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Segurança alimentarMoçambique

Cabo Delgado: 300 mil famílias aguardam apoio alimentar

Rafael Belincanta (Roma)
10 de novembro de 2022

Segundo a FAO, conflito, falta de financiamento e alterações climáticas são as principais causas da insegurança alimentar em Moçambique. Agência da ONU recomenda investir na agricultura local e na alimentação escolar.

Cabo Delgado
FAO tem levado apoio aos deslocados em Cabo DelgadoFoto: Falume Bachir/World Food Program/AP/picture-alliance

Dois dos principais instrumentos globais para combater a fome e a pobreza fazem por estes dias um balanço dos progressos e traçam estratégias para o futuro.

Um deles é o Cluster de Segurança Alimentar (CSA), uma organização multilateral criada para garantir acesso a alimentos durante situações de emergência.

Encabeçado pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) e pelo Programa Alimentar Mundial (PAM), o cluster reuniu-se esta semana em Roma, representando 32 setores que atuam sobretudo nos países em desenvolvimento.

Crise alimentar em Moçambique

Um dos núcleos do cluster opera em Moçambique. A crise alimentar no país tem-se agravado em consequência dos conflitos armados, especialmente em Cabo Delgado, que hoje afeta diretamente mais de 1,5 milhão de pessoas.

Hortas comunitárias para combater a insegurança alimentar

03:41

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"O Cluster de Segurança Alimentar consegue neste momento apoiar cerca de 50 mil famílias, tendo a necessidade de apoiar mais 300 mil famílias", explica Brasilino Salvador, agrónomo da FAO em Pemba. 

"Quero deixar claro que, em Cabo Delgado, incluo também os distritos de Mocímboa da Praia, Quissanga e Palma, onde alguns descolados já estão a retornar às suas zonas de origem," descreve.

A FAO, em coordenação com as estruturas locais, "foi uma das primeiras agências a levar um apoio aos deslocados em termos de meios de produção para a recuperação dos meios de vida, assim como a respetiva assistência técnica", relata Salvador

Desafios diversos

A distribuição de alimentos do PAM no norte de Moçambique encontra-se reduzida por falta de fundos.

Uma solução para isso poderia ser o aumento na compra e distribuição da produção agrícola local, sobretudo no âmbito da alimentação escolar.

Garantir alimento nas escolas é uma das ações mais eficazes no combate à fome e à pobreza no mundo.

Passagem do ciclone Gombe causou mortes e deixou um rasto de destruição em NampulaFoto: Andre Catueira/EPA-EFE

Alterações climáticas

Eventos climáticos extremos como o último ciclone Gombe ou as secas prolongadas no sul do país agravam ainda mais as perdas na agricultura local, lançando milhões de pessoas para uma situação de penúria alimentar.

"Em resposta dá-se um apoio imediato e, ao mesmo tempo, criam-se condições para que as famílias ganhem uma resiliência que as possa tornar fortes e capazes de responder a futuros choques", garante o agrónomo da FAO em Pemba.

O tema foi discutido na terça-feira (08.11) durante um encontro online que reuniu representantes dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) encarregados de organizar os planos nacionais de alimentação escolar, entre eles o diretor do Centro de Excelência de Combate à Fome do Programa Alimentar Mundial, Daniel Balaban.

"É importante que os países possam colocar os seus problemas e as soluções apresentadas para que nós consigamos, num futuro próximo, realmente atingir um mundo livre da extrema pobreza e livre da fome," considera.

O mapa da fome

Segundo os últimos dados da FAO, em Moçambique, a insegurança alimentar atinge quase 74% da população, ou seja, 23 milhões de moçambicanos.

Em Angola, quase 20% da população do país tem dificuldades em consumir a quantidade mínima diária de calorias para estar em boa saúde. Na Guiné-Bissau, este número chega a 1,5 milhões de pessoas. Em São Tomé e Príncipe, a insegurança alimentar atinge cerca de 54% da população. E em Cabo Verde quase 18% da população.

Paradoxalmente, em todos os países analisados, o número de pessoas obesas – que também representa uma forma de má nutrição – tem aumentado exponencialmente desde o início do século XXI.

Crise alimentar é também "oportunidade" para África

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