Aumenta o número de distritos assolados pela cólera em Cabo Delgado, norte de Moçambique. Casos chegam a Pemba trazidos pelos deslocados dos distritos que estão a ser atacados por insurgentes.
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Além de Macomia, Ilha do Ibo, Quissanga e Mocímboa da Praia, agora também a cidade de Pemba tem casos de cólera. Já há mais de 100 pessoas com cólera, sobretudo em Paquitequete e Natite, os destinos preferenciais das famílias que fogem dos ataques armados na regiões norte e centro de Cabo Delgado.
"Por causa da ação dos malfeitores, estamos a verificar que há um movimento de pessoas que saem de algumas zonas afetadas pela cólera e se fazem à cidade de Pemba, sobretudo”, confirma Armindo Ngunga, secretário de Estado na província. "Quando chegam aqui, trazem o vibreão colérico. Temos cólera aqui em Pemba".
Reforço do combate e prevenção
Já foi reaberto o Centro de Tratamento de Doenças Diarreicas para atender os doentes e estão em curso medidas adicionais como a sensibilização das comunidades, com o objetivo de minimizar o impacto da doença.
Estão também a ser distribuídos purificadores de água nos bairros da capital provincial de Cabo Delgado. No entanto, é preciso fazer mais, dizem as autoridades, que apelam ao respeito rigoroso das medidas de higiene e saneamento do meio.
"O nosso apelo é o de sempre: a cólera, tal como ela é conhecida, é a doença das mãos sujas. Todo o cuidado é pouco, vamos manter a higiene individual e coletiva para que a cólera seja estancada o mais cedo possível”, sublinha Armingo Ngunga.
Por causa do alastramento da doença, a vacinação contra a cólera que deveria abranger os distritos de Mocímboa da Praia, ilha do Ibo, Quissanga e Macomia vai estender-se também a Pemba, especificamente nos bairros até agora assolados pelo surto, afirma o secretário de Estado: "Antes do dia 25 [de abril], vamos vacinar as pessoas naqueles três distritos previstos inicialmente e vamos ver se teremos condições para poder vacinar as pessoas naqueles bairros da cidade de Pemba”.
"No passado, foram vacinadas pessoas em Pemba e conseguimos controlar a situação até agora, até à chegada das pessoas deslocadas. De facto, são pessoas dos distritos que tinham sido mapeados para a vacinação”, explica Armindo Ngunga.
ONG apoiam Governo
Desde janeiro, a província de Cabo Delgado já registou 610 casos relacionados com a cólera e 12 óbitos, segundo os números das autoridades sanitárias.
Uma das organizações não-governamentais que apoia o Governo no combate à doença é a Médicos Sem Fronteiras (MSF). Além de estar diretamente envolvida no tratamento de doentes internados no Centro de Tratamento de Doenças Diarreicas, a MSF está também a oferecer água tratada aos residentes dos bairros afetados em Pemba. A DW África procurou obter mais detalhes acerca dessas operações, mas a MSF não quis pronunciar-se para já - prometeu prestar declarações mais tarde.
A onda de deslocados conheceu o seu ápice em meados de março, quando os grupos que atacam as regiões mais a norte e no centro da província intensificaram as suas ações invadindo e ocupando temporariamente as sedes distritais de Mocímboa da Praia, Quissanga e Muidumbe. Desde então, todos os dias chegam a Pemba centenas de famílias à procura de refúgio.
Zambézia: Centros para vítimas de inundações sob pressão
Milhares de desalojados pelas cheias e pelo ciclone na Zambézia, centro de Moçambique, vivem em centros de acomodação. A DW África constatou que faltam tendas e que os médicos estão preocupados com a saúde da população.
Foto: DW/M. Mueia
Visitas de rotina
Cerca de 20 médicos e especialistas deslocaram-se este sábado (30.03) aos centros de acomodação de Dhugudiua e Namitangurine - este último, onde há um maior aglomerado populacional refugiado das cheias na Zambézia. Os profissionais de saúde juntaram-se numa ação solidária para minimizar os problemas da população. A campanha é rotineira, para controlar eventuais surtos.
