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Cabo Delgado: Analista adverte contra armar a população

Ariana Miranda
24 de novembro de 2022

O Governo moçambicano quer legalizar o recurso à população local ajudar a combater os insurgentes. Em entrevista à DW África, analista avisa que a medida resultará num caos.

Terrorismo em Cabo Delgado
Ataques armados aterrorizam a população de Cabo Delgado desde 2017Foto: AFP/J. Nhamirre

Em entrevista à DW África, o analista moçambicano Custódio Duma afirmou que a iniciativa do Governo de envolver a população no combate aos grupos insurgentes, sobretudo na região de Cabo Delgado, no norte do país, vai gerar caos.

O analista realça que as autoridades já fizeram experiências negativas  no contexto e, por isso, não deveriam por armas nas mãos de civis despreparados.

DW África: O que está a levar o Governo de Moçambique a insistir nesta estratégia?

Custódio Duma (CD): Esta é uma medida que já tem vindo a ser ensaiada. Já faz tempo que o Governo quer preparar o público e as instituições para o dia em que o Governo tomar essa medida. E é uma medida que, pessoalmente, considero uma daquelas estratégias que não devem ser aplicadas para o caso concreto de Cabo Delgado.

Não só por causa das experiências passadas que já tivemos, mas também pelo tipo de conflito que nós temos. Estamos a falar de terrorismo. Este é um tipo de guerra de ataque especializado e os Estados devem reagir de uma forma especializada, usando forças que já foram testadas. Até já existem experiências internacionais sobre como enfrentar a situação de terrorismo. Penso que é uma medida que não se enquadra propriamente no nosso contexto.

Proposta de aditamento à lei da defesa nacional foi submetida ao Parlamento moçambicanoFoto: DW/L.Matias

DW África: Corre-se o perigo de conflito gerar conflito?

(CD): Para mim, é exatamente isso. Gera conflito e também gera uma situação de caos, que, muito provavelmente, poderá trazer ao de cima graves violações dos direitos humanos, insegurança e até vingança entre as partes. Porque a maior parte dos próprios insurgentes em Cabo Delgado são também cidadãos locais, que foram recrutados a nível local. E uma pessoa armada que seja local ainda pode ser confundida também com um insurgente.

É verdade que o Governo tem que responder à população que quer participar no combate ao terrorismo. Mas a resposta não é armar a população. A resposta é criar mecanismos para que a população possa contribuir com informações, denunciando, e possa contribuir também dar suporte e retaguarda às forças armadas especiais que estão a operar em Cabo Delgado, tendo a população como uma base.

O Executivo moçambicano já submeteu à Assembleia Nacional uma proposta de aditamento à lei da defesa nacional e das Forças Armadas que pretende a organização e o funcionamento de uma força local.

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