Burkina Faso pede saída do embaixador francês
4 de janeiro de 2023As autoridades do Burkina Faso pediram a saída do embaixador francês Luc Hallande do país, numa altura em que as tensões bilaterais crescem após acusações de ligação do país africano ao grupo russo Wagner. O Ministério dos Negócios Estrangeiros francês confirmou na terça-feira (03.01), que recebeu em dezembro uma carta das autoridades de transição do Burkina Faso pedindo que o diplomata seja retirado do país. O estado burquinabê justificou o pedido por perda de confiança.
Histórico de expulsões
A Junta Militar tem tomado decisões radicais contra a comunidade internacional e contra os países que questionam a legitimidade das suas decisões. As autoridades tinham expulsado do país dois cidadãos franceses, detidos por alegados atos de espionagem. Em dezembro último, o Ministério dos Negócios Estrangeiros expulsou a coordenadora das Nações Unidas para o país, Barbara Manzi. Segundo a ministra dos Negócios Estrangeiros , Olivia Rouamba, a expulsão justifica-se em particular pelo facto de Manzi ter decidido "unilateralmente" retirar o pessoal não essencial da ONU em Ouagadougou, capital do país:
"Soubemos que a Sra. Manzi estava a prever o caos no Burkina Faso nos próximos meses. Não sabemos em que base ela pode fazer isso. Estão a ser feitos grandes esforços ao nível da segurança e a ONU deve formar uma estrutura de apoio, mas não uma organização que advoga o impasse do país".
EUA se posiciona contra o Burkina Faso
Em resposta a esta medida, Joe Biden formalizou a retirada do Burkina Faso do programa de benefícios comerciais contemplado. A decisão do Presidente dos Estados Unidos entrou em vigor neste mês de janeiro. Como argumenta Washington, o Burkina Faso não cumpre "a proteção do Estado de direito " e o "pluralismo político".
Segundo a chefe da diplomacia burquinabê, Olivia Rouamba, a representante das Nações Unidas mantinha encontros com os terroristas que protagonizam ataques armados desde abril de 2015.
"A Ministra Delegada e eu recebemos a Barbara em audiência e ela não escondeu que tem mantido contato com os líderes terroristas no Burkina e há muitas provas de que ela vai a Djibo, tal como ela alega, enquanto as nossas forças de defesa e segurança não podem fazer este tipo de viagem".
Além do pedido de retirada de pessoal não essencial, Manzi é também acusada de uma "tentativa de influenciar negativamente" e de "interferir nos assuntos políticos do Burkina", de acordo com Olivia Rouamba:
"E a madame Barbara disse-nos que passou por países como o Iraque, Afeganistão, a Síria e o Sudão. E disse-me que onde quer que fosse nestes países, qualquer decisão ao mais alto nível não poderia ser tomada sem a sua autorização. Era isto que ela queria fazer no Burkina Faso. É o que rejeitamos."
Relações diplomáticas em decadência
Em dezembro, o Burkina Faso retirou o seu embaixador no Gana como forma de protesto - após o Presidente ganês, Nana Akufo-Addo, ter afirmado que o país tem um acordo com o grupo paramilitar russo Wagner.
Desde 2015, o país tem lutado para enfrentar ataques de grupos rebeldes ligados à Al-Qaida e ao grupo extremista Estado Islâmico que já mataram milhares e forçaram cerca de dois milhões de pessoas a fugir das suas casas. Os fundamentalistas islâmicos controlam atualmente cerca de 40% do território de Burkina Faso.
O país sofreu dois golpes de Estado em 2022: em 24 de janeiro, liderado pelo tenente-coronel Paul-Henri Sandaogo Damiba, e outro em 30 de setembro, liderado pelo capitão Ibrahim Traoré, atual chefe de Estado do país.