Cabinda: Polícia impediu protesto no dia da independência
Simão Lelo
12 de novembro de 2021
A manifestação convocada pelo Movimento Independentista de Cabinda (MIC) para o dia da independência de Angola foi frustrada pelas autoridades. Houve repressão policial e pelo menos dois ativistas foram detidos.
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O MIC convocou uma manifestação para quinta-feira (11.11), dia em que se assinala a independência de Angola, para despertar as pessoas no exterior e, sobretudo, a população no enclave para a detenção de membros do movimento, detidos na primeira quinzena de outubro por causa da campanha "porta a porta" de não adesão ao registo eleitoral oficioso. Desde então, não houve qualquer reação para a libertação dos mesmos.
A manifestação de quinta-feira estava prevista para acontecer no largo Primeiro de Maio, na cidade de Cabinda, mas os manifestantes nem sequer conseguiram deslocar-se até ao local e pelo menos duas pessoas foram detidas pela polícia em suas próprias residências, segundo avança a organização da marcha.
Cabinda: "Medo, isso é coisa do passado!"
01:57
José Pedro Diogo, porta-voz do MIC, lamenta que mais ativistas tenham sido detidos, depois de já terem dois sob custódia da polícia fruto da situação anterior sobre a campanha levada a cabo pelos membros do MIC de não adesão ao registo eleitoral.
"Neste momento foram detidas duas pessoas; Gabriel Bembe e Natalício Cuti. Estes foram detidos na sua própria residência. Eles estão a invadir casas", lamenta.
Polícia antecipou-se
Pedro Diogo diz que os ativistas não foram a tempo de se manifestar, pois a polícia já estava a antecipar para detê-los nas suas próprias casas. "Quando chegaram, os seguranças deram conta de que já estavam escondidos nas residências."
A manifestação pacífica planeada para quinta-feira pretendia exigir ainda a realização do referendo sobre a autodeterminação sobre Cabinda.
Um membro afeto à organização disse à DW que não participou na manifestação com medo de ser detido pela polícia. "Não houve essa possibilidade de manifestação. Na verdade, houve muitos detidos."
Ainda de acordo com a mesma fonte, no local programado para a manifestação existiam pessoas que se faziam de manifestantes e que, no final, eram pessoas bem direcionadas, com o objetivo de deter pessoas que lá fossem para manifestar.
A polícia não se pronunciou sobre as acusações do Movimento Independentista de Cabinda.
Angola: Conheça o Mural da Resistência em Luanda
Uma nova intervenção urbana foi inaugurada em Luanda, com pinturas em homenagem a personalidades importantes da história recente de Angola. Veja o Mural da Resistência, do pintor Zbi de Andrade, nesta galeria de fotos.
Foto: Manuel Luamba/DW
Mural da Resistência
Este é o nome do novo mural localizado nos arredores de Luanda. O espaço pintado pelo artista Zbi de Andrade contém rostos de activistas, políticos e académicos que defendem um país cada vez mais democrático. Uma cerimonia organizada pelo site Observatório de Imprensa homenageou as pessoas retratadas.
Foto: Manuel Luamba/DW
Manuel Chivonda Nito Alves
Manuel Chivonda Nito Alves é um activista angolano que se notabilizou nos protestos de rua que começaram em 2011. Em 2013, com apenas 17 anos, foi acusado de difamar o ex-Presidente José Eduardo dos Santos. Foi espancado e detido por várias vezes pela polícia. É um dos activistas detidos em 2015 no caso conhecido como "Processo dos 15+2".
Foto: Manuel Luamba/DW
Laurinda Gouveia
Laurinda Gouveia é uma activista angolana que também se notabilizou por organizar e participar manifestações de rua, exigindo melhores condições de vida à população. Gouveia é integrante do Odjango Feminista e defende a igualdade de direitos. A sua veia reivindicativa acabou por levá-la à cadeia por inúmeras vezes. Também foi condenada no "Processo dos 15+2".
Foto: Manuel Luamba/DW
Rosa Conde
Rosa Conde também foi detida e julgada no âmbito do Caso 15+2 - quando 17 ativistas foram acusados de tentativa de golpe de Estado. Com "sangue" de Cabinda, foi um dos rostos que, em 2016, lideraram os protestos contra o assassinato de Rufino António - morto a tiros alegadamente por um militar do PCU durante as demolições no bairro do Zango.
Foto: Manuel Luamba/DW
Filomeno Vieira Lopes
Filomeno Vieira Lopes é um conhecido político e economista angolano. Já foi espancado por várias vezes em manifestações de rua. Atualmente é o presidente do Bloco Democrático, uma formação política derivada da Frente Para Democracia (FPD), associada a intelectuais angolanos. O BD é um dos integrantes da Frente Patriótica Unida, aliança de oposição que visa à alternância de poder em 2022.
Foto: Manuel Luamba/DW
William Tonet
William Tonet é um jornalista e jurista angolano. Um dos pioneiros do surgimento da imprensa privada em Angola. Com a institucionalização do multipartidarismo, Tonet surgiu com o bissemanário Folha 8, um jornal critico ao regime. "Chefe indígena", como é chamado, Tonet deve ser o jornalista angolano em atividade com mais processos judiciais.
Foto: Manuel Luamba/DW
Luís Nascimento
Luís Nascimento é um jurista e advogado angolano. Foi um dos cidadãos que exigiram a destituição de Isabel dos Santos da chefia da petrolífera estatal Sonangol em 2016. Foi o advogado da família de Rufino António, adolescente morto alegadamente pelas forças de segurança nas demolições no Zango. Nascimento foi um dos candidatos derrotados na última convenção do Bloco Democrático.
Foto: Manuel Luamba/DW
Nelson Pestana "Bona Vena"
Nelson Pestana "Bona Vena" é um académico e político angolano. Conhecido por ser um "homem das letras", Bona Vena é ligado ao Centro de Investigação Cientifica da Universidade Católica de Angola e ao Centro de Estudos Africanos. É político do Bloco Democrático.
Foto: Manuel Luamba/DW
Fernando Macedo
Fernando Macedo é um ativista e professor universitário angolano. Reconhecido por muitos pela integridade, Macedo é um dos fundadores da Associação Justiça Paz e Democracia. O ativista é profundamente critico ao antigo e ao actual regime angolano. Em 2018, Macedo foi um dos organizadores de um protesto contra a amnistia de cidadãos que desviaram fundos públicos para o estrangeiro.
Foto: Manuel Luamba/DW
Luís Araújo
Luís Araújo fundador e coordenador da SOS Habitat, uma ONG que defende e promove o direito à habitação em Angola. Em 2016, o ativista angolano teve projeção ao defender que a remoção do que chamou de "ditadura angolana" é uma necessidade. Em 2005, Araújo e mais dez pessoas foram julgados pelo Tribunal Provincial de Luanda, acusados de incitamento à violência. Vive há anos na Europa.