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ConflitosBurkina Faso

Burkina Faso: Jihadistas impedem o voto de 300 mil eleitores

Kossivi Tiassou | Richard Tiéné | rl | com agências
23 de novembro de 2020

As eleições presidenciais e legislativas no Burkina Faso tiveram lugar num contexto de ameaças de grupos radicais islâmicos. Não houve registo de violência na votação de domingo, mas a oposição denunciou fraudes.

Burkina Faso Wahlen 2020 | Sicherheitskräfte
Foto: Zohra Bensemra/REUTERS

A Comissão Eleitoral do Burkina Faso estima que entre 300 mil e 350 mil pessoas não puderam votar neste domingo (23.11) devido à insegurança. A oposição denunciou a ocorrência de fraudes. Em declarações à imprensa, o líder oposicionista Zéphirin Diabré acusou o partido no poder de comprar cartões de eleitor.

"Vocês próprios, jornalistas, estão a assistir à compra de consciências e de cartões de eleitor nos mercados, nas zonas periféricas. Existem vídeos a circular sobre isto. O Movimento Popular para o Progresso (MPP) pega nos cartões das mulheres seus números de telefone e promete enviar-lhes dinheiro”, disse Diabré.

O candidato à reeleição Roch Marc Christian Kaboré - que é favorito para vencer o pleito - reagiu às acusações de fraude, convocando a população a participar. "É importante que cada burkinabé, independentemente da sua filiação, vá às urnas e escolha aquele que irá liderar o país amanhã. É tudo o que pedimos. As polémicas ficam para outro dia. Hoje votamos”, disse.

Para além destas acusações, a oposição garante ainda que o Governo mandou encerrar várias assembleias de voto onde a oposição era forte. O Presidente da Comissão Eleitoral, Newton Ahmed Barry, rejeitou estas alegações.

Presidente Kaboré: "Hoje votamos"Foto: Issouf Sanogo/AFP/Getty Images

"Eleições mais abertas"

Cerca de 6,5 milhões de eleitores foram chamados às urnas e os resultados, que deveriam ser compilados no domingo à noite, deverão ser divulgados nos próximos dias. Em entrevista à DW, o politólogo Kassem Salam Sourwèma diz que "estas são as eleições mais abertas o país já viu".

Os primeiros resultados das eleições devem ser tornados públicos ao longo do dia desta segunda-feira, comuna por comuna. Nas eleições deste ano, pela primeira vez, os residentes do Burkina Faso que vivem no estrangeiro puderam também votar. Lydia Zanga, porta-voz dos observadores da sociedade civil, faz um balanço positivo do escrutínio."Notámos algumas dificuldades iniciais, sabemos de alguns gabinetes eleitorais no leste que não abriram, mas no geral correu bem".

O atual Presidente enfrenta 12 adversários – incluindo Zéphirin Diabré, líder da oposição, e Eddie Komboigo, candidato do partido do ex-presidente Blaise Compaoré, cujo regime caiu há seis anos e encontra uma crescente nostalgia.

Os adversários de Kaboré anunciaram que se uniriam para a segunda volta, um cenário que nunca tinha acontecido no Burkina Faso. Sourwèma, porém, não exclui uma vitória do Presidente cessante na primeira volta "mesmo que a probabilidade não seja tão alta como diz o partido no poder".

Enquanto muitos fizeram filas em Ouagadougou, falta de segurança impediu que muitos votassemFoto: Katrin Gänsler/DW

Voto sob ameaça

Em áreas afetadas por jihadistas, as autoridades afirmaram que tinham sido destacadas forças de segurança para garantir as sondagens, mas não foram fornecidos números ou detalhes.

"Indivíduos proibiram as pessoas de participar na votação", disse o presidente da Comissão Eleitoral Newton Ahmed Barry na televisão nacional no domingo à noite. Eles "disseram às pessoas que quem molhar o seu dedo em tinta indelével pode dizer adeus ao seu dedo".

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No início de novembro, o Tribunal Constitucional decidiu que as eleições não podiam ser realizadas em 17,7% do país devido à falta de presença suficiente do Estado, da administração e da segurança. Em algumas partes do norte, não houve eleições, "e isto está longe de ser a prioridade das pessoas que estão a tentar evitar ser mortas por um lado ou pelo outro do conflito", disse à AFP um perito em questões de segurança na região de Dori.

País da região do Sahel, o Burkina Faso vive os momentos mais difíceis desde a independência em 1960, afundando-se durante os últimos cinco anos numa espiral de violência jihadista e intercomunal, associada a repressão frequentemente violenta por parte das forças de segurança.

Os ataques de grupos jihadistas - alguns afiliados à Al-Qaeda, outros à organização estatal islâmica - deixaram pelo menos 1,2 mil mortos e expulsaram um milhão de pessoas das suas casas, que se estão a reunir nas grandes cidades.

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