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Cabo Delgado: Crianças deslocadas vítimas de abusos sexuais

Sitoi Lutxeque (Nampula)
5 de julho de 2022

Em Cabo Delgado, os casos de crianças deslocadas vítimas de abusos sexuais e casamentos precoces aumentam de forma drástica. PGR de Moçambique avisa: ao problema não é dada a devida atenção.

Mosambik | Provinz Cabo Delgado | Vertriebene Kinder Opfer von Terrorismus
Foto: Roberto Paquete/DW

A Procuradoria-Geral da República (PGR) de Moçambique denuncia o aumento de casos de casamentos precoces no país, dada a vulnerabilidade das crianças deslocados internas em Cabo Delgado. Elda Homo, responsável do departamento do Género, na PGR, não avança números, mas considera a situação preocupante.

"A situação de Cabo Delgado não é boa. As crianças estão sendo aliciadas por homens adultos, que deviam protegê-las. [Há] crianças que estão a ter relações com homens adultos em Cabo Delgado", disse.

Além destes abusos, segundo Elda Homo, muitas crianças encontram-se numa situação muito difícil: "O Ministério Público constatou situações de crianças sem acesso à escola, com uma assistência médica e medicamentosa deficiente, e muitas delas carecendo de acompanhamento psicológico. Estas crianças têm vivido dias tenebrosos, não dormem e tem estado a correr pela busca de segurança", disse.

Elda Homo: "As crianças estão sendo aliciadas por homens adultos, que deviam protegê-las"Foto: Sitoi Lutxeque/DW

Comunicação social tem cumprido o seu papel?

A magistrada lamenta o facto de estes casos estarem a ser pouco reportados pela imprensa. E numa formação recente com jornalistas, deixou um apelo: "Nós, como comunicadores, temos de reportar. Temos de ir a Cabo Delgado fazer o nosso trabalho", exortou.

Para travar estes problemas, Elda Homo revelou que a PGR já "realizou ações de sensibilização das famílias acolhedoras dos deslocados, para continuarem a prestar assistência aos menores e garantir uma sã convivência, atentos à sua condição especial".

A imprensa local afirma também estar preocupada com o abuso sexual e os casamentos precoces em Cabo Delgado. O jornal Ikweli é um dos órgãos que tem vindo a reportar situações do género.

Aunício da Silva, jornalista e diretor do jornal, contraria mesmo a PGR, salientando que as autoridades governamentais por vezes fazem um controlo cerrado nos centros de acolhimento dos deslocados e não facilitam o trabalho aos jornalistas.

Aunício da Silva: "O trabalho dos jornalistas não é bem visto por parte das autoridades governamentais [em Cabo Delgado]"Foto: Sitoi Lutxeque/DW

"Os centros de acolhimento dos deslocados são muitas vezes vigiados e o trabalho dos jornalistas não é bem visto por parte das autoridades governamentais. Portanto, esta é a grande dificuldade que nós enfrentamos e isso contribui para a fraca cobertura", lamenta.

Autoridades não apoiam quem quer denunciar casos

Aunício da Silva acusa o Ministério Público de nada estar a fazer para garantir e facilitar o trabalho da imprensa.

"A própria PGR, sendo guardiã da legalidade, devia saber porque é que os jornalistas não têm acesso a essas zonas de conflitos e zonas de reassentamentos dos deslocados, e isto deve estar claro. Não há nada que nós possamos assumir para o envolvimento neste compromisso, estamos a fazer o nosso trabalho como órgãos de comunicação social e estamos lá a reportar com todas as dificuldades que nos impõem", disse o jornalista à DW África.

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