Cabo Delgado: Elogios e críticas marcam 46 anos da PRM
DW (Deutsche Welle)
17 de maio de 2021
A data é comemorada numa altura em que a polícia é desafiada a responder aos diversos crimes que assolam Moçambique, principalmente o terrorismo. Em Pemba, os cidadãos têm opiniões divididas sobre a atuação da PRM.
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A efeméride desta segunda-feira (17.05), é assinalada numa altura em que a nação é assolada por diversos tipos de crimes, com destaque para o terrorismo na província nortenha de Cabo Delgado, os ataques da autoproclamada "Junta Militar" da RENAMO no centro do país, o aumento dos raptos, o tráfico de drogas e de seres humanos, entre outros ilícitos que ameaçam a ordem e tranquilidade públicas.
Num discurso no sábado (15.05), em Maputo, por ocasião da saudação aos membros da Polícia da República de Moçambique (PRM), o Presidente moçambicano afirmou que a experiência da polícia deve se refletir no combate ao terrorismo no norte do país.
"Instamos a polícia, em coordenação com as demais Forças de Defesa e Segurança, a persistir no combate ao terrorismo e aos ataques armados da 'Junta Militar' da RENAMO para que a paz social seja restabelecida naquelas regiões do país", declarou.
Combate à criminalidade
Em Pemba, durante o lançamento da semana comemorativa do evento, o comandante-geral da PRM, Bernardino Rafael, ordenou aos agentes a encontrar soluções para estes e outros problemas que preocupam os moçambicanos, no âmbito da criminalidade.
"Virem a vossa especial atenção para o combate e prevenção dos acidentes de viação. Entreguem todas as vossas energias para combater todo aquele crime que é dirigido ao ser humano: estamos a falar dos assassinatos, de tráfico de seres humanos. Virem e apontem as vossas armas contra esses crimes, fazendo com que eles não existam na nossa pátria", disse.
Cabo Delgado: Pemba espera por mais deslocados de Palma
02:18
São crimes que abalam o país e que tiram a tranquilidade aos cidadãos na província de Cabo Delgado, que é assolada pelo terrorismo desde 2017, resultando em destruição de aldeias, assassinatos e fuga das populações. Entretanto, alguns residentes ouvidos pela DW África louvam a bravura e depositam confiança na polícia no seu combate.
"Se não fosse a polícia, nós aqui podíamos ficar espalhados. Eles estão sempre do nosso lado a proteger-nos. Quando eles passam ali, aquelas pessoas que queriam cometer crime fogem e escondem-se. Mas gostaria de pedir que continuem assim até acabarem esta guerra", disse Amade Ossufo, residente de Pemba.
"A polícia está a trabalhar no mato, em Quissanga, Mocímboa da Praia, em todos os sítios onde estão os bandidos [para os combater]. Eu gostaria que não recuassem, que continuem com este trabalho para nós conseguirmos voltar à casa à vontade e sem medo", afirmou Abdala, deslocado devido ao conflito.
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Críticas à má atuação
A par de elogios, a PRM tem sido também alvo de críticas de suposta má atuação dos seus agentes, comportamentos que, na ótica de alguns residentes de Cabo Delgado, mancham a reputação daquela instituição. Entre as acusações, constam supostas cobranças ilícitas aos cidadãos e uso abusivo da força.
"Não podem ameaçar a população. Eles devem nos ajudar e nós, população, ajudarmos a eles", acrescentou Amade Ossufo.
Bernardino Rafael reconheceu durante a parada orientada em Pemba a existência de comportamentos desviantes nas fileiras da polícia para os quais garantiu estar atento para reprimir.
"Há colegas que sempre resistiram acabar com comportamentos desviantes. Queremos alertar que os colegas não pisem premeditadamente na linha contínua, pensando que não estamos a ver", sublinhou Bernardino Rafael, comandante-geral da PRM.
Na mesma ocasião, Bernardino Rafael pediu aos agentes da polícia que respeitem os direitos humanos durante a sua atuação.
O dia da polícia é celebrado este ano sob o lema: "PRM – 46 anos valorizando recursos humanos, na luta contra a criminalidade e o terrorismo, garantindo a ordem, segurança e tranquilidade públicas".
