fevereiro de 2022 em Bissau. O Presidente Umaro Sissoco Embaló diz que os golpistas queriam matá-lo e ao primeiro ministro, Nuno Nabiam. Houve algumas detenções, mas até hoje não se conhece o líder golpista. No país, acredita-se que tudo não passou de um "teatro" orquestrado pelo próprio Presidente, amplamente contestado.