Cabo Delgado: Exército retoma controlo de Mocímboa da Praia
AFP | tms
9 de agosto de 2021
As Forças de Moçambique e do Ruanda recuperaram Mocímboa da Praia. A vila, na província de Cabo Delgado, estava sob domínio dos terroristas desde o ano passado. Autoridades dizem que operações vão continuar na região.
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O Ministério da Defesa de Moçambique confirmou este domingo (08.08) que a Força Conjunta, formada por soldados moçambicanos e ruandeses, retomou esta manhã o controlo de Mocímboa da Praia.
Num comunicado distribuído à imprensa, a Defesa moçambicana detalhou que as tropas controlam "as infraestruturas públicas e privadas, com enfoque para edifícios do Governo local, porto, aeroporto, hospital, mercados, estabelecimentos de restauração, entre outros objetos económicos".
A informação também foi avançada pelas forças do Ruanda. "A cidade portuária de Mocímboa da Praia, um importante reduto da insurreição há mais de dois anos, foi capturada pelas forças de segurança ruandesas e moçambicanas", disseram as Forças de Defesa do Ruanda no Twitter.
A informação também foi confirmada à agência de notícias AFP pelo porta-voz da força ruandesa, coronel Ronald Rwivanga.
De acordo com o Ministério da Defesa de Moçambique, o sucesso das operações resulta da "efetiva colaboração das comunidades locais". "Apela-se ao reforço da vigilância coletiva, tendo em conta que, devido ao ímpeto da ofensiva em curso, os terroristas terão a tendência de se infiltrar, com o objetivo de perturbar as investigações e o cadastro das populações resgatadas", lê-se no comunicado distribuído este domingo.
Reduto dos insurgentes
Mocímboa da Praia, palco dos primeiros ataques terroristas em Cabo Delgado, em outubro de 2017, tornou-se desde o ano passado o quartel-general de facto dos extremistas ligados ao Estado islâmico, localmente referidos como Al-Shabab.
A vila "foi o último reduto dos insurgentes, marcando o fim da primeira fase das operações, que está a desalojar os insurgentes da zona", disse Rwivanga numa mensagem de texto.
No Twitter, as Forças de Defesa do Ruanda tamém partilharam fotos feitas no terreno:
O Ruanda enviou 1.000 homens no mês passado para apoiar as forças militares moçambicanas que têm lutado para recuperar o controlo em Cabo Delgado, onde se encontra um dos maiores projetos de gás natural liquefeito de África.
As forças ruandesas na semana passada reclamaram o seu primeiro sucesso desde o destacamento, dizendo que tinham ajudado o exército moçambicano a recuperar o controlo de Awasse - uma pequena, mas também estratégica vila perto de Mocímboa da Praia.
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Operações vão continuar
"Vamos continuar com as operações de segurança para pacificar completamente essas áreas e permitir que as forças moçambicanas e ruandesas conduzam operações de estabilização à medida que (os deslocados) regressam a casa e os negócios continuam", acrescentou Rwivanga.
As tropas ruandesas destacadas a 9 de julho, na sequência de uma visita a Kigali em abril pelo Presidente moçambicano Filipe Nyusi.
Foram seguidas semanas mais tarde por forças dos países vizinhos, que estão a ser destacadas sob a égide da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC).
O Botswana tornou-se o primeiro país da SADC a enviar homens, a 26 de julho, destacando 296 soldados. O Presidente Mokgweetsi Masisi, que comanda o braço de defesa e segurança da SADC, tem declarado a necessidade urgente de estabilidade regional.
A potência regional e vizinha de Moçambique, África do Sul, anunciou a 28 de julho que destacaria 1.495 soldados. Um dia mais tarde, o Zimbabwe revelou planos para enviar 304 soldados não combatentes para treinar os batalhões de infantaria de Moçambique.
Angola destacou então 20 militares especializados da força aérea, enquanto a Namíbia contribuirá com cerca de 400.000 dólares para a ofensiva antiterrorista.
Missão da SADC
Esta segunda-feira, Mokgweetsi Masisi e Filipe Nyusi lançarão formalmente a Missão da SADC em Moçambique (SAMIM) em Pemba, a capital da província de Cabo Delgado.
Entretanto, a União Europeia estabeleceu formalmente a 12 de julho uma missão militar para Moçambique a fim de ajudar a treinar as suas forças armadas que lutam contra os jihadistas.
Portugal já está a dar formação às tropas moçambicanas, esperando-se que os instrutores militares de Lisboa venham a constituir metade da nova missão da UE.
Artigo atualizado às 16h15 do Tempo Universal Coordenado (UTC) com informações do Ministério da Defesa de Moçambique.
Cabo Delgado: Datas marcantes dos ataques armados
Começaram em outubro de 2017 em Mocímboa da Praia e já se alastraram a outros três distritos moçambicanos. Os ataques armados na província de Cabo Delgado, que somam já mais de 130 mortos, ainda não têm solução à vista.
Foto: DW/G. Sousa
Outubro de 2017
Os primeiros ataques de grupos armados desconhecidos na província de Cabo Delgado aconteceram no dia 5 de outubro de 2017 e tiveram como alvo três postos da polícia na vila de Mocímboa da Praia. Cinco pessoas morreram. Cerca de um mês depois, a 17 de novembro, as autoridades dão ordem de encerramento a algumas mesquitas por se suspeitar terem sido frequentadas por membros do grupo armado.
