Moçambique: Grave crise alimentar deverá persistir até 2022
Lusa
2 de setembro de 2021
Apesar de os níveis de violência armada estarem a diminuir em Cabo Delgado, no norte de Moçambique, a crise alimentar que se vive na região deverá persistir no próximo ano, refere-se num relatório humanitário.
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"A situação de 'crise' (fase 03 do índice IPC, de 01 a 05) deverá continuar em Cabo Delgado", pelo menos "até final do período em análise, em janeiro de 2022", aponta o documento da Rede de Alerta Antecipado de Fome (rede Fews, sigla inglesa), que apoia as ações de agências governamentais e humanitárias.
O IPC é uma classificação internacional sobre a situação de segurança alimentar (da sigla inglesa Integrated Food Security Phase Classification) e varia entre os níveis 01, insegurança mínima, a 05, fome severa.
Em áreas inacessíveis até mesmo para a ajuda humanitária, devido ao conflito entre militares e grupos insurgentes, "existe a preocupação de que as pessoas vulneráveis" estejam a enfrentar situações mais extremas, com "falta de alimentos mais acentuada, indicativa de situações de emergência (IPC na fase 04)", acrescenta.
Segundo o documento, esse será o caso dos habitantes "que se refugiaram na floresta para evitar o conflito ou que foram feitos reféns pelos insurgentes".
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"Prevê-se que o conflito em Cabo Delgado continue com frequência inalterada em áreas remotas, enquanto a violência contra civis deve diminuir", lê-se no documento.
Dependência de apoio
Embora haja deslocados "a regressar às suas zonas de origem, a maioria provavelmente permanecerá longe e dependente do apoio da família anfitriã, das comunidades e da assistência humanitária", antecipa a análise.
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Por outro lado, o acesso limitado a sementes e outros produtos agrícolas para a próxima temporada "deverá também aumentar a pressão sobre os recursos de resposta humanitária", que, por seu lado, têm lutado com falta de financiamento.
"Em julho e agosto, a assistência alimentar humanitária alcançou cerca de 854.000 deslocados internos em Cabo Delgado e Nampula", mas "devido à falta de financiamento, o Programa Alimentar Mundial (PAM) forneceu uma única ração completa em julho para cobrir as necessidades de assistência alimentar até agosto", refere-se no relatório da rede Fews.
Tal fez com que "os beneficiários recebessem alimentos para cobrir apenas cerca de 39% das necessidades de quilocalorias diárias, ao longo de dois meses".
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Distribuição de alimentos
No relatório nota-se que o PAM anunciou que a distribuição de uma única ração completa voltaria a acontecer em setembro para assim cobrir as necessidades de assistência alimentar até outubro.
A Fews, Rede de Sistemas de Alerta Antecipado de Fome, agrega organizações norte-americanas e serve como ferramenta de auxílio à ação humanitária.
O conflito armado entre forças militares e insurgentes em Cabo Delgado já provocou mais de 3.100 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED, e mais de 817 mil deslocados, segundo as autoridades moçambicanas.
A luta contra os insurgentes ganhou um novo impulso em agosto após a reconquista de Mocímboa da Praia, vila onde os rebeldes protagonizaram o seu primeiro ataque em outubro de 2017.
Terrorismo em Cabo Delgado: As marcas da destruição e a crise humanitária
Edifícios vandalizados, presença de militares nas ruas e promessas de soluções por parte de políticos contrastam com a tentativa das populações de levar a vida adiante.
Foto: Roberto Paquete/DW
Infraestruturas vandalizadas
O conflito armado em Cabo Delgado deixou um número de infraestruturas destruídas na província nortenha de Moçambique. Em Macomia, os insurgentes não pouparam nem a Direção Nacional de Identificação Civil. Os danos no prédio do órgão deixaram milhares de pessoas sem documentos. E carro da polícia incendiado.
Foto: Roberto Paquete/DW
Feridas abertas até na sede da Polícia
O edifício da Polícia da República de Moçambique (PRM) em Macomia ainda carrega as marcas de um ataque em 2020. O tanzaniano Abu Yasir Hassan – também conhecido como Yasser Hassan e Abur Qasim - é reconhecido pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos e pelo Governo moçambicano como líder do Estado Islâmico em Cabo Delgado. Não está claro se o grupo é responsável pelos ataques na província.
Foto: Roberto Paquete/DW
"Eliminar todo o tipo de ameaça"
Joaquim Rivas Mangrasse (à esquerda) foi empossado chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas a 16 e março. "É missão das Forças Armadas eliminar todo o tipo de ameaça à nossa soberania, incluindo o terrorismo e os seus mentores, que não devem ter sossego e devem se arrepender de ter ousado atacar Moçambique", declarou o Presidente Filipe Nyusi (centro) na cerimónia de posse, em Maputo.
Foto: Roberto Paquete/DW
Missões constantes para conter os terroristas
Soldados das Forças Armadas de Defesa de Moçambique preparam-se para mais uma missão contra terroristas em Palma. A vila foi alvo de ataques, esta quarta-feira (24.03), segundo fontes ouvidas pela agência Lusa e segundo a imprensa moçambicana. Neste mesmo dia, as autoridades moçambicanas e a petrolífera Total anunciaram, para abril, o retorno das obras do projeto de gás, suspensas desde dezembro.
Foto: Roberto Paquete/DW
Defender o gás natural da península de Afungi
A península de Afungi, distrito de Palma, foi designada como área de segurança especial pelo Governo de Moçambique para proteger o projeto de exploração de gás da Total. O controlo é feito pelas forças de segurança designadas pelos ministérios da Defesa e do Interior. Esta quinta-feira (25.03), o Ministério da Defesa confirmou o ataque junto ao projeto de gás, na quarta-feira (24.03).
Foto: Roberto Paquete/DW
Proteger os deslocados
Soldados das FADM protegem um campo para os desolocados internos na vila de Palma. A violência armada está a provocar uma crise humanitária que já resultou em quase 700 mil deslocados e mais de duas mil mortes.
Foto: Roberto Paquete/DW
Apoiar os deslocados
De acordo com as agências humanitárias, mais de 90% dos deslocados estão hospedados "com familiares e amigos". Muitos refugiaram-se em Palma. Com as estradas bloqueadas pelos insurgentes em fevereiro e março deste ano, faltaram alimentos. A ajuda chegou de navio.
Foto: Roberto Paquete/DW
Defender a própria comunidade
Soldados das Forças Armadas de Defesa de Moçambqiue estão presentes também no distrito de Mueda. Entretanto, cansados de sofrer nas mãos dos teroristas, antigos militares decidiram proteger eles mesmos a sua comunidade e formaram uma milícia chamada "força local".
Foto: Roberto Paquete/DW
Levar a vida adiante
No mercado no centro da vida de Palma, a população tenta seguir com a vida normal quando a situação está calma. Apesar da ameaça constante imposta pela possibilidade de um novo ataque, quando "a poeira abaixa", a normalidade parece regressar pelo menos momentaneamente...
Foto: Roberto Paquete/DW
Aprender a ter esperança com as crianças
Apesar de todo o caos que se instalou um pouco por todo o lado em Cabo Delgado, a esperança por um vida normal continua entre as poulações. Na imagem, crianças de famílias deslocadas que deixaram as suas casas, fugindo dos terroristas, e foram para a cidade de Pemba. Vivem no bairro de Paquitequete e sonham com um futuro próspero, sem ter de depender da ajuda humanitária e longe da violência.