Província de Tete, centro de Moçambique, reforçou controlo de viajantes vindos do Malawi para evitar disseminação da doença que assola o país vizinho. Cólera já fez oito mortes na província do Niassa, a norte.
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Até esta terça-feira (10.01), não foi registado qualquer caso de cólera na província de Tete, garante à DW o chefe do Departamento provincial de Saúde Pública. No entanto, Danilson Gonçalves assegura que o seu setor está em alerta máximo face ao surto de cólera que fustiga o país vizinho, o Malawi.
"Temos feito uma espécie de controlo nas fronteiras. Começando pelas viaturas que entram no nosso país, assim como as próprias pessoas, temos feito a sua descontaminação. Ou seja, colocamos balde e sabão para a lavagem das mãos", explica.
O responsável revelou, entretanto, que a província de Tete regista, nos últimos dias, o aumento de casos de diarreias, que estariam relacionados com a época chuvosa. "Ainda não temos qualquer confirmação de cólera. Foi feita a coleta de amostras, para além de tratamento e seguimento destes pacientes, mas, felizmente, até então, nenhuma confirmação em relação ao vibrião colérico", adianta.
Em 2022, foram registados 61 mil casos de diarreias, mais 14% do que no ano anterior. Os casos são sobretudo, na capital provincial e nos distritos de Cahora Bassa e Moatize, diretamente na fronteira com o Malawi.
Niassa luta para travar surto
Mais a norte, na província do Niassa, o novo surto de cólera já matou pelo menos oito pessoas e infetou outras 600. Ramos Bartolomeu Mboene, diretor provincial da Saúde no Niassa, diz que as autoridades lutam para travar a doença.
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"Confirmou-se cólera no distrito de Lago e no distrito de Lichinga. Até ao fecho da semana passada, tivemos 220 [casos] em Lichinga e 379 no Lago. Somando, dá 599 casos de cólera confirmados, infelizmente com um cumulativo de oito mortes", afirma.
A província do Niassa não registava casos de cólera desde 2015. Com o surto no vizinho Malawi, um dos piores na história do país, a doença alastrou para a província moçambicana.
As autoridades sanitárias no Niassa já abriram quatro centros de tratamento de cólera nos dois distritos atingidos pelo surto, Lago e Lichinga. O setor provincial está igualmente em alerta máximo devido aos casos de diarreias noutras zonas.
"Nestes dois distritos ainda não temos a confirmação do surto apesar de termos pacientes com diarreia em seguimento. Colhemos amostras na semana passada, cinco amostras no distrito de Sanga e sete no distrito de Mecanhelas. Todas elas foram enviadas ao Instituto Nacional de Saúde (INS) e aguardamos a qualquer momento a receção dos resultados para se declarar o surto nestes distritos, se tal for o caso", diz Ramos Bartolomeu Mboene.
Chuva complica resposta
De acordo com o diretor provincial da Saúde no Niassa, foi criado um comité multissetorial composto pelas autoridades sanitárias, de água e saneamento do meio, incluindo os conselhos autárquicos, para prover uma resposta combinada com vista a estancar o surto de cólera na região.
O período das chuvas, explica Ramos Bartolomeu Mboene, tem complicado a resposta contra a cólera: "Há grandes desafios aqui no que diz respeito à água acumulada, residências que, em algum momento, ficam alagadas, até destruídas. Todo esse processo tem implicado de forma negativa o controlo cabal da situação".
Zambézia: Centros para vítimas de inundações sob pressão
Milhares de desalojados pelas cheias e pelo ciclone na Zambézia, centro de Moçambique, vivem em centros de acomodação. A DW África constatou que faltam tendas e que os médicos estão preocupados com a saúde da população.
Foto: DW/M. Mueia
Visitas de rotina
Cerca de 20 médicos e especialistas deslocaram-se este sábado (30.03) aos centros de acomodação de Dhugudiua e Namitangurine - este último, onde há um maior aglomerado populacional refugiado das cheias na Zambézia. Os profissionais de saúde juntaram-se numa ação solidária para minimizar os problemas da população. A campanha é rotineira, para controlar eventuais surtos.
