Continuam a chegar a Pemba centenas de deslocados que fogem da insegurança na vila moçambicana de Palma. Secretário de Estado está preocupado com movimentação de terroristas, que podem fazer-se passar por vítimas.
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O secretário de Estado em Cabo Delgado, Armindo Ngunga, chama a atenção dos intervenientes no processo de desembarque dos deslocados por forma a evitar a movimentação de terroristas fazendo-se passar por vítimas. "Isto aqui é guerra. Estes aviões de barcos trazem pessoas vítimas, mas também podem trazer pessoas que estavam no outro lado, podem trazer terroristas", sublinhou.
Para Armindo Ngunga, todo o cuidado é pouco. "É preciso passar a pente fino, revistar. Não pode falhar nada, senão estaremos aqui a acomodar terroristas. Os nossos homens de defesa e segurança devem fazer o seu trabalho e é melhor deixá-los fazerem", acrescentou.
Há uma semana, os terroristas invadiram a vila sede distrital de Palma, provocando mortes, destruição e pânico entre a população local. Desde então, uma vaga de deslocados tem chegado a Pemba, a capital provincial de Cabo Delgado.
Deterioração da crise
O secretário de Estado em Cabo Delgado convocou uma reunião de emergência, na terça-feira (30.03), com as agências humanitárias que operam na província para discutir como lidar com a deterioração da crise.
Os representantes das agências humanitárias reafirmaram a sua prontidão e disponibilidade de meios humanos e materiais para prestar assistência às pessoas que chegam.
"É necessário a imediata identificação daqueles grupos mais vulneráveis dentre aqueles que estão a fugir do conflito em Palma", disse Eduardo Burmeistein, representante de uma agência humanitária.
O Comité Internacional da Cruz Vermelha espera receber em abril três mil kits, cada um composto por uma lona, dois cobertores, duas redes mosqueteiras, duas esteiras, duas barras de sabão, um balde e um conjunto de cozinha, para 3.000 famílias.
Mas para que essa assistência às vítimas do terrorismo em Palma decorra num ambiente ordeiro, Ngunga exige maior sincronia entre as organizações humanitárias e o Governo.
"Temos de definir os procedimentos para evitarmos congestionamento no porto, numa altura imprópria e, se calhar, de forma desnecessária. Há uns que podem intervir à chegada, outros podem intervir mais tarde, precisamos desse tipo de organização", o secretário de Estado.
Terrorismo em Cabo Delgado: As marcas da destruição e a crise humanitária
Edifícios vandalizados, presença de militares nas ruas e promessas de soluções por parte de políticos contrastam com a tentativa das populações de levar a vida adiante.
Foto: Roberto Paquete/DW
Infraestruturas vandalizadas
O conflito armado em Cabo Delgado deixou um número de infraestruturas destruídas na província nortenha de Moçambique. Em Macomia, os insurgentes não pouparam nem a Direção Nacional de Identificação Civil. Os danos no prédio do órgão deixaram milhares de pessoas sem documentos. E carro da polícia incendiado.
Foto: Roberto Paquete/DW
Feridas abertas até na sede da Polícia
O edifício da Polícia da República de Moçambique (PRM) em Macomia ainda carrega as marcas de um ataque em 2020. O tanzaniano Abu Yasir Hassan – também conhecido como Yasser Hassan e Abur Qasim - é reconhecido pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos e pelo Governo moçambicano como líder do Estado Islâmico em Cabo Delgado. Não está claro se o grupo é responsável pelos ataques na província.
Foto: Roberto Paquete/DW
"Eliminar todo o tipo de ameaça"
Joaquim Rivas Mangrasse (à esquerda) foi empossado chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas a 16 e março. "É missão das Forças Armadas eliminar todo o tipo de ameaça à nossa soberania, incluindo o terrorismo e os seus mentores, que não devem ter sossego e devem se arrepender de ter ousado atacar Moçambique", declarou o Presidente Filipe Nyusi (centro) na cerimónia de posse, em Maputo.
Foto: Roberto Paquete/DW
Missões constantes para conter os terroristas
Soldados das Forças Armadas de Defesa de Moçambique preparam-se para mais uma missão contra terroristas em Palma. A vila foi alvo de ataques, esta quarta-feira (24.03), segundo fontes ouvidas pela agência Lusa e segundo a imprensa moçambicana. Neste mesmo dia, as autoridades moçambicanas e a petrolífera Total anunciaram, para abril, o retorno das obras do projeto de gás, suspensas desde dezembro.
Foto: Roberto Paquete/DW
Defender o gás natural da península de Afungi
A península de Afungi, distrito de Palma, foi designada como área de segurança especial pelo Governo de Moçambique para proteger o projeto de exploração de gás da Total. O controlo é feito pelas forças de segurança designadas pelos ministérios da Defesa e do Interior. Esta quinta-feira (25.03), o Ministério da Defesa confirmou o ataque junto ao projeto de gás, na quarta-feira (24.03).
Foto: Roberto Paquete/DW
Proteger os deslocados
Soldados das FADM protegem um campo para os desolocados internos na vila de Palma. A violência armada está a provocar uma crise humanitária que já resultou em quase 700 mil deslocados e mais de duas mil mortes.
Foto: Roberto Paquete/DW
Apoiar os deslocados
De acordo com as agências humanitárias, mais de 90% dos deslocados estão hospedados "com familiares e amigos". Muitos refugiaram-se em Palma. Com as estradas bloqueadas pelos insurgentes em fevereiro e março deste ano, faltaram alimentos. A ajuda chegou de navio.
Foto: Roberto Paquete/DW
Defender a própria comunidade
Soldados das Forças Armadas de Defesa de Moçambqiue estão presentes também no distrito de Mueda. Entretanto, cansados de sofrer nas mãos dos teroristas, antigos militares decidiram proteger eles mesmos a sua comunidade e formaram uma milícia chamada "força local".
Foto: Roberto Paquete/DW
Levar a vida adiante
No mercado no centro da vida de Palma, a população tenta seguir com a vida normal quando a situação está calma. Apesar da ameaça constante imposta pela possibilidade de um novo ataque, quando "a poeira abaixa", a normalidade parece regressar pelo menos momentaneamente...
Foto: Roberto Paquete/DW
Aprender a ter esperança com as crianças
Apesar de todo o caos que se instalou um pouco por todo o lado em Cabo Delgado, a esperança por um vida normal continua entre as poulações. Na imagem, crianças de famílias deslocadas que deixaram as suas casas, fugindo dos terroristas, e foram para a cidade de Pemba. Vivem no bairro de Paquitequete e sonham com um futuro próspero, sem ter de depender da ajuda humanitária e longe da violência.