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Cabo Delgado: Desigualdade no apoio aos deslocados

13 de dezembro de 2021

Um estudo revela desigualdade na distribuição de ajuda humanitária aos deslocados de Cabo Delgado. O documento alerta para os riscos de conflitos com a tensão gerada pela desigualdade nas comunidades afetadas.

Mosambik Vertriebene Bevölkerung In Cabo Delgado
Foto: DW

"Causas e Determinantes do Conflito em Cabo Delgado e o seu Impacto na Vida das Mulheres" é o título de um estudo apresentado na semana passada em Moçambique. O estudo é da autoria do Centro de Estudos Estratégicos da Universidade Joaquim Chissano em parceira com a ONU Mulheres.

O documento alerta para o risco de conflitos gerado pela desigualdade na distribuição de ajuda humanitária às pessoas afetadas pelos ataques armados em Cabo Delgado, norte de Moçambique.

À DW África, a investigadora Egna Sidumo, uma das autoras do estudo e especialista em prevenção de extremismo violento, diz que constaram que na província os "centros de deslocados são locais focos de conflitos” por falta de uma divisão justa de ajudas aos mais necessitados.

DW África: Há condições para que o apoio aos deslocados seja feita de acordo com as suas necessidades?

Egna Sidumo (ES): Primeiro teríamos de dividir isto em duas partes: as condições logísticas e a organização dos parceiros. A ajuda humanitária em Cabo Delgado é feita por uma imensidão de parceiros que trabalham em várias áreas importantes. Mas, recentemente o que nós encontramos no terreno, é que esta ajuda não é coordenada entre os parceiros. Por isso, encontramos comunidades que têm acesso à água potável, assistência médica - ainda que é precária - mas funciona de manhã até ao final da tarde. Obviamente há alguns desafios para quem precise ir a um centro de saúde à noite, principalmente as mulheres grávidas. Estas comunidades têm estruturas mínimas de acesso aos serviços básicos de saúde e educação.

Entretanto, encontramos outras comunidades que não têm essas estruturas, comunidades onde falta absolutamente tudo, com dificuldades para aceder à água potável e onde as populações ainda utilizam água dos rios e não recebem outro tipo de ajuda que não seja alimentar. Penso que estas duas dimensões devem ser muito bem pensadas. Então, uma maior coordenação dos parceiros na implementação da ajuda humanitária iria garantir uma divisão mais equilibrada no acesso aos serviços.

O que acontece agora é uma assistência extremamente desigual.

Egna Sidumo, pesquisadora do Centro de Estudos Estratégicos da Universidade Joaquim ChissanoFoto: DW/M. Maluleque

DW África: Quais seriam as consequências, a médio prazo, de uma ajuda desajustada?

ES: Eu penso que as consequências mais evidentes de uma ajuda desajustada são os conflitos, as tensões. Se a ajuda humanitária continuar desajustada, sem atender as necessidades das populações, as pessoas vão ter a necessidade de procurar outras opções para sobreviver. E esta foi uma das causas do conflito, obviamente não é a única que possa explicar o nível de violência em Cabo Delgado. Mas o facto de as pessoas não verem nenhuma outra opção, a não ser o uso da violência para conseguir o mínimo para sobreviver, o que provavelmente vá acontecer nos centros. Tivemos nos centros onde queríamos formar grupos locais, simplesmente não conseguíamos porque as pessoas tinham a sensação de que esses grupos eram para registar ou identificar pessoas que vão receber ajudas. Sentiam-se que porovavelmente poderiam ser excluídas de um benefício se não participassem. Então preferiam bloquear ou boicotar todo o processo de consulta que nós estávamos a fazer. Não queriam que nós pudéssemos reunir com uns e não com os outros. Isso prova um altíssimo nível de tensão e denota que as pessoas estão num nível de expetativas em relação as ajudas que não estão a ser satisfeitas e que comprometem um pouco a coesão e a relação entre as pessoas. Nós sempre pensamos os conflitos nas áreas onde já existem ataques, mas os centros de deslocados acabam por ser um local de altíssima tensão por falta da [realização das] necessidades básicas. 

É preciso recordar que as populações deslocadas não têm absolutamente nada para fazer, dependem só da ajuda humanitária. Temos raras exceções dos deslocados que conseguem empregos precários para sobreviver. 

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