Terrorismo em Cabo Delgado: As marcas da destruição e a crise humanitária
Edifícios vandalizados, presença de militares nas ruas e promessas de soluções por parte de políticos contrastam com a tentativa das populações de levar a vida adiante.
Foto: Roberto Paquete/DW
Infraestruturas vandalizadas
O conflito armado em Cabo Delgado deixou um número de infraestruturas destruídas na província nortenha de Moçambique. Em Macomia, os insurgentes não pouparam nem a Direção Nacional de Identificação Civil. Os danos no prédio do órgão deixaram milhares de pessoas sem documentos. E carro da polícia incendiado.
Foto: Roberto Paquete/DW
Feridas abertas até na sede da Polícia
O edifício da Polícia da República de Moçambique (PRM) em Macomia ainda carrega as marcas de um ataque em 2020. O tanzaniano Abu Yasir Hassan – também conhecido como Yasser Hassan e Abur Qasim - é reconhecido pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos e pelo Governo moçambicano como líder do Estado Islâmico em Cabo Delgado. Não está claro se o grupo é responsável pelos ataques na província.
Foto: Roberto Paquete/DW
"Eliminar todo o tipo de ameaça"
Joaquim Rivas Mangrasse (à esquerda) foi empossado chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas a 16 e março. "É missão das Forças Armadas eliminar todo o tipo de ameaça à nossa soberania, incluindo o terrorismo e os seus mentores, que não devem ter sossego e devem se arrepender de ter ousado atacar Moçambique", declarou o Presidente Filipe Nyusi (centro) na cerimónia de posse, em Maputo.
Foto: Roberto Paquete/DW
Missões constantes para conter os terroristas
Soldados das Forças Armadas de Defesa de Moçambique preparam-se para mais uma missão contra terroristas em Palma. A vila foi alvo de ataques, esta quarta-feira (24.03), segundo fontes ouvidas pela agência Lusa e segundo a imprensa moçambicana. Neste mesmo dia, as autoridades moçambicanas e a petrolífera Total anunciaram, para abril, o retorno das obras do projeto de gás, suspensas desde dezembro.
Foto: Roberto Paquete/DW
Defender o gás natural da península de Afungi
A península de Afungi, distrito de Palma, foi designada como área de segurança especial pelo Governo de Moçambique para proteger o projeto de exploração de gás da Total. O controlo é feito pelas forças de segurança designadas pelos ministérios da Defesa e do Interior. Esta quinta-feira (25.03), o Ministério da Defesa confirmou o ataque junto ao projeto de gás, na quarta-feira (24.03).
Foto: Roberto Paquete/DW
Proteger os deslocados
Soldados das FADM protegem um campo para os desolocados internos na vila de Palma. A violência armada está a provocar uma crise humanitária que já resultou em quase 700 mil deslocados e mais de duas mil mortes.
Foto: Roberto Paquete/DW
Apoiar os deslocados
De acordo com as agências humanitárias, mais de 90% dos deslocados estão hospedados "com familiares e amigos". Muitos refugiaram-se em Palma. Com as estradas bloqueadas pelos insurgentes em fevereiro e março deste ano, faltaram alimentos. A ajuda chegou de navio.
Foto: Roberto Paquete/DW
Defender a própria comunidade
Soldados das Forças Armadas de Defesa de Moçambqiue estão presentes também no distrito de Mueda. Entretanto, cansados de sofrer nas mãos dos teroristas, antigos militares decidiram proteger eles mesmos a sua comunidade e formaram uma milícia chamada "força local".
Foto: Roberto Paquete/DW
Levar a vida adiante
No mercado no centro da vida de Palma, a população tenta seguir com a vida normal quando a situação está calma. Apesar da ameaça constante imposta pela possibilidade de um novo ataque, quando "a poeira abaixa", a normalidade parece regressar pelo menos momentaneamente...
Foto: Roberto Paquete/DW
Aprender a ter esperança com as crianças
Apesar de todo o caos que se instalou um pouco por todo o lado em Cabo Delgado, a esperança por um vida normal continua entre as poulações. Na imagem, crianças de famílias deslocadas que deixaram as suas casas, fugindo dos terroristas, e foram para a cidade de Pemba. Vivem no bairro de Paquitequete e sonham com um futuro próspero, sem ter de depender da ajuda humanitária e longe da violência.