Cabinda: Ex-guerrilheiros da FLEC ocupam sede do FCD
Simão Lelo
7 de outubro de 2021
Um grupo de ex-guerrilheiros ocupou a sede do Fórum Cabindês para o Diálogo. A intenção, segundo o líder do grupo, Aniceto Filipe Zau, é chamar a atenção para as deficiências internas da organização.
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O grupo de ex-guerrilheiros da Frente de Libertação do Enclave de Cabinda (FLEC), que ocupou esta quinta-feira (07.10) as instalações do Fórum Cabindês para o Diálogo (FCD), promete tratar-se de uma ação de duração limitada, motivada pela crescente insatisfação com a prestação do fórum. O que os preocupa, sobretudo, disse à imprensa o seu líder, tenente-general na reforma Aniceto Filipe Zau, é o que afirmam ser a a divisão e desordem dentro da instituição.
"Não é para invadir", disse Zau, acrescentando: "Fizemos isto para fazer despertar e fazer reconhecer aos Cabinda que esta organização não é só do Bissafi, nem do falecido Maurício Zulu, nem tão pouco do Bento Bembe, mas de todos nós".
FCD paralisado
Após abandono e consequente exclusão da organização do antigo presidente, Bento Bembe, deputado do partido governamental MPLA no Parlamento angolano, foi eleito para o posto Maurício Amado Nyulu em 11 de Janeiro de 2020. Nyulu veio a falecer em 29 de Junho de 2021, tendo sido sucedido interinamente pelo seu vice, José Bissafi. Todo este processo teve um impacto negativo no trabalho político fo FCD, consideram os ex-guerrilheiros.
Para o general Zau, "o problema é estarem sempre agarrados ao poder, eles só querem ser presidente e está a atrasar o nosso trabalho". Zau lembrou que o objetivo do Fórum, fundado em 2006, é negociar exatamente um estatuto para Cabinda com o Governo central.
"O povo sofre"
Aniceto Zau afirma que também o sofrimento do povo motivou o grupo a tomar esta ação: "O povo está a gemer, o povo de Cabinda está a morrer, meus irmãos", disse. E deixou o aviso: "Estávamos num ponto de reconciliação, mas eles querem acabar com a reconciliação e continuar com a confusão. É por isso que nós não podemos parar".
Alguns membros que se encontravam a trabalhar na sede do FCD e que têm uma ligação estreita com o presidente interino José Bissafi, que vive na República do Congo Brazaville, foram retirados da sede.
Artivismo: a arte política de André de Castro
O papel político da arte é o mote de "Liberdade Já", a exposição do artista brasileiro André de Castro que lembra, entre outros ativistas, os presos políticos angolanos.
Foto: MUXIMA/A. Ludovice
"Liberdade Já" em serigrafia
A arte pode ter uma missão política - é o que prova esta exposição de André de Castro, a primeira mostra a solo do artista visual brasileiro na Europa. Este primeiro painel à entrada da exposição, em Lisboa, é um tributo aos presos políticos angolanos. O autor deu-lhe o título de "Liberdade Já", slogan que alimentou o movimento de solidariedade internacional pela libertação dos ativistas.
Foto: MUXIMA/A. Ludovice
Debate sobre política internacional
Tanto este projeto "Liberdade Já" (2015) como "Movimentos" (2013-2014) tiveram repercussão mundial. O artista brasileiro destaca, através das suas obras, os jovens presos políticos de Angola, libertados em 2016. As suas imagens acabam por incentivar o debate sobre acontecimentos políticos internacionais.
Foto: MUXIMA/Andrea Ludovice
Os "revús" compõem o painel…
O artista compõe o painel com "monoprints" em serigrafias repetidas. Aqui podem ver-se alguns dos jovens angolanos presos em Luanda, em 2015, por discutirem um livro sobre métodos pacíficos de protesto. Luaty Beirão, Domingos da Cruz, Nuno Álvaro Dala, Nito Alves, Benedito Jeremias e Nelson Dibango, entre outros, foram julgados pelo crime de atos preparatórios para a prática de rebelião.
