Registam-se longas esperas para se conseguir um passaporte na província moçambicana de Inhambane. Alguns dizem estar a ser enganados por pessoas que se apresentam como "funcionários dos serviços de migração".
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Tratar de um passaporte não é tarefa fácil nos serviços provinciais da migração em Inhambane, onde o tempo de espera pode levar várias semanas e até meses, enquanto em condições normais o prazo estipulado é de 45 dias.
Margarida Samuel entregou os documentos para a obtenção de um passaporte em setembro de 2016, mas só o recebeu no passado dia 3 de janeiro de 2017: "Sim demora mesmo, só agora é que consegui o meu passaporte. Há outros que ainda não conseguiram, embora eu tenha tratado [do passaporte] na mesma altura que eles. Foram primeiros a entregar os documentos mas até hoje ainda não receberam os respetivos passaportes.”
Muitas pessoas, e em particular jovens, têm-se deslocado à África do Sul em busca de melhores condições de vida. Manuel José precisa viajar para aquele país vizinho acompanhado dos seus 3 irmãos, mas sem passaporte nada pode fazer. José dirigiu-se aos serviços de migração: "Vínhamos consultar o preço do passaporte e tempo de espera. Então disseram-me que custa 2.450 meticais (25 euros) e leva 45 dias, sem urgência. Ali também me informaram que pode acontecer que o passaporte não saia dentro desse período, estendendo-se o prazo para dois meses ou mais.”
Denúncias de burla
As pessoas dizem estar a ser burladas por pessoas sem escrúpulos, que ficam do lado de fora do edifício da migração e apresentam-se como funcionários daquela instituição. Recebem dinheiro para ajudar na obtenção do passaporte.
Mas muitos acabam por ficar sem o prometido documento, como foi o caso de Vasco Nhapossa. Este residente em Inhambane conta que, em outrubro, entregou o equivalente a 40 euros a um desses "facilitadores", cuja identificação não foi possível apurar. Vasco Nhapossa promete levar o caso à esquadra da polícia: "Pagamos 3.200 meticais, não sei se aqui dentro ele pagou este valor. O "facilitador" disse que conhecia uma pessoa que trabalha aqui dentro [na migração] que facilita a obtenção dos documentos. Mas como a pessoa fugiu não temos como [resolver a situação]." Revoltado, Nhapossa promete: "Vamos chegar no comando da polícia e apresentar uma queixa”.
Algumas pessoas já têm o passaporte caducado e como a demora para a renovação é longa optam por simplesmente não atualizar o documento, como é o caso de Ernesto Victorino, comerciante na Africa do Sul há 10 anos.
Ele diz: "Se eu tratar da renovação do passaporte aqui vai levar muito tempo e enquanto isso o meu negócio lá [Africa do Sul] vai enfraquecer. Antigamente não levava muito tempo, mas agora não está fácil. Antes eram entre duas a três semanas e hoje há pessoas que às vezes nem chegam a ter [o passaporte].”
Durante uma semana, a DW África tentou, sem sucesso, ouvir a direção provincial dos serviços da migração, que alegou ausência na instituição da diretora. A polícia também remeteu quaisquer declarações sobre o caso aos serviços de migração.
06.01.17 Passaportes Inhambane - MP3-Mono
Transformar lixo em artesanato
A organização moçambicana ALMA produz artesanato do lixo que recolhe no Tofo, Moçambique. Por exemplo, de jornais usados fabricam-se bases para tachos. Os artigos são vendidos em Moçambique e no estrangeiro.
Foto: DW/J. Beck
Esta base para tachos foi feita de jornais
A organização moçambicana ALMA - Associação de Limpeza e Meio Ambiente produz uma variada gama de produtos de artesanato do lixo que recolhe no Tofo, uma aldeia na costa da província de Inhambane, no sul de Moçambique, que é famosa pelas suas praias e pelos locais de mergulho. Por exemplo, de jornais usados fabricam-se bases para tachos. Os artigos são vendidos em Moçambique e no estrangeiro.
Foto: DW/J. Beck
ONG faz a recolha do lixo
Com o apoio da Câmara Municipal de Inhambane (CMI), a ALMA é responsável pela recolha do lixo no bairro Josina Machel, onde também se situa a localidade do Tofo. A aldeia é um centro do turismo ecológico em Moçambique. Muitos turistas procuram esta parte da costa do Oceano Índico para mergulhar com raias jamanta e tubarões baleia que são encontrados com frequência.
