Câmara de Bissau implementa regras para "organizar a cidade"
Iancuba Dansó (Bissau)
30 de janeiro de 2020
O Comando de Polícia adotou "tolerância zero" e está a fiscalizar a cidade para que regras sejam cumpridas e a organização seja respeitada pela população. Medidas entraram em vigor esta semana.
Viaturas estacionadas em locais proibidos também motivaram as medidasFoto: DW/I. Danso
Publicidade
A Câmara Municipal de Bissau quer converter a cidade num espaço mais organizado. Por isso, anunciou um conjunto de medidas para pôr ordem nas ruas. As medidas entraram em vigor esta semana.
Quem não cumprir com as novas normas arrisca-se a pagar uma multa num montante ainda por definir.
A iniciativa pretende acabar com uma série de práticas: o estacionamento por tempo indeterminado de camiões de grande porte nas vias públicas, a exposição pública de urnas funerárias ou as oficinas ao ar livre, em várias artérias da capital.
O diretor do Comando da Polícia Municipal, Zeca Cá, revelou que a ideia é impor uma política de "tolerância zero" para casos de desrespeito às normas que, segundo ele, visam repor o código da postura na capital guineense.
"O desejo da câmara é entregar a cidade, pôr a cidade à disposição dos seus utentes e munícipes, para que possam circular livremente nela. As práticas que não são admitidas no código da postura devem ser banidas. Por isso, não vamos tolerar ninguém que desrespeite as normas e as medidas anunciadas", disse o diretor.
Zeca Cá destacou as normas municipais e enumerou algumas práticas existentes nas vias públicas que, segundo ele, devem acabar para repor a ordem na cidade.
"Temos oficinas de trabalhos diversos, oficinas mecânicas, de carpintaria... Temos ainda a proliferação das lavagens de viaturas e abandono dos veículos nas vias públicas, desrespeitando as normas. Isso tem de acabar".
Zeca Cá é diretor do Comando da Polícia MunicipalFoto: DW/I. Danso
Repor a ordem
O código de postura remonta ao tempo colonial. O país registou medidas semelhantes das autoridades anteriormente, mas a execução e os efeitos ainda são questionados pelos cidadãos.
Especificamente sobre a nova medida da Câmara Municipal, pessoas ouvidas pela DW África parecem aprovar a iniciativa.
"Podemos dizer que é uma boa decisão, mas não vai ter nenhum efeito. Porque, no passado, decisões deste tipo tinham sido tomadas, mas não teve nenhum impacto", disse Malam Dabó, moradora de Bissau.
Câmara de Bissau implementa regras para organizar a cidade
This browser does not support the audio element.
Para Piter Martins, ativista cívico, é preciso reforçar os meios para que as medidas sejam cumpridas.
"Se eles [agentes do Estado] realmente querem implementar e aplicar essas decisões, eu acho que devem pôr inspetores e pessoas nas ruas para ajudar a controlar. Também devem criar um meio punitivo para quem desobedecer", reivindica o ativista.
Para a professora, Magda Francisca Correia, a medida pecou por tardia. "Esta decisão foi tomada muito tarde, porque o país e a cidade de Bissau precisam. Há muita confusão nas avenidas, contra o que deve-se ter mão dura para organizar a cidade".
Ser mulher na Guiné-Bissau significa vida dura
A maioria das mulheres guineenses tem uma vida difícil. Têm de percorrer dezenas de quilómetros para ir buscar lenha. Muitas morrem ainda jovens. A taxa guineense de mortalidade materna é uma das mais altas do mundo.
Foto: DW/B. Darame
Primeira a acordar, última a ir dormir
No campo, uma mulher trabalha a dobrar. Costuma acordar antes dos restantes membros da família e é a última a deitar-se no final do dia. São as mulheres que têm de caminhar até à mata para procurar lenha e água, às vezes em zonas de difícil acesso, a vários quilómetros da aldeia, como nesta fotografia na vila de Quinhamel, na região de Biombo, no norte da Guiné-Bissau.
Foto: DW/B. Darame
Vender para sustentar a família
Com um pano estendido no chão, as vendedoras vão expondo os seus legumes, malaguetas verdes, pepinos, cenouras, alfaces. São cultivados em quintais ou em pequenos campos. "Vender para sustentar a família" é o lema das mulheres guineenses. Mais de metade vende em feiras improvisadas, como aqui no Mercado de Bandim, o maior mercado de céu aberto da cidade de Bissau.
Foto: DW/B. Darame
Economia dominada por homens
À beira das estradas, as mulheres sentam-se em bancos e mesas de madeira e vendem laranjas, mangas, bananas e outros frutos - como aqui em Bissack, bairro nos arredores de Bissau. As vendedoras têm uma receita que ronda os 10 euros diários. Em média, uma guineense consegue ganhar 907 dólares por ano, bastante menos que os homens que conseguem em média 1.275 dólares.
