Em Cabo Delgado, no norte de Moçambique, há cerca de 170 mil pessoas com HIV/SIDA. A prevalência do vírus na província aumentou para 13,8% em 2018 – é a taxa mais alta em toda a região norte.
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O Governo provincial está preocupado com o aumento do HIV/SIDA em Cabo Delgado e quer reverter o cenário. Por isso, lançou uma campanha de comunicação sobre as medidas profiláticas.
Todos os dias, no centro de saúde do bairro de Natite, na cidade de Pemba, técnicos de saúde e ativistas desdobram-se em palestras sobre diversas doenças. Desta vez, o tema foi como evitar a infeção pelo HIV, o vírus da imunodeficiência humana.
Cerca de 170 mil pessoas vivem com o vírus na província de Cabo Delgado. Apontam-se fenómenos culturais e comportamentais para as elevadas taxas de prevalência de HIV.
Teles Jemusse, secretário executivo do Conselho Provincial de Combate ao HIV/SIDA, em Cabo Delgado, chama a atenção para outra causa: a falta de informação: "Quando vamos a alguns pontos da província deparamo-nos com gente que não acredita que o HIV existe. Gente que faz perguntas como: 'HIV existe mesmo? Mas isso é verdade?' Efetivamente é importante continuarmos a falar do HIV. Muitas pessoas não têm o conhecimento relevante".
É o caso de Júlio António, residente de Pemba: "Costumo ouvir sobre HIV/SIDA, mas o que significa eu não sei. Sobre preservativo é isso que estou a dizer, não sei como é que se usa".
Ukumi contra o HIV
Reconhecendo a falta de informação entre a população sobre o HIV/SIDA, o Executivo provincial está a promover uma campanha de comunicação em massa contra a epidemia, denominada "Ukumi Cabo Delgado Luta contra o HIV/SIDA".
O objetivo é dotar as comunidades de conhecimentos sobre as formas de transmissão e prevenção da doença, impulsionar a testagem voluntária do HIV e reduzir o estigma e a discriminação associados à enfermidade.
Cabo Delgado: Autoridades intensificam combate ao HIV/SIDA
"Com esta campanha, queremos que as pessoas comecem a transformar o conhecimento em hábitos e comportamentos tendentes a reduzir novas infeções, abandono do tratamento, promovendo modos de ser e estar positivos em relação à pandemia do HIV/SIDA", sublinha o governador de Cabo Delgado, Júlio José Parruque.
As mensagens da campanha "Ukumi" são disseminadas através de palestras, música, teatro, spots radiofónicos e televisivos e outros meios. É dada atenção especial aos adolescentes, jovens e mulheres, considerados a camada mais vulnerável.
Segundo dados do setor da saúde, dos 100 mil pacientes inscritos só cerca de 60 mil seguem com regularidade o tratamento anti-retroviral. O que leva ao abandono dos tratamentos?
O nutricionista Ali Juma tem uma explicação: "Temos instituições que estão a trabalhar na área de HIV/SIDA, mas estão mais preocupados com entrega dos anti-retrovirais, não com a questão nutricional dos pacientes. Então, eu propunha que existisse uma cesta básica ou os pacientes passassem em consultas de nutrição para acompanhar o tratamento anti-retroviral com a alimentação".
A província de Cabo Delgado tem 126 unidades sanitárias, onde está disponível o tratamento anti-retroviral, de forma gratuita.
Perigos da ignorância: Os presidentes africanos e a negação da SIDA
Saber é poder. Por isso o lema do Dia Mundial da SIDA 2018 é "conhece o teu estado". Estar ciente da doença torna mais fácil combatê-la. Mas nem todos os presidentes africanos entenderam a ameaça que o vírus representa.
Foto: picture-alliance/dpa
Negação fatal
O ex-Presidente sul africano Thabo Mbeki (1999 - 2008) ficou para a história como o principal negacionista do HIV/SIDA. Contrariando a evidência científica, Mbeki insistiu que o HIV não causava SIDA e mandou que a doença fosse tratada com ervas. Analistas acreditam que isto custou a vida a 300.000 pessoas. Há quem exija que o ex-Presidente seja julgado por crimes contra a humanidade.
Foto: Getty Images/AFP/G. Khan
O Presidente curandeiro
Em 2007, o então Presidente da Gâmbia, Yayah Jammeh (1996 - 2017) obrigou pacientes da SIDA a submeter-se a uma cura que dizia ter pessoalmente desenvolvido. A cura consistia de uma mistura de ervas. Um número desconhecido de pessoas morreu. Jammeh, que dizia ter poderes místicos, é o primeiro Presidente africano a ser julgado por violação dos direitos de pessoas com HIV/SIDA.
Foto: picture alliance/AP Photo
Duche como prevenção
Outro Presidente famoso pelas suas declarações inconvencionais sobre o HIV/SIDA é Jacob Zuma da África do Sul (2009 - 2018). Durante o processo por violação de uma mulher HIV-positiva em 2006, Zuma disse que não correu perigo de contágio apesar de não ter usado preservativo, porque "tomou um duche a seguir".
Foto: Reuters/N. Bothma
Sem preservativo?
O Presidente do Uganda, Yoweri Museveni , também levou algum tempo a compreender a dimensão do problema. Ainda em 2004, numa conferência internacional na Tailândia dedicada ao combate da SIDA, Museveni minimizou a eficácia de preservativos alegando, entre outras coisas, que o seu uso contrariava algumas práticas sexuais africanas. Os seus comentários foram recebidos com risadas pela audiência.
Foto: picture-alliance/dpa/I. Langsdon
Um imposto para o tratamento
Algumas medidas tomadas por líderes africanos para combater a doença foram mal recebidas. Em 1999, o Presidente do Zimbabué, Robert Mugabe (1987-2017) introduziu um imposto destinado a apoiar os órfãos e pacientes do HIV/SIDA, que provocou protestos. O imposto ainda existe. Mugabe admitiu que membros da sua família foram afetados e chamou à infeção "um dos maiores desafios da nação".
Foto: picture-alliance/AP Photo/T. Mukwazhi
Um grande exemplo
As possíveis consequências económicas, por exemplo, para o turismo, fizeram com que muitos líderes africanos mostrassem relutância em aceitar a dimensão da ameaça. Mas Kenneth Kaunda, o Presidente da Zâmbia (1964-1991), já em 1987 anunciou a morte de um filho com SIDA. Em 2002 foi o primeiro Presidente africano a fazer um teste de SIDA. Até hoje continua a lutar pela erradicação da doença.
Foto: picture-alliance/AP Photo/M. Mwape
Testes compulsórios
A luta contra a SIDA do sucessor de Kaunda, Edgar Lungu, também causou consternação. Lungu quis introduzir testes compulsórios na Zâmbia em 2016. Mas protestos no país e no exterior obrigaram-no a recuar. Sobretudo quando a Organização Mundial de Saúde criticou o propósito e deixou claro que esses testes só servem para aumentar o estigma do HIV/SIDA.
Foto: Imago/Xinhua
Por uma África sem HIV
Depois de abandonar o cargo de Presidente do Botswana, Festus Mogae (1998-2008) lançou a organização "Campeões por uma geração sem SIDA", à qual se juntaram numerosos ex-chefes de Estado e outras personalidades influentes. Juntos tentam pressionar governos e parceiros a investir mais na prevenção da SIDA.