Cabo Delgado: A vida renasce nos centros de reassentamento
14 de maio de 2021Muarabo Sabila é um dos residentes da aldeia de reassentamento de Marokani, no distrito de Ancuabe. Fugiu de Macomia com a sua família em 2020, por temer a crueldade dos terroristas após a invasão da sua aldeia.
"Refugiei-me na mata durante cinco dias para escapar dos insurgentes. Quando tudo voltou à normalidade, regressei à minha casa. Mas o cenário que encontrei não me encorajou a permanecer. Por isso, fugi com a minha família para Pemba. Depois fui trazido a Nanjua", relata Sabila.
À semelhança de outros deslocados, após a chegada a Marokani, em novembro do ano passado, Sabila recebeu terreno para construir abrigo e abrir campos de cultivo. Seis meses depois, mostra-se satisfeito com as condições criadas pelo Governo para a sua reinserção na nova aldeia.
"Estou feliz pela nova unidade residencial. O terreno para machamba é muito bom para a prática da agricultura. Temos água, escola e recebemos sempre apoios do governo. Estamos agradecidos", exclama.
Adaptação e superação
Muarabo Shabila já montou uma carpintaria e ensina o ofício aos seus cinco filhos, para que estes aprendam a não cruzarem os braços diante das adversidades da vida. É apenas um dos vários exemplos de superação das vítimas de terrorismo na aldeia de Marokani.
A presidente do Instituto Nacional de Gestão de Riscos de Desastres (INGD), que visitou a aldeia esta semana, mostrou-se impressionada com a capacidade de adaptação dos deslocados.
"É o momento de valorizarmos o esforço que realmente têm estado a fazer. Mas o apelo que gostaríamos de deixar é que continuem com o corte de estacas para poderem ter as vossas casas e estarem independentes, deixarem de estar nas tendas."
Enquanto isso, a aldeia de Ntele tornou-se o novo destino de muitas vítimas do terrorismo que continuam a chegar ao distrito de Montepuez, fugindo de Palma. Os deslocados, na sua maioria, em agregados numerosos, falam de morosidade e insuficiência da assistência humanitária.
Criar condições e apoiar
Rajabo saiu de Palma para Ntele há uma semana na companhia de 20 familiares. Tudo o que têm é uma pequena cabana onde todos partilham o mesmo espaço.
"Alguns dormem fora e outros aqui mesmo. Registamos todos os membros. Alguns receberam apoio e outros ainda estão à espera", conta.
A presidente do Instituto Nacional de Gestão de Riscos de Desastres esteve na aldeia de Ntele e está ciente das preocupações. Luísa Meque garante que estão a ser criadas as condições para minimizar o sofrimento.
"Temos estado a distribuir um kit básico para as famílias e, em condições normais, estaríamos a fazer essa distribuição durante um mês. Mas é preciso saber que a quantidade de alimento que chegou ontem [bastava para] o número [de deslocados] existentes até ontem. Mas, hoje, estamos a ver que já temos um número superior em relação ao que tínhamos. Então, já sabemos qual é o número que chegou e faremos a devida distribuição às famílias que acabaram de chegar", explica.
De acordo com Luísa Meque, a situação do terrorismo em Cabo Delgado veio alterar o plano do INGD, que inicialmente havia sido desenhado para atender em época chuvosa.
"Este é um assunto imprevisível porque nós não contávamos que teríamos essa situação de guerra neste período. O que nós tínhamos contabilizado para podermos ter em termos de tendas era para a época chuvosa, mas tivémos este contratempo. Mas o que podemos garantir é que temos lonas e, vindo cá ver a situação em termos de abrigo, nós poderemos mandar também algumas lonas para puder ajudar as condições dos nossos irmãos."