A informação foi avançada pelo próprio grupo terrorista, que divulgou imagens. A captura e ocupação do porto, na noite de terça-feira (11.08), vem na sequência de ataques que ocorreram nos últimos dias.
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De acordo com o portal moçambicano Zitamar News, os insurgentes capturaram o porto de Mocímboa da Praia depois de quase cinco dias de confrontos, que terão iniciado entre 5 e 6 de agosto. Soldados da marinha, conhecidos como fuzileiros navais, defendiam a infraestrutura, mas, na terça-feira, ficaram sem munição e os atacantes ganharam terreno.
O grupo terrorista divulgou nos seus canais de comunicação imagens de agentes das Forças de Defesa e Segurança (FDS) mortos, assim como armas e munições que terão sido capturadas e armazenadas em duas barracas, alegadamente pelo braço moçambicano do grupo. As imagens estão a ser partilhadas no Twitter.
Em entrevista à DW, o jornalista Estácio Valói, que tem estado a acompanhar a situação da insurgência a partir de Pemba, capital de Cabo Delgado, confirma a captura daquele porto e descreve o cenário catastrófico. "Desde o último fim de semana, os ataques se intensificaram e acabaram com a tomada da Mocímboa da Praia bem como do seu porto pelos terroristas, segundo algumas fontes militares e não só".
A tomada do porto da Mocímboa da Praia, segundo Valói, significa que não há uma força capaz de conter o avanço dos insurgentes desde que esta ofensiva se iniciou.
"Parece que Mocímboa já não pertence a este lado"
"Ao tomarem Mocímboa da Praia e, baseando em algumas testemunhas, a cidade se tornou um bastião dos terroristas. Ou seja, parece um estado dentro de um outro Estado", afirma o jornalista, que classifica que a situação como "preocupante e grave". "E parece que Mocímboa já não pertence a este lado", lamenta.
O analista político Dércio Alfazema entende que os insurgentes tomaram uma região muito estratégica não só para o desenvolvimento de Cabo Delgado, mas de todo o país. Segundo Alfazema, "isto demonstra que [os insurgentes] começam a não se limitarem aos atos de vandalismo, mas começam a estar cada vez mais informados sobre as zonas estratégicas do desenvolvimento do país e querem tomar esses pontos estratégicos para exercer pressão em função de uma agenda oculta que ninguém conhece, nem o Governo".
Resposta urgente
A ofensiva levada a cabo pelos insurgentes na Mocímboa da Praia remete, segundo Alfazema, para a necessidade de uma resposta urgente não só do Governo, mas de parceiros para travar estes atos.
Para o analista a tomada do porto surpreende porque era suposto que todas as zonas estratégicas de desenvolvimento da província estivessem com segurança reforçada. "Nós temos naquela zona do país investimentos avultados no setor extrativo e que esperamos que estejam também sob uma boa proteção para que não estejam sujeitos a este tipo de atos e porque agora não se sabe o que eles vão fazer se vão vandalizar as infra estruturas lá existentes", afirma.
EI afirma ter capturado porto de Mocímboa da Praia
Entretanto, o Presidente da República, Filipe Nyusi, avançou que as Forças de Defesa e Segurança estão no terreno para conter o avanço dos insurgentes em Cabo Delgado.
Apoio às FDS
O portal Zitamar News, que ouviu fonte militar, avançou que a empresa de segurança privada sul-africana Dyck Advisor (DAG) ofereceu apoio aéreo no combate aos insurgentes. No entanto, a operação não terá surtido efeito, uma vez que os helicópteros partiram de Pemba e já não tinham tanto tempo de voo ao chegar ao local do confronto.
O grupo sul-africano, segundo a mesma fonte militar ouvida pelo Zitamar News, também entregou munição aos fuzileiros navais de Moçambique, mas o material foi descarregado muito longe do local do combate.
O assunto repercute no Twitter, onde os usuários destacam a ocupação do porto e de infraestruturas militares de Moçambique, apesar do apoio aéreo sul-africano.
O porto de Mocímboa da Praia é um dos locais mais estratégicos na província de Cabo Delgado, principalmente por causa do megaprojeto de gás na região de Palma - que também tem sido afetada pelos insurgentes.
Em Cabo Delgado, os ataques de grupos armados, que eclodiram em 2017, já provocaram, pelo menos, a morte de 1.000 pessoas, e algumas das ações dos grupos têm sido reivindicadas pelo grupo jihadista Estado Islâmico.
Cabo Delgado: Datas marcantes dos ataques armados
Começaram em outubro de 2017 em Mocímboa da Praia e já se alastraram a outros três distritos moçambicanos. Os ataques armados na província de Cabo Delgado, que somam já mais de 130 mortos, ainda não têm solução à vista.
Foto: DW/G. Sousa
Outubro de 2017
Os primeiros ataques de grupos armados desconhecidos na província de Cabo Delgado aconteceram no dia 5 de outubro de 2017 e tiveram como alvo três postos da polícia na vila de Mocímboa da Praia. Cinco pessoas morreram. Cerca de um mês depois, a 17 de novembro, as autoridades dão ordem de encerramento a algumas mesquitas por se suspeitar terem sido frequentadas por membros do grupo armado.
Foto: Privat
Dezembro de 2017
Surgem novos relatos de ataques nas aldeias de Mitumbate e Makulo, em Mocímboa da Praia. Na primeira semana de dezembro de 2017, terão sido assassinadas duas pessoas. Vários suspeitos foram identificados, tendo os moradores dado conta que os atacantes deram sinais de afiliação muçulmana. Por sua vez, a polícia desmentiu o envolvimento do grupo terrorista Al-Shabaab nestes ataques.
