O surto de cólera na área mais afetada pelo ciclone Idai, no centro de Moçambique, começa a diminuir. Mas ainda há cerca de 70 mil pessoas deslocadas no país.
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O surto de cólera na área mais afetada pelo ciclone Idai, no centro de Moçambique, começa a diminuir. Mas ainda há cerca de 70 mil pessoas deslocadas no país, informou neste sábado (20.4) a Organização das Nações Unidas (ONU).
Apesar dos ainda existentes casos diários de cólera - até 18 de abril, eram 6.258 deles - o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) informou que o surto já começa a recuar graças à campanha de vacinação contra a doença.
"O número de novos casos de cólera relatados todos os dias começa a cair", veiculou o OCHA num comunicado.
Deslocados
Mais de um mês após a passagem do ciclone, o número de pessoas deslocadas também está a diminuir.
No entanto, o OCHA observa que, apenas em Moçambique, ainda existem cerca de 70 mil pessoas que não podem voltar para suas casas, e quase 2 milhões que precisam de alguma ajuda.
Nas áreas devastadas, a malária também é um problema que se está a combater. Centenas de novas infecções são relatadas a cada dia, somando um total de 12.297 casos desde a última contagem.
O ciclone Idai chegou a 14 de março na cidade costeira moçambicana da Beira, deslocando-se um dia depois para o Zimbabué. Também causou estragos no Malawi, na forma de uma tempestade tropical.
Considerado o pior desastre natural da história recente sudeste da África, o ciclone causou mais de mil mortos no total, deixando 603 vítimas em Moçambique, 344 no Zimbabué e 56 no Malawi.
Moçambique: Vítimas de ciclone tentam o regresso à normalidade após Idai
Na província de Tete as famílias vítimas do ciclone Idai, aos poucos, vão acordando do pesadelo para encarar a nova realidade. Lutam pela sobrevivência e tentam ao mesmo tempo recuperar os seus pertences.
Foto: DW/A. Zacarias
Rasto de destruição
Estima-se que mais de cinco dezenas de casas ficaram completamente destruídas pelas inundações dos rios Rovúbwe e Zambeze, na cidade de Tete. Foram mais 9 mil pessoas afetadas pelas cheias em toda província de Tete. Muitas das quais, foram desalojadas das suas casas.
Foto: DW/A. Zacarias
Ainda há casas inundadas
Há também muita água estagnada no interior de algumas casas. Muitos bens perdidos. Contabilizam-se também muitos prejuízos materiais.
Foto: DW/A. Zacarias
Limpeza das famílias
Várias famílias estão a regressar aos poucos às zonas de origem, mesmo que sejam consideradas de risco. No Bairro Chingodzi, unidade 03 de Fevereiro as poucas casas que resistiram à fúria das águas do rio Rovúbwe, ainda continuam cheias de lama. Os proprietários esforçam-se em limpezas. Em algumas casas a lama chegou a atingir um 1 metro de altura. Acabando por soterrar muitos bens.
Foto: DW/A. Zacarias
Regressar a casa mesmo que seja em zona de risco
Tatos Fernando, 29 anos de idade. Teve uma casa completamente alagada. Não desmoronou mas tem muitas fissuras. Agora está a construir uma nova casa. Reconhece que está numa zona de risco. Está disponível a abandonar a zona caso o município de Tete e o governo lhe dê um espaço numa zona segura.
Foto: DW/A. Zacarias
Muitas aulas perdidas
Nino Alferes – é um rapaz de 12 anos de idade. Hoje a sua grande preocupação é recuperar as aulas perdidas. Até porque sabe que não será nada fácil. “Perdi todos os meus livros e muita matéria está perdida”, diz Nino. A semelhança de Nino há muitas crianças que perderam tudo e estão a começar do zero.
Foto: DW/A. Zacarias
Medo de Crocodilos e Erosão
Francisco Martinho é um dos sobreviventes. Teve a sua casa alagada, mas resistiu. Tenta recuperar muitos documentos e livros que se molharam devido a invasão das águas. A sua casa corre sérios riscos de desabar devido a erosão sobre o rio Rovúbwe, mas também tem medo de crocodilos, “basta dar 18 horas toda família fica dentro da casa, porque de repente podem aparecer aqui crocodilos”, relatou.
Foto: DW/A. Zacarias
Centro de Reassentamento de Chimbonde
Neste momento, está a ser montado um centro de reassentamento, na região de Chimbonde, cerca de 15 Km do centro da cidade e Tete. No local já estão alojadas mais de 80 famílias. Foram igualmente demarcados mais de 140 talhões. Mas há ainda talhões por demarcar, segundo Richard Baulene. O outro centro será montado no bairro Mpádue.
Foto: DW/A. Zacarias
Garantidos serviços básicos em Chimbonde
No centro de reassentamento de Chimbonde, cada família recebe uma tenda, feita com lonas, fixadas em estacas, num talhão de 15/20 metros. No local estão garantidos alguns serviços básicos, como água, saneamento de meio, serviços sanitários e está para breve a eletrificação da zona.
Foto: DW/A. Zacarias
Chegam mais famílias no Chimbonde
Não obstante os desafios que lhes esperam pela frente de reiniciar a vida numa nova zona os reassentados de Chimbonde mostram-se felizes por considerar o local seguro. No centro, a DW ÁFRICA encontrou mais de 30 voluntários da Cruz Vermelha que estão ajudando na construção das tendas improvisadas para os reassentados.
Foto: DW/A. Zacarias
Famílias continuam abrigadas
Na cidade de Tete, mais de 600 famílias estiveram abrigadas no Centro de Acomodação da Escola Comercial e Industrial de Matundo. Em Tete foram montados 5 centros dos quais 3 nos distritos de Mutarara e Doa. Continuam abrigadas no centro da Escola Industrial de Matundo mais de 200 famílias, cerca de 1000 pessoas. Algumas famílias estão em tendas, mas outras dormem num salão multi-uso da escola.
Foto: DW/A. Zacarias
Erosão Pós-cheias
Jorge Mafalauzi, tem 30 anos de idade. É pai de 4 crianças. Sabe que tinha uma casa de 3 quartos. A água levou tudo. Pior ainda, agora não consegue chegar onde era sua casa, porque devido à erosão o lugar foi invadido pelo leito do rio Rovúbwe. Mafalauzi vive numa tenda oferecida pelo INGC, próximo da sua antiga casa, nas bermas do rio Rovúbwe e fala de falta de mais apoios do Instituto.