Foto: DW/B. Darame
Recolher areia para sobreviver
Tia Nhalá não sabe que idade tem, mas sabe que todos os dias deve acordar cedo, às 05h00, para recolher areia no bairro de Cuntum, em Bissau. Sem qualquer proteção no rosto, sem luvas e pés descalços, Nhalá, que aparenta ter 67 anos, trabalha duramente durante largas horas. Recolhe areia que depois vende a pessoas que a usam em obras de construção civil.
Foto: DW/B. Darame
Venda ambulante em condições perigosas
No Bairro de Belém, em Bissau, meninas deambulam de porta em porta para vender frutas. Organizações da sociedade civil denunciaram já várias vezes que as vendedoras ambulantes correm riscos, como o de serem violadas sexualmente, pois estão muito expostas e vulneráveis. Também há denúncias de que algumas mulheres são forçadas a fazer esse trabalho.
Foto: DW/B. Darame
Vender peixe é um bom negócio
As vendedoras de peixe geralmente possuem arcas velhas para a conservação do pescado. Colocam-nas nos portos - como aqui na Ilha de Bubaque (Bijagós) - para servir de local de armazenamento quando receberem peixe fresco dos pescadores. Nos últimos anos, a venda de peixe tornou-se num dos negócios mais rentáveis para as mulheres guineenses.
Foto: DW/B. Darame
Um dos piores países para ser mãe
As condições precárias nas zonas rurais da Guiné-Bissau têm reflexos nas estatísticas: em 126 partos morre uma mulher, segundo dados das Nações Unidas. Em comparação, no Japão, em 20.000 partos morre uma mulher. A taxa de mortalidade materna na Guiné-Bissau é uma das mais altas do mundo. Ainda assim, não existe no país uma estratégia política dirigida à mulher no meio rural.
Foto: DW/B. Darame
País difícil para as crianças
Cada mulher guineense tem em média cinco filhos. O país tem uma das taxas de fecundidade mais altas do mundo. Mas muitas crianças não chegam a celebrar o seu quinto aniversário. Segundo dados das Nações Unidas, 129 de 1.000 crianças morrem até aos cinco anos de idade, muitas durante no parto, o que torna a Guiné-Bissau um dos piores países do mundo para se nascer.
Foto: DW/B. Darame
Trabalhos domésticos no feminino
Em Mansoa, região de Oio, norte da Guiné-Bissau, as casas de adobe agrupadas debaixo de enormes árvores desenham intricados caminhos onde secam redes de pesca, peles de antílopes e roupas rasgadas de criança. A comida prepara-se num fogão improvisado a lenha, em frente da casa. Trabalhos domésticos como cozinhar, cuidar das crianças ou limpar cabem tradicionalmente às mulheres.
Foto: DW/B. Darame
Carregar à cabeça é a única solução
Nas zonas mais recônditas da Guiné-Bissau, como na aldeia de Suru, região de Biombo, a cerca de 20 quilómetros de Bissau, não há uma rede de estradas que facilite o transporte das mercadorias. Não há carros que façam as ligações entre as aldeias. Carregar à cabeça, por vezes mais de cinco quilos, é a única solução para que essas mulheres possam fazer chegar os produtos ao destino.
Foto: DW/B. Darame
Lenha e água a quilómetros de distância
Nas mais de 80 ilhas e ilhéus completamente isolados e sem grande presença do Estado guineense, as populações vivem no regime do "salva-se quem poder". As mulheres percorrem dezenas de quilómetros para ir buscar lenha e água potável. Em muitos casos - como aqui na Ilha de Bubaque (Bijagós) - atravessam rios caminhando, com os pés descalços, sem roupas adequadas e carregadas.
Foto: DW/B. Darame
Ultrapassando rios e braços de mar
Devido à falta de barcos nas aldeias insulares do arquipélago dos Bijagós, o fornecimento e o transporte de bens é extremamente difícil. É recorrente ver mulheres atravessando rios ou braços de mar bastante profundos. Estes caminhos para procurar lenha e água doce são bastante perigosos para quem não sabe nadar.
Foto: DW/B. Darame
Desigualdade começa na educação
A maioria das mulheres guineenses vive em situação de extrema pobreza. Em médias, as mulheres frequentaram a escola apenas 1,4 anos, menos de metade do que os homens guineenses, que têm em média 3,4 anos de escolaridade, segundo o Relatório de Desenvolvimento Humano das Nações Unidas. Só investindo na educação e na saúde será possível melhorar a situação das mulheres da Guiné-Bissau.