Burundi: Oposição já rejeita resultados das eleições gerais
mjp | com agências
22 de maio de 2020
Comissão Eleitoral pediu paciência na espera pelos resultados das eleições que marcam o fim da Presidência de Nkurunziza, mas oposição já classifica como "fantasia" parciais que apontam para vitória do partido no poder.
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O líder do principal partido da oposição do Burundi, Agathon Rwasa, rejeitou na quinta-feira (21.05) à noite os resultados parciais respeitantes a 12% das 119 circunscrições, e que apontam para a vitória do candidato do partido no poder. Os resultados parciais foram divulgados ao princípio da noite de quinta-feira pela estação de televisão oficial.
"Rejeito absolutamente estes resultados. São uma fantasia. Não refletem a realidade", disse Agathon Rwasa, líder do Conselho Nacional para a Liberdade (CNL). Rwasa garante que sondagens à boca das urnas na quarta-feira mostravam o CNL na liderança, à frente do CNDD-FDD, partido no poder, e o seu candidato presidencial, Evariste Ndayishimiye.
Na quinta-feira, o presidente da Comissão Eleitoral Nacional Independente, Pierre-Claver Kazihise, apelou aos cidadãos para que "demonstrassem paciência" pela publicação dos resultados parciais das eleições gerais e presidenciais. A proclamação dos resultados deverá acontecer na segunda ou terça-feira, estimou.
As eleições marcam o fim da presidência de Pierre Nkurunziza, cuja candidatura controversa a um terceiro mandato em 2015 lançou o país numa grave crise política, que causou pelo menos 1.200 mortos e mais de 400 mil exilados.
As eleições presidenciais, que contaram com sete candidatos, nomeadamente o candidato do partido no poder CNDD-FDD e considerado o delfim do atual chefe de Estado, general Évariste Ndayishimiye, 52 anos, e o líder da oposição e presidente do Conselho Nacional para a Liberdade (CNL), Agathon Rwasa, 56 anos.
O partido de Rwasa denunciou 220 detenções de militantes e pressões sobre os seus assessores, bem como fraudes, particularmente nas províncias de Rumonge (sudoeste) e Bujumbura Rural (oeste) e apontou o dedo ao CNDD-FDD.
Pierre Nkurikiye, porta-voz do Ministério da Segurança Pública, por seu lado, acusou os membros do CNL de serem responsáveis por "alguns incidentes menores", incluindo "tentativas de fraude". A Comissão Eleitoral ainda não respondeu a nenhuma das acusações de fraude e intimidação no dia das eleições.
Presidentes africanos para sempre
Vários presidentes africanos governam há tanto tempo, que muitos cidadãos não conhecem outro líder do seu país. Teodoro Obiang Nguema é o líder africano há mais tempo no poder: governa a Guiné Equatorial desde 1979.
Foto: picture-alliance/AP Photo/S. Alamba
Guiné Equatorial: Teodoro Obiang Nguema
Teodoro Obiang Nguema Mbasogo é atualmente o líder africano há mais tempo no poder, depois de, em 2017, José Eduardo dos Santos ter deixado o cargo de Presidente de Angola, que ocupava também desde 1979. Neste ano, Obiang chegou ao poder através de um golpe de estado contra o seu tio, Francisco Macías. Nas últimas eleições no país, em 2016, Obiang afirmou que não voltaria a concorrer em 2020.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Lecocq
Camarões: Paul Biya
Com o seu nascimento no ano de 1933, Paul Biya é o Presidente mais idoso do continente africano e apenas ultrapassado em anos no poder pelo líder da vizinha Guiné Equatorial. Biya chegou ao poder em 1982. Em 2008, uma revisão à Constituição retirou os limites aos mandatos. Em 2018, Biya, foi declarado vencedor das eleições. Os Camarões atravessam uma crise com a rebelião na parte anglófona.
Foto: picture-alliance/AA/J.-P. Kepseu
Uganda: Yoweri Museveni
Com mais de 30 anos no poder, Yoweri Museveni é, para uma grande parte dos ugandeses, o único Presidente que conhecem. 75% dos atuais 35 milhões de habitantes nasceram depois de Museveni ter subido ao poder em 1986. Em 2017, foi aprovada a lei que retira o limite de idade (75 anos) para concorrer à Presidência. Assim sendo, Museveni já pode concorrer ao sexto mandado, nas eleições de 2021.
Foto: picture alliance/AP Photo/B. Chol
República do Congo: Denis Sassou Nguesso
Foi também uma alteração à Constituição que permitiu que Denis Sassou Nguesso voltasse a candidatar-se e a vencer as eleições em 2016 na República do Congo (Brazzaville). Já são mais de 30 anos à frente do país, com uma pequena interrupção entre 1992 e 1997. Denis Sassou Nguesso nasceu no ano de 1943.
Foto: picture-alliance/AA/A. Landoulsi
Ruanda: Paul Kagame
Paul Kagame lidera o Ruanda desde 2000. Antes, já teve outros cargos influentes e foi líder da Frente Patrifótica Ruandesa (FPR), a força que venceu a guerra civil no Ruanda. Em 2017, Kagame ganhou as eleições com 98,8% dos votos. Assim poderá continuar no poder até, pelo menos, 2034. Assim ditou a consulta popular realizada em 2015 que acabou com o limite de dois mandatos presidenciais.
Foto: Imago/Zumapress/M. Brochstein
Burundi: Pierre Nkurunziza
Em 2005, Pierre Nkurunziza chegou ao poder no Burundi. Em 2015, o terceiro mandato de Nkurunziza gerou uma onda de protestos entre a população que, de acordo com o Tribunal Penal Internacional, terá causado cerca de 1.200 mortos e 400.000 refugiados. Em maio de 2018, teve lugar um referendo para alterar a Constituição, que permitiu ao Presidente continuar no cargo até 2034.
Foto: Reuters/E. Ngendakumana
Gabão: Ali Bongo Ondimba
Ali Bongo ainda está longe de quebrar o recorde do pai, que esteve 41 anos no poder, mas já vai no terceiro mandato, ganho em 2017, no meio de muita contestação. Em 2018, a Constituição do Gabão foi revista para acabar com o limite de mandatos. A nova versão da Constituição também aumentou os poderes do Presidente para tomar decisões unilateralmente.
Foto: Reuters/Reuters TV
Togo: Faure Gnassingbé
Em 2005, Faure Gnassingbé substituiu o pai, que liderou o país durante 38 anos. Ao contrário de outros países, o Togo não impunha um limite aos mandatos. Em 2017, após protestos da população contra a "dinastia" Gnassingbé, foi aprovada a lei que impõe um limite de mandatos. No entanto, a lei não tem efeitos retroativos, pelo que o ainda Presidente poderá disputar as próximas eleições, em 2020.
Foto: DW/N. Tadegnon
Argélia: Abdelaziz Bouteflika
Abdelaziz Bouteflika esteve 20 anos no poder na Argélia (1999-2019). Em 2013, sofreu um acidente vascular cerebral (AVC), mas nem a idade, nem o estado de saúde travaram o Presidente de anunciar que iria procurar um quinto mandato em 2019. Em abril de 2019, face a protestos públicos, anunciou a sua renúncia ao cargo. Nesta altura, já teve 82 anos de idade.