Foto: Privat
Dezembro de 2017
Surgem novos relatos de ataques nas aldeias de Mitumbate e Makulo, em Mocímboa da Praia. Na primeira semana de dezembro de 2017, terão sido assassinadas duas pessoas. Vários suspeitos foram identificados, tendo os moradores dado conta que os atacantes deram sinais de afiliação muçulmana. Por sua vez, a polícia desmentiu o envolvimento do grupo terrorista Al-Shabaab nestes ataques.
Foto: DW/G. Sousa
Janeiro a maio de 2018
Apesar de ter começado calmo, 2018 revelar-se-ia um ano de terror na província de Cabo Delgado com os ataques a alastrarem-se a mais distritos. Dada a gravidade da situação, a Assembleia da República aprovou, a 2 de maio, a Lei de Combate ao Terrorismo. Mas, no final do mês, dia 27, novos ataques foram realizados junto a Olumbi, distrito de Palma. Dez pessoas morreram, algumas decapitadas.
Foto: Privat
2 de junho de 2018
Dias mais tarde, a televisão STV dava conta que as forças de segurança moçambicanas haviam abatido, nas matas de Cabo Delgado, oito suspeitos de participação nos ataques. Foram ainda apreendidas catanas e uma metralhadora AK-47, além de comida e um passaporte tanzaniano. Por esta altura, já milhares de pessoas haviam abandonado as suas casas, temendo a repetição dos episódios de terror.
Foto: Borges Nhamire
4 de junho de 2018
Ainda se "festejava" os avanços na investigação das autoridades, e consequente abate dos suspeitos quando, a 4 e 7 de junho, se registaram novos incêndios nas aldeias de Naunde e Namaluco. Sete pessoas morreram e quatro ficaram feridas. Foram ainda destruídas 164 casas e quatro viaturas. O mesmo cenário voltou a repetir-se a 22 de junho: um novo ataque na aldeia de Maganja matou cinco pessoas.
Foto: Privat
29 de junho de 2018
Fortemente criticado por não se ter ainda pronunciado acerca dos ataques, o Presidente moçambicano Filipe Nyusi resolve fazê-lo, em Palma, perante um mar de gente. Oito meses e 33 mortos [25 vítimas dos ataques e oito supostos atacantes] depois... Em Cabo Delgado, Nyusi prometeu proteção aos cidadãos e convidou os atacantes a dialogar consigo, de forma a resolver as suas "insatisfações".
Foto: privat
Agosto de 2018
Depois de, em julho, um novo ataque à aldeia de Macanca - Nhica do Rovuma, em Palma, ter feito mais quatro mortos, Filipe Nyusi desafiou, a 16 de agosto, os oficiais promovidos no exército, por indicação da RENAMO, a usarem a sua experiência no combate contra estes grupos armados que, mais tarde, a 24 do mesmo mês, tirariam a vida a mais duas pessoas, na aldeia de Cobre, distrito de Macomia.
Foto: Jinty Jackson/AFP/Getty Images
Setembro de 2018
Setembro de 2018 voltava a ser um mês negro no norte de Moçambique. Ataques nas aldeias de Mocímboa da Praia, Ntoni e Ilala, em Macomia, deixaram pelo menos 15 mortos e dezenas de casas destruídas. No final do mês, o ministro da Defesa, Atanásio Mtumuke, afirmou que os homens armados responsáveis pelos ataques seriam "jovens expulsos de casa pelos pais".
Foto: Privat
Outubro de 2018
Um ano após o início dos ataques em Cabo Delgado, a polícia informou que os mais de 40 ataques ocorridos, haviam feito 90 mortos, 67 feridos e destruído milhares de casas. Foi também por esta altura que Filipe Nyusi anunciou a detenção de um cidadão estrangeiro suspeito de recrutar jovens para atacar as aldeias. No final do mês, começaram a ser julgados 180 suspeitos de envolvimento nos ataques.
Foto: privat
Novembro de 2018
Novos relatos de mortes macabras surgem na imprensa. Seis pessoas foram encontradas mortas com sinais de agressão com catana na aldeia de Pundanhar, em Palma. Dias depois, o cenário repetiu-se nas aldeias de Chicuaia Velha, Lukwamba e Litingina, distrito de Nangade. Balanço: 11 mortos. Em Pemba, o embaixador da União Europeia oferecia ajuda ao país.
Foto: Privat
6 de dezembro de 2018
A população do distrito de Nangade terá feito justiça pelas próprias mãos e morto três homens envolvidos nos ataques. Na altura, à DW, David Machimbuko, administrador do distrito de Palma, deu conta que "depois de um ataque, a população insurgiu-se e acabou por atingir alguns deles". Entretanto, o Ministério Público juntou mais nomes à lista dos arguidos neste caso. Entre eles está Andre Hanekom.
Foto: DW/N. Issufo
16 de dezembro de 2018
A 16 de dezembro, e após mais um ataque armado no distrito de Palma, que matou seis pessoas, entre as quais uma criança, Moçambique e Tanzânia anunciaram uma união de esforços no combate aos crimes transfronteiriços. 2018 chegava assim ao fim sem uma solução à vista para os ataques que já haviam feito, pelo menos, 115 mortos. O julgamento dos já acusados de envolvimento nos ataques continua.
Foto: privat
Janeiro de 2019
O novo ano não começou da melhor forma. Sete pessoas morreram quando um grupo armado intercetou uma carrinha de caixa aberta que transportava passageiros entre Palma e Mpundanhar. Na semana seguinte, outras sete pessoas foram assassinadas a tiro no Posto Administrativo de Ulumbi. Um comerciante foi ainda decapitado em Maganja, distrito de Palma, no passado dia 20.