Foto: DW/M. Mueia
Problemas de saúde
Doenças respiratórias, malária e diarreias afetam muitas das vítimas das inundações refugiadas nos centros de acomodação de Namitangurine e Dhugudiua, distrito de Nicoadala. No centro de Dhugudiua, criado este mês, em média, são atendidos 30 pacientes por dia. A maioria apresenta estes problemas de saúde, segundo autoridades sanitárias.
Foto: DW/M. Mueia
Uma tenda para dez pessoas
Segundo as autoridades comunitárias dos centros de reassentamento, uma tenda abriga dez pessoas. A insuficiência de tendas agravou-se nas últimas semanas e as cheias na sequência do ciclone Idai colocaram ainda mais pressão sobre as instalações. O centro de Namitangurine recebe desalojados das inundações desde 2012. Acolhe atualmente mais de mil famílias.
Foto: DW/M. Mueia
Casas e bens destruídos
No centro de Dhugudiua, a cerca de 45 quilómetros da cidade de Quelimane, vivem cerca de 80 famílias, acomodadas em tendas. São, na maioria, crianças e mulheres que foram transferidas da zona de Musselo, depois de verem as suas palhotas e bens destruídos pela força das águas no início deste mês.
Foto: DW/M. Mueia
Infraestruturas de lona
Além de servirem de moradia para as vítimas das inundações, algumas das tendas nos centros de reassentamento funcionam como unidades sanitárias permanentes e outros serviços sociais.
Foto: DW/M. Mueia
Cozinha para todos
Os desalojados no centro de reassentamento em Dhugudiua partilham a mesma cozinha para confeccionar alimentos. No chão, os conjuntos de três pedrinhas separadas por 10 centímetros são fogões a lenha improvisados.
Foto: DW/M. Mueia
Falta proteína
Há comida suficiente, mas a alimentação não é a ideal no centro de Dhugudiua. Os desalojados dizem que recebem farinha, arroz e outros donativos de diferentes organizações e doadores singulares, mas não há peixe e o feijão não chega para todos os agregados familiares. O caril é feito quase sempre à base de verduras.
Foto: DW/M. Mueia
Mil litros de água
O abastecimento de água para tomar banho e lavar roupa e loiça é garantido por um tanque móvel de mil litros instalado no local.
Foto: DW/M. Mueia
Controlar as condições de higiene
No distrito de Nicoadala, há cerca de 20 ativistas destacados exclusivamente para controlar a higiene nos centros de acomodação. A missão é vigiar o tratamento da água utilizada pelas famílias, a limpeza das tendas e sensibilizar os moradores do centro para as boas práticas de higiene para evitar surtos de cólera e malária.
Foto: DW/M. Mueia
Uma vida de desespero
Apesar do apoio que recebem nos centros de reassentamento, muitas famílias dizem-se desesperadas: não têm como começar a reconstruir as suas habitações e regressar à vida normal. A maioria dos homens não tem emprego. Muitos viviam da carpintaria e da serralharia nos locais onde viviam e, aqui, não têm onde ir para pedir financiamento. As mulheres choram a perda das suas machambas.
Foto: DW/M. Mueia
À espera de terras
Nos centros de reassentamento, os desalojados aguardam a distribuição de terrenos. Muitos não perdem a esperança de serem colocados em zonas mais seguras, em áreas menos propensas a cheias, tal como prometeram as autoridades provinciais da Zambézia.
Foto: DW/M. Mueia
Voluntários satisfeitos
Os médicos que se deslocaram aos centros de reassentamento nesta missão voluntária mostram-se satisfeitos pela adesão popular aos serviços prestados, principalmente de testes voluntários de HIV e malária. Os profissionais de saúde atenderam ainda pacientes com várias queixas,desde dores nas articulações a dores de barriga, e prestaram serviços de oftalmologia.