Foto: DW/G. Sousa
Janeiro a maio de 2018
Apesar de ter começado calmo, 2018 revelar-se-ia um ano de terror na província de Cabo Delgado com os ataques a alastrarem-se a mais distritos. Dada a gravidade da situação, a Assembleia da República aprovou, a 2 de maio, a Lei de Combate ao Terrorismo. Mas, no final do mês, dia 27, novos ataques foram realizados junto a Olumbi, distrito de Palma. Dez pessoas morreram, algumas decapitadas.
Foto: Privat
2 de junho de 2018
Dias mais tarde, a televisão STV dava conta que as forças de segurança moçambicanas haviam abatido, nas matas de Cabo Delgado, oito suspeitos de participação nos ataques. Foram ainda apreendidas catanas e uma metralhadora AK-47, além de comida e um passaporte tanzaniano. Por esta altura, já milhares de pessoas haviam abandonado as suas casas, temendo a repetição dos episódios de terror.
Foto: Borges Nhamire
4 de junho de 2018
Ainda se "festejava" os avanços na investigação das autoridades, e consequente abate dos suspeitos quando, a 4 e 7 de junho, se registaram novos incêndios nas aldeias de Naunde e Namaluco. Sete pessoas morreram e quatro ficaram feridas. Foram ainda destruídas 164 casas e quatro viaturas. O mesmo cenário voltou a repetir-se a 22 de junho: um novo ataque na aldeia de Maganja matou cinco pessoas.
Foto: Privat
29 de junho de 2018
Fortemente criticado por não se ter ainda pronunciado acerca dos ataques, o Presidente moçambicano Filipe Nyusi resolve fazê-lo, em Palma, perante um mar de gente. Oito meses e 33 mortos [25 vítimas dos ataques e oito supostos atacantes] depois... Em Cabo Delgado, Nyusi prometeu proteção aos cidadãos e convidou os atacantes a dialogar consigo, de forma a resolver as suas "insatisfações".
Foto: privat
Agosto de 2018
Depois de, em julho, um novo ataque à aldeia de Macanca - Nhica do Rovuma, em Palma, ter feito mais quatro mortos, Filipe Nyusi desafiou, a 16 de agosto, os oficiais promovidos no exército, por indicação da RENAMO, a usarem a sua experiência no combate contra estes grupos armados que, mais tarde, a 24 do mesmo mês, tirariam a vida a mais duas pessoas, na aldeia de Cobre, distrito de Macomia.
Foto: Jinty Jackson/AFP/Getty Images
Setembro de 2018
Setembro de 2018 voltava a ser um mês negro no norte de Moçambique. Ataques nas aldeias de Mocímboa da Praia, Ntoni e Ilala, em Macomia, deixaram pelo menos 15 mortos e dezenas de casas destruídas. No final do mês, o ministro da Defesa, Atanásio Mtumuke, afirmou que os homens armados responsáveis pelos ataques seriam "jovens expulsos de casa pelos pais".
Foto: Privat
Outubro de 2018
Um ano após o início dos ataques em Cabo Delgado, a polícia informou que os mais de 40 ataques ocorridos, haviam feito 90 mortos, 67 feridos e destruído milhares de casas. Foi também por esta altura que Filipe Nyusi anunciou a detenção de um cidadão estrangeiro suspeito de recrutar jovens para atacar as aldeias. No final do mês, começaram a ser julgados 180 suspeitos de envolvimento nos ataques.
Foto: privat
Novembro de 2018
Novos relatos de mortes macabras surgem na imprensa. Seis pessoas foram encontradas mortas com sinais de agressão com catana na aldeia de Pundanhar, em Palma. Dias depois, o cenário repetiu-se nas aldeias de Chicuaia Velha, Lukwamba e Litingina, distrito de Nangade. Balanço: 11 mortos. Em Pemba, o embaixador da União Europeia oferecia ajuda ao país.
Foto: Privat
6 de dezembro de 2018
A população do distrito de Nangade terá feito justiça pelas próprias mãos e morto três homens envolvidos nos ataques. Na altura, à DW, David Machimbuko, administrador do distrito de Palma, deu conta que "depois de um ataque, a população insurgiu-se e acabou por atingir alguns deles". Entretanto, o Ministério Público juntou mais nomes à lista dos arguidos neste caso. Entre eles está Andre Hanekom.
Foto: DW/N. Issufo
16 de dezembro de 2018
A 16 de dezembro, e após mais um ataque armado no distrito de Palma, que matou seis pessoas, entre as quais uma criança, Moçambique e Tanzânia anunciaram uma união de esforços no combate aos crimes transfronteiriços. 2018 chegava assim ao fim sem uma solução à vista para os ataques que já haviam feito, pelo menos, 115 mortos. O julgamento dos já acusados de envolvimento nos ataques continua.
Foto: privat
Janeiro de 2019
O novo ano não começou da melhor forma. Sete pessoas morreram quando um grupo armado intercetou uma carrinha de caixa aberta que transportava passageiros entre Palma e Mpundanhar. Na semana seguinte, outras sete pessoas foram assassinadas a tiro no Posto Administrativo de Ulumbi. Um comerciante foi ainda decapitado em Maganja, distrito de Palma, no passado dia 20.