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Cabo Delgado: "A cidade de Pemba está em pânico"

10 de junho de 2022

Abudo Gafuro, da Associação Kuendeleya, avisa que "é preciso fazer um trabalho muito duro, exaustivo e urgente para repelir" os terroristas. Novo ataque esta quinta-feira (09.06) voltou a alarmar a população local.

Mosambik Pemba | Geflüchtete Menschen | Paquitequete Strand
Foto: DW

Desconhecidos degolaram esta quinta-feira (09.06) uma pessoa nas matas de Silva Macua, Cabo Delgado, disse fonte local, agravando a insegurança que desde domingo afeta o sul da província moçambicana, até agora considerado livre de rebeldes armados. Fonte comunitária referiu que a descoberta de uma pessoa degolada nas matas motivou a debandada da população e estruturas locais da aldeia de Salaue, a menos de 100 quilómetros de Pemba, junto à estrada nacional 1 (EN1) que conduz à capital provincial.

Os grupos armados que aterrorizam Cabo Delgado, no norte de Moçambique, há quase cinco anos, mataram também na última terça-feira (07.06) quatro pessoas num ataque no distrito de Ancuabe, isto depois de um outro ataque no fim de semana. Entre as vítimas estavam dois seguranças de uma empresa que explora grafite na região, mas as autoridades locais garantem que a área está segura.

Força Local que tem trabalhado na luta contra os terroristas em Cabo DelgadoFoto: DW

Este ataque ao distrito de Ancuabe pode significar a abertura de uma nova frente por parte dos terroristas que se encontram em debandada, depois de terem sido desalojados nos distritos de Nangade, Palma, Macomia e Quissanga, defende Abudo Gafuro, presidente da Associação Kuendeleya, que trabalha na defesa dos direitos humanos em Pemba.

Gafuro acrescenta que este novo ataque está a agravar a crise de deslocados internos na província, sendo que muitas pessoas vindas de Ancuabe tentam refugiar-se na cidade de Pemba e noutros distritos vizinhos. 

DW África: O que poderá representar a ousadia dos terroristas ao atacarem um distrito muito próximo da cidade capital, Pemba? 

Abudo Gafuro (AG): Isso pode representar uma nova frente, porque depois do controlo de Mocímboa [da Praia] e Palma, os terroristas poderiam abrir outras frentes que poderiam resultar nessas consequências que hoje estamos a ver. O Estado moçambicano e a força regional ou do Ruanda devem olhar para a zona sul e centro da província. Isto é, estão hoje a atacar a cerca de 80 quilómetros da cidade de Pemba, estamos a falar de Silva Macua... Isto acabou por colocar em pânico milhares de pessoas. A partir daquele dia do ataque [no distrito de Ancuabe] até hoje, várias pessoas estão a fazer o sentido contrário - umas estão a sair da cidade de Pemba e outras estão a entrar na cidade de Pemba.

DW África: O ataque seria uma demonstração de que os terroristas também estão em movimento e a tentar aproximar-se da população para se poderem infiltrar e executar os ataques?

AG: Os terroristas estão infiltrados em toda a região da província de Cabo Delgado, porque são filhos ou são nossos amigos, são nossos irmãos, que fazem e que protagonizam este tipo de ataques para poderem abrir novas frentes na região que está desprotegida e com menos atenção por parte dos militares ruandeses. [Os terroristas] já não têm uma base sólida onde se possam estabilizar. Eles podem andar em número de três, quatro, cinco e até sete para poderem desestabilizar milhares de pessoas, através de disparos aqui e depois noutro lado.

Esconderijos nos campos de Cabo DelgadoFoto: DW

DW África: Nesse caso, estamos a dizer também que isto pode voltar a provocar uma nova crise humanitária em Cabo Delgado?

AG: Não só pode voltar a provocar, como já provocou mais outra onda. Neste momento em que estamos a falar, estamos a apelar a quem de direito para poder vir e dar assistência a essas dezenas ou centenas de pessoas que estão a entrar na cidade de Pemba a partir Ancuabe.

DW África: Como é que está agora o ambiente na cidade de Pemba, sabendo que o último ataque foi a 80 ou 100 quilómetros da cidade capital?

AG: A cidade de Pemba está em pânico. A minha tia, que estava desaparecida há quatro ou cinco dias no mato, apareceu ontem. Foi sair em Macomia, sem saber como, mas foi resgatada pelos militares que a trouxeram até Pemba a são e salvo. Neste momento, encontra-se numa unidade intensiva de cuidados médicos. Há dezenas de pessoas que estão com estes problemas, ou seja, foram encontradas nas matas a fugir dessa guerra. Isto causa uma outra avalanche de trauma, uma outra avalanche de crise de pânico. A própria cidade [Pemba], como sabemos, é uma cidade que tem uma única entrada e saída. Não podemos pensar o pior para a cidade de Pemba, mas tem que se fazer um trabalho muito duro, exaustivo e urgente para se poder repelir esta força que está a 40, 60 ou 80 quilómetros da cidade de Pemba.
 

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