Este sábado (12.10), uma multidão de cerca de mil pessoas marchou na capital Ouagadougou, depois que pelo menos 15 pessoas morreram em ataque a mesquita no norte do Burkina Faso.
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Uma multidão de cerca de mil pessoas marchou na capital Ouagadougou "para denunciar o terrorismo e a presença de bases militares estrangeiras em África", este sábado.
"O terrorismo tornou-se agora um pretexto ideal para instalar bases militares estrangeiras em nosso país", disse Gabin Korbeogo, um dos co-organizadores da marcha.
"Os exércitos francês, americano, canadense, alemão e outros já pisaram em nossa sub-região, a dizer que querem combater o terrorismo. Mas, apesar dessa presença maciça, os grupos terroristas estão a se fortalecer," criticou.
Ataque à mesquita
O ataque à Grande Mesquita na cidade de Salmossi, na noite de sexta-feira (11.10), que deixou pelo menos 15 mortos e levou muitos moradores a fugir da localidade, ressalta as dificuldades enfrentadas pelo país em sua batalha contra os jihadistas.
Uma fonte disse que 13 pessoas morreram no local e três sucumbiram aos ferimentos. Dois dos feridos estão em estado crítico.
"Desde esta manhã, as pessoas começaram a fugir da área", disse um morador da cidade vizinha de Gorom-Gorom.
Ele disse que houve um "clima de pânico, apesar dos reforços militares" que foram implantados após o ataque mortal.
Embora atingidos pela violência jihadista, muitos burquinenses se opõem à presença de tropas estrangeiras em seu território, notadamente da França.
Situação de insegurança
Até 2015, o Burkina Faso foi amplamente poupado à violência que atingiu o Mali e depois o Níger, seus vizinhos ao norte.
Mas os jihadistas - alguns ligados à Al-Qaeda, outros ao chamado Estado Islâmico - começaram a infiltrar-se no norte, depois no leste, e depois puseram em perigo as fronteiras sul e oeste do país.
Combinando táticas de atropelamento e fuga da guerrilha com minas e atentados suicidas, os insurgentes já mataram quase 600 pessoas, de acordo com uma compilação da agência noticiosa francesa AFP.
Os grupos da sociedade civil estimam o número em mais de 1.000, e os ataques não ocorrem quase diariamente.
A França tem uma força de 200 homens no Burkina Faso, mas também intervém frequentemente no âmbito da sua operação regional Barkhane.
Quase 500 mil pessoas fugiram de suas casas por causa da violência, segundo a agência de refugiados da ONU, que alertou para uma crise humanitária que afeta 1,5 milhão de pessoas.
O que é o Estado Islâmico?
As origens do grupo terrorista remontam à invasão americana do Iraque, em 2003. Nasceu como oposição sunita ao domínio xiita. Inicialmente chamou-se "Estado Islâmico do Iraque e do Levante" e virou ameaça internacional.
Foto: picture-alliance/AP Photo
A origem do "Estado Islâmico"
A trajetória do "Estado Islâmico" (EI) começou em 2003, com o derrube do ditador iraquiano Saddam Hussein pelos EUA. O grupo surgiu da união de diversas organizações extremistas sunitas e grupos leais ao antigo regime, que lutavam contra a ocupação americana e contra o domínio dos xiitas no Governo do Iraque.
Foto: picture-alliance/AP Photo
Braço da Al-Qaeda
A insurreição tornou-se cada vez mais radical, à medida que fundamentalistas islâmicos liderados pelo jordaniano Abu Musab al Zarqawi (foto), fundador da Al-Qaeda no Iraque (AQI), infiltraram as suas alas. Os militantes liderados por Zarqawi eram tão cruéis que tribos sunitas no Iraque ocidental se aliaram às forças americanas, no que ficou conhecido como "Despertar Sunita".