Foto: DW/J. Carlos
… e multiplicam-se pelo mundo digital
O luso-angolano Luaty Beirão foi escolhido como símbolo do ativismo político, dando força à exposição, com a curadoria da Muxima. Os retratos multiplicaram-se no mundo digital, foram reproduzidos em t-shirts e posters. A venda das serigrafias expostas em mostras coletivas em Lisboa e Nova Iorque, em 2016, reverteu integralmente a favor das famílias dos presos políticos angolanos.
Foto: DW/J. Carlos
Além de Angola...
Em dezembro, André de Castro comemorou com as irmãs a abertura da exposição em Lisboa, que também apresenta rostos de ativistas como José Marcos Mavungo, advogado e ativista de Cabinda. Além de Angola, o artista desafia os visitantes a revisitar o movimento da Primavera Árabe. Dá a conhecer as pessoas e as suas lutas, propondo um ângulo mais pessoal e humano na narração do momento histórico.
Foto: MUXIMA/Andrea Ludovice
Arte como ator social
No interesse do público e das comunidades, o artista brasileiro assume ser um promotor social. "Ao expor 'Movimentos' e 'Liberdade Já' juntos, a mostra permite um recorte da arte como ator social, questionando intenção, receção, apropriação e estética nas ruas e na internet", afirma André de Castro. É o que mostra a coleção "Movimentos", colocada na outra parede da sala.
Foto: MUXIMA/Andrea Ludovice
Coragem para mudar o mundo
Nesta segunda parede, André de Castro imortaliza várias causas em diversas partes do mundo. São mulheres e homens que recusam aceitar a forma como são tratados pelos respetivos Estados. Acreditam, tal como o autor da exposição, que o mundo pode ser muito melhor. Por isso, com coragem, decidiram sair à rua.
Foto: MUXIMA/Andrea Ludovice
Identidade política dos manifestantes…
Este primeiro projeto de André de Castro, em 2013, foi selecionado para a 11ª Bienal Brasileira de Design Gráfico e visto por mais de 40 mil visitantes, passando por Miami (2013), Nova Iorque (2014) e Brasília (2015). As serigrafias, que resultam de entrevistas realizadas através das redes sociais, retratam as identidades políticas dos manifestantes de diferentes países.
Foto: DW/J. Carlos
… e cultura das manifestações
Através das serigrafias, o artista procurou valorizar a força da ação individual dos manifestantes. Cada participante enviou uma foto de rosto, usando as redes sociais, e respondeu a uma série de perguntas sobre a sua identidade política. Assim, foram criados retratos políticos individuais que, em conjunto, formam uma mini etnografia da cultura material e imaterial das manifestações.
Foto: DW/J. Carlos
Do outro lado do mundo
Em Nova Iorque, no Zuccotti Park, a sugestão original foi ocupar Wall Street, símbolo dos capitais financeiros internacionais. Porque, afinal, foi a especulação de capitais que deu origem à crise que atormentou o mundo há anos. Questiona Daniel Aarão Reis, ao apresentar a exposição: "Como aceitar que os responsáveis não ficassem com o fardo principal das medidas de superação desta mesma crise?"
Foto: DW/J. Carlos
Novos dispositivos de mobilização
A arte política de André de Castro, que também evoca figuras como Ghandi e Martin Luther King, faz lembrar a tradição dos grandes movimentos dos anos 1960, que dispensava partidos e sindicatos. Ao invés disso, surgiram novos dispositivos de mobilização e de ação.
Foto: DW/J. Carlos
Espelho D’ Água valoriza as serigrafias
A exposição, que também será posteriormente exibida no Porto (a norte de Portugal), encontra-se no Espaço Espelho D’Água, em Lisboa. A calçada deste espaço, tipicamente portuguesa, foi construída com base numa obra do autodidata artista plástico angolano, Yonamine, que tem vivido em diversos países de África, Europa e América do Sul.