Foto: DW/J. Beck
As praias limpas do Tofo
Para além da recolha normal de lixo, que é feita duas vezes por semana, os membros da ALMA limpam as ruas e as praia. "Uma vez por mês fazemos uma limpeza geral", conta Gito Nhanombe, o coordenador da ALMA. "Sem a ALMA o Tofo não estaria tão limpo", diz Nhanombe. A limpeza torna o Tofo mais atrativo para turistas. "E menos lixo na praia, significa também menos lixo no mar", diz o coordenador.
Foto: DW/Johannes Beck
Evitar imagens como esta
Com a limpeza regular das ruas e praias do Tofo, a ALMA quer evitar imagens como esta (foto da Indonésia). O lixo plástico no mar é perigoso: pode asfixiar tartarugas que confundem sacos plásticos com medusas e tentam comê-los. Mas o plástico nos oceanos também ameaça a saúde dos homens, pois após a sua decomposição entra na cadeia alimentar através do consumo de peixes que comeram o granulado.
Foto: picture alliance/WILDLIFE
Separação de lixo
Em alguns lugares, como aqui em frente da esquadra local da Polícia da República de Moçambique no Tofo, existem vários contentores de lixo. Cada um serve para diferentes tipos de lixo. Neste caso para separar plástico do lixo comum para facilitar a reciclagem. Um sistema que já é amplamente usado em países como a Alemanha.
Foto: DW/J. Beck
Triagem do que pode ser reutilizado
Os membros da ALMA separam do lixo tudo o que podem usar para o fabrico de artesanato ou para a reciclagem. Guardam as tampas de garrafas de cerveja e de refrigerantes numa caixa. Guardam também papel, cavilhas de latas e pacotes de bebidas. Neste momento não há recolha de plástico, mas a ALMA espera encontrar um novo comprador para as grandes quantidades de plástico reciclado.
Foto: DW/J. Beck
Tampas como base
As tampas de garrafas são forradas com restos de capulanas, que são fornecidos por um alfaiate de Inhambane. No total, 11 pessoas trabalham nos dois setores de limpeza e artesanato da ALMA: seis mulheres e cinco homens. A venda do artesanato e do material reciclado permite à organização não-governamental criar empregos e pagar salários.
Foto: DW/J. Beck
Bases para tachos
Depois de forrarem as tampas, os artesãos juntam várias destas caricas para criar bases para tachos em formato hexagonal. Um conjunto destas bases custa 250 meticais moçambicanos (equivalente a 6,25 euros) e pode servir para colocar tachos, garrafas e copos na mesa.
Foto: DW/J. Beck
Jornais usados ganham nova vida
Entre os materiais procurados pelos artesãos da ALMA estão os jornais. Se não chegarem muito sujos à ALMA, podem ser processados. O papel dos jornais tem boa textura e, quando é impregnado com cola, pode ser enrolado e transformado em bases. Neste caso, custam 150 meticais (equivalente a 3,75 euros).
Foto: DW/J. Beck
A lixeira da ALMA
Mas mesmo com reciclagem e com o aproveitamento de alguma parte do lixo para artesanato, ainda sobra uma grande parte do lixo recolhido. Este material é depositado numa lixeira a céu aberto no terreno da ALMA junto à estrada principal de acesso ao Tofo. Se houver um comprador para o plástico reciclado, a quantidade de lixo depositado poderá ser reduzida.
Foto: DW/J. Beck
Loja local no Tofo
Os produtos produzidos localmente são vendidos na loja da ALMA. O coordenador da ALMA, o jovem moçambicano Gito Nhanombe (na foto), apresenta os produtos aos interessados e explica os materiais que foram usados. Esta bolsa é feita de pacotes de leite.
Foto: DW/J. Beck
Venda principalmente a turistas
Em vários pontos de Moçambique encontram-se pontos de venda da ALMA. São principalmente turistas os clientes da ALMA, mas alguns moçambicanos também fazem compras. No Restaurante Sul do Tofo (na foto), uma montra junto ao balcão mostra alguns produtos. Também há vendas na Europa através de encomendas. A cooperação alemã GIZ já apresentou trabalhos da ALMA numa exposição em Bona, Alemanha.
Foto: DW/J. Beck
Quem adivinhava que eram anilhas de latas?
À primeira vista, muitas peças da ALMA não fazem pensar em reciclagem de lixo. Estes suportes de copos foram feitos com anilhas de latas de alumínio. Os artesãos moçambicanos uniram-nas com fio de croché, em forma de flor. O artesanato amigo do ambiente cria empregos e contribui para manter uma parte da costa moçambicana limpa.