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Cabo Delgado: Chiùre sem meios para ajudar deslocados

Lusa
1 de março de 2024

Autarca de Chiùre afirma que o município não tem meios para ajudar os milhares de deslocados que chegam de outros distritos. E Alicora Ntutunha teme os ataques que acontecem "cada vez mais perto" da vila.

O número de deslocados cresceu nos últimos dias, após ataques em distritos do sul de Cabo Delgado
O número de deslocados cresceu nos últimos dias, após ataques em distritos do sul de Cabo DelgadoFoto: Alfredo Zuniga/AFP

O autarca de Chiùre, Alicora Ntutunha, afirmou esta sexta-feira (01.03) que os ataques de insurgentes acontecem "cada vez mais perto" da vila sede daquele distrito, província moçambicana de Cabo Delgado, e que o município não consegue apoiar os milhares de deslocados.

"Na verdade, a tendência é eles cada vez mais a aproximar-se", disse o presidente do Conselho Municipal da Vila de Chiùre, Alicora Ntutunha, em declarações à agência de notícias Lusa, durante uma passagem por Maputo, numa altura em que o município, no extremo norte do país, continua a receber deslocados de vários postos administrativos do distrito de Chiùre.  

O autarca disse que os atacantes estão "a cerca de dez quilómetros a 15 quilómetros" da vila sede do distrito.

"Hoje em dia não conseguimos nem sequer dormir. Não conseguimos, apesar que na vila, neste momento, ainda não terem entrado", acrescentou Alicora Ntutunha, dizendo ainda que "se são grupos pequenos ou não, não sei, mas estão bem espalhados. É verdade".

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Deslocados em Chiùre

À vila de Chiùre chegam, conforme a Lusa constatou no local, deslocados sobretudo dos postos administrativos de Mazeze, Chiùre-Velho e Ocua, no mesmo distrito, percorrendo distâncias entre 12 a 60 quilómetros, por vezes até três dias a pé, à procura de refúgio, enquanto outros tentam passar o rio Lúrio, para a província de Nampula.

"Cada vez mais a tendência é aproximar [da vila de Chiùre]. Neste momento, as populações que vêm dos postos administrativos, e os nativos, cada vez mais também estão a tentar fugir para a vizinha Nampula", descreveu.

Com as estimativas oficiais de deslocados na vila a aproximarem-se das 20.000 pessoas, numa localidade com 75.000 habitantes, o autarca diz que o município pouco consegue fazer para socorrer esta pessoas, alojadas em casas de familiares ou nas poucas tendas instaladas em três escolas, além de instalar coberturas ou lonas, para proteção das chuvas.

"As necessidades são várias"

"O que estamos a tentar fazer é alguns alpendres [coberturas]. Já fizemos isso antes", explicou, referindo-se à vaga de deslocados que em ataques anteriores - que desde 2017 já provocaram mais de um milhão de deslocados em toda a província - levaram população do norte de Cabo Delgado a procurar refúgio em Chiùre, no sul.

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"As necessidades são várias. Mas dizer mesmo a verdade é que o nível da situação como está não é uma situação que o município pode conseguir resolver, porque estamos a falar de milhares e milhares de pessoas que estão a sair nesses postos administrativos para a vila municipal de Chiùre. Então, não é o nosso nível", lamentou. 

Segundo o autarca, não há qualquer recolher obrigatório em Chiùre, mas a população sente a necessidade de ir para casa a partir das 18h: "Começa a dar sinal que há alguma coisa que não está a acontecer bem na vila. Até às 20:00 é pior, não encontra ninguém".

Economia da vila prejudicada

Além da segurança, a situação afeta a economia da vila, com pessoas a partirem de Chiùre e negócios quase parados, descreve o autarca, acrescentando que é habitual ver "carros cheios" de pessoas que viajam para Pemba, capital da província de Cabo Delgado, ou para Nampula, "para tentar ver se se podem refugiar".

"Há outros comerciantes que em vez de trazerem as suas mercadorias neste momento, aqueles com grandes volumes de comércio, a tendência é tentar diminuir a mercadoria para outros pontos", relata.

Um quadro que deixa o autarca de Chiùre apreensivo. "Estamos preocupados, mas muito preocupados neste momento", insistiu Alicora Ntutunha.

Dados das autoridades moçambicanas e de organizações internacionais apontam para cerca de 70 mil deslocados provocados pela atual vaga de ataques no sul da província de Cabo Delgado, desde dezembro, mas que se intensificaram nas últimas três semanas.

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