Foto: DW/M. Mueia
Problemas de saúde
Doenças respiratórias, malária e diarreias afetam muitas das vítimas das inundações refugiadas nos centros de acomodação de Namitangurine e Dhugudiua, distrito de Nicoadala. No centro de Dhugudiua, criado este mês, em média, são atendidos 30 pacientes por dia. A maioria apresenta estes problemas de saúde, segundo autoridades sanitárias.
Foto: DW/M. Mueia
Uma tenda para dez pessoas
Segundo as autoridades comunitárias dos centros de reassentamento, uma tenda abriga dez pessoas. A insuficiência de tendas agravou-se nas últimas semanas e as cheias na sequência do ciclone Idai colocaram ainda mais pressão sobre as instalações. O centro de Namitangurine recebe desalojados das inundações desde 2012. Acolhe atualmente mais de mil famílias.
Foto: DW/M. Mueia
Casas e bens destruídos
No centro de Dhugudiua, a cerca de 45 quilómetros da cidade de Quelimane, vivem cerca de 80 famílias, acomodadas em tendas. São, na maioria, crianças e mulheres que foram transferidas da zona de Musselo, depois de verem as suas palhotas e bens destruídos pela força das águas no início deste mês.
Foto: DW/M. Mueia
Infraestruturas de lona
Além de servirem de moradia para as vítimas das inundações, algumas das tendas nos centros de reassentamento funcionam como unidades sanitárias permanentes e outros serviços sociais.
Foto: DW/M. Mueia
Cozinha para todos
Os desalojados no centro de reassentamento em Dhugudiua partilham a mesma cozinha para confeccionar alimentos. No chão, os conjuntos de três pedrinhas separadas por 10 centímetros são fogões a lenha improvisados.
Foto: DW/M. Mueia
Falta proteína
Há comida suficiente, mas a alimentação não é a ideal no centro de Dhugudiua. Os desalojados dizem que recebem farinha, arroz e outros donativos de diferentes organizações e doadores singulares, mas não há peixe e o feijão não chega para todos os agregados familiares. O caril é feito quase sempre à base de verduras.
Foto: DW/M. Mueia
Mil litros de água
O abastecimento de água para tomar banho e lavar roupa e loiça é garantido por um tanque móvel de mil litros instalado no local.
Foto: DW/M. Mueia
Controlar as condições de higiene
No distrito de Nicoadala, há cerca de 20 ativistas destacados exclusivamente para controlar a higiene nos centros de acomodação. A missão é vigiar o tratamento da água utilizada pelas famílias, a limpeza das tendas e sensibilizar os moradores do centro para as boas práticas de higiene para evitar surtos de cólera e malária.
Foto: DW/M. Mueia
Uma vida de desespero
Apesar do apoio que recebem nos centros de reassentamento, muitas famílias dizem-se desesperadas: não têm como começar a reconstruir as suas habitações e regressar à vida normal. A maioria dos homens não tem emprego. Muitos viviam da carpintaria e da serralharia nos locais onde viviam e, aqui, não têm onde ir para pedir financiamento. As mulheres choram a perda das suas machambas.
Foto: DW/M. Mueia
À espera de terras
Nos centros de reassentamento, os desalojados aguardam a distribuição de terrenos. Muitos não perdem a esperança de serem colocados em zonas mais seguras, em áreas menos propensas a cheias, tal como prometeram as autoridades provinciais da Zambézia.
Foto: DW/M. Mueia
Voluntários satisfeitos
Os médicos que se deslocaram aos centros de reassentamento nesta missão voluntária mostram-se satisfeitos pela adesão popular aos serviços prestados, principalmente de testes voluntários de HIV e malária. Os profissionais de saúde atenderam ainda pacientes com várias queixas,desde dores nas articulações a dores de barriga, e prestaram serviços de oftalmologia.