Foto: picture-alliance/dpa
Aparente contenção
Em junho de 2006, as Forças Armadas dos EUA mataram Zarqawi numa ofensiva aérea. Foi então sucedido por Abu Ayyub al-Masri e Abu Abdullah ar-Raschid al-Baghdadi (ambos mortos em 2010). A Al-Qaeda no Iraque (AQI) mudou de nome para Estado Islâmico do Iraque (EII). Nos anos seguintes, Washington intensificou a sua presença militar no país.
Foto: picture-alliance/Photoshot
Regresso dos jihadistas
Após a retirada das tropas dos EUA do Iraque, efetuada entre junho de 2009 e dezembro de 2011, os jihadistas começaram a reagrupar-se, tendo como novo líder Abu Bakr al-Bagdadi, que teria convivido e atuado com Zarqawi no Afeganistão. Ele rebatizou o grupo militante sunita como Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL).
Foto: picture alliance/dpa
Ruptura com Al-Qaeda
Em 2011, quando a Síria mergulhou na guerra civil, o Estado Islâmico atravessou a fronteira para participar da luta contra o Presidente Bashar al-Assad. Os jihadistas tentaram uma fusão com a Frente Al Nusrah, outro grupo da Síria associado à Al-Qaeda. Isso provocou uma ruptura entre o EI e a central da Al-Qaeda no Paquistão, pois o líder desta, Ayman al-Zawahiri, rejeitou a manobra.
Foto: dapd
Ascensão do "Estado Islâmico"
Apesar do desentendimento com a Al-Qaeda, o EI fez conquistas significativas na Síria, combatendo tanto as forças de Assad quanto rebeldes moderados. Após estabelecer uma base militar no nordeste do país, lançou uma ofensiva contra o Iraque, tomando a sua segunda maior cidade, Mossul, a 10 de junho de 2014. Nesse momento o grupo já tinha sido novamente rebatizado, desta vez como "Estado Islâmico".
Foto: picture alliance / AP Photo
Importância de Mossul
A tomada da metrópole iraquiana de Mossul foi significativa, tanto do ponto de vista estratégico quanto económico. Ela é um importante ponto de convergência dos caminhos para a Síria. Com a tomada de Mossul, o EI também conquistou 429 milhões de dólares na filial local do Banco Central do Iraque. Assim sendo, o Daesh - como é conhecido em árabe - tornou-se um dos grupos terroristas mais ricos.
Foto: Getty Images
O califado do EI
Além das áreas atingidas pela guerra civil na Síria, o EI avançou continuamente pelo norte e oeste iraquianos, enquanto as forças federais de segurança entravam em colapso. No fim de junho de 2014, a organização declarou um califado, um estado islâmico que atravessa a fronteira sírio-iraquiana e faz lembrar os califados muçulmanos históricos. Abu Bakr al-Bagdadi foi apresentado como "califa".
Foto: Reuters
As leis do "califado"
Abu Bakr al-Bagdadi impôs uma forma implacável da sharia, a lei tradicional islâmica, com penas que incluem mutilações e execuções públicas. Membros de minorias religiosas, como cristãos e yazidis, deixaram a região do "califado". Muitos foram executados, mulheres violadas e vendidas como escravas a jihadistas do EI. Os xiitas também têm sido alvo de perseguição.
Foto: Reuters
Guerra contra o património histórico
O EI já destruiu tesouros arqueológicos milenares em cidades como Palmira (foto), na Síria, ou Mossul, Hatra e Nínive, no Iraque. O EI diz que as esculturas antigas entram em contradição com a sua interpretação radical dos princípios do Islão. Especialistas afirmam, porém, que o grupo vende ilegalmente estátuas pequenas no mercado internacional, enquanto as maiores são destruídas.
Foto: Fotolia/bbbar
Ameaça terrorista
Nas suas ofensivas armadas, o grupo tem saqueado centenas de milhões de dólares em dinheiro e ocupado diversos campos petrolíferos no Iraque e na Síria. Os seus militantes também se apoderaram de armamento militar de fabrico americano das forças governamentais iraquianas, obtendo, assim, poder de fogo adicional. Seguidores da ideologia do EI perpetraram vários atentados terroristas na Europa.