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Cabo Delgado: Deslocados passam fome na Zambézia

5 de abril de 2021

Famílias que fugiram de ataques às suas aldeias cultivaram alimentos, mas foram prejudicadas pela estiagem. Para aliviar a fome, deslocados comem sementes e folhas. Autoridades reconhecem que não há ajuda para todos.

Deslocados em Cabo Delgado
Catarina Manuel, deslocada de Cabo Delgado, vive com a família no centro de acomodação de NicoadalaFoto: Marcelino Mueia/DW

Uma dieta insuficiente, à base de melancias e pepinos. É assim que as famílias deslocadas de Cabo Delgado tentam aliviar a fome na província da Zambézia. Os dias estão a ser difíceis para dezenas de deslocados devido à falta de comida no centro de acomodação de Mutchessane, em Nicoadala, na Zambezia.

"Isto é semente da melancia. Torro as sementes e misturo com as folhas. Aqui há muita fome não temos comida. A comida que tinha, recebi há muito tempo, em janeiro deste ano", explica Catarina Moisés, que fugiu dos ataques terroristas com seus filhos.

Alguns deslocados do conflito de Cabo Delgado estão alojados desde dezembro do ano passado naquele centro. O espaço acolhe 80 famílias. Ao chegarem, vários deslocados cultivaram cereais e hortícolas em machambas próximas, mas foram surpreendidos pelo clima.

Ao meio-dia, a melancia é consumida como uma refeição devido à crise de alimentosFoto: Marcelino Mueia/DW

A estiagem agravou

A chuva não caiu, e as culturas foram destruídas pelo sol intenso. Muitos comem sementes de pepino e melancia para matar a fome. Algumas folhas também são ingeridas por quem não consegue apanhar sementes.

"Fugimos da guerra no distrito de Medumbi, e cheguei cá em dezembro.  Há muita fome por aqui, por isso que estamos deitados nesta esteira. Não é brincadeira, é devido à fome. Fizemos machamba, mas não saiu nada por causa do calor. Além de não termos comida, falta-nos roupas. Cheguei com a minha esposa só com a roupa que visto", lamenta Maurício Bonifácio.

Há vários meses, as vítimas deixaram de receber apoio alimentar. Alguns vivem da ajuda enviada por familiares, que se encontram noutras regiões do país.

"Nesses dias, eu como à minha maneira. Eu peço a uma vovó lá na aldeia um balde de milho e levo à moagem para fazer farinha. É isso que me ajuda, mas tem outros que não têm família", lamenta o deslocado Joaquim Ndobe, que fugiu de Cabo Delgado com dois filhos e a esposa.

Nhambessa: "Não está a ser suficiente"Foto: DW/M. Mueia

Não há para todos

O administrador local, João Nhambessa, diz que o apoio chega regularmente, mas não está a ser suficiente para todos. Ele cita que a Associação dos Naturais e Amigos de Cabo Delgado e o partido FRELIMO doaram comida e roupa.

"Para além, de três em três meses, também temos dado. A ajuda não é para todos, mas para os recém-chegados, porque os primeiros três meses é o período que têm direito [à auxílio] e depois passam a ter o auto-sustento", explica

O número de deslocados de Cabo Delgado devido ao conflito armado tende a aumentar. As autoridades governamentais locais preveem a chegada de mais deslocados à província da Zambézia devido ao ataque a Palma.

A nova vida dos deslocados de Cabo Delgado na Zambézia

02:10

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