Cabo Delgado: Grupo mata chefe de aldeia e população foge
Lusa
1 de novembro de 2022
Homens armados mataram o chefe da comunidade de Murrameia e a sua mulher no sábado (29.10), segundo residentes. Ataque colocou quase mil pessoas em fuga, a maioria crianças.
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Um grupo armado matou no sábado (29.10) o chefe de uma aldeia e a sua mulher em Cabo Delgado, norte de Moçambique, relataram hoje diferentes fontes da comunidade de Murrameia.
O ataque provocou a fuga de quase mil pessoas, a maioria crianças, segundo dados hoje publicados pela Organização Internacional das Migrações (OIM).
A aldeia pertence ao posto administrativo de Hucula, no distrito de Namuno, adjacente ao distrito de Montepuez onde há 10 dias um ataque armado a uma mina de rubis obrigou à suspensão de atividades e à evacuação de trabalhadores.
Ambos os distritos estão no extremo sudoeste de Cabo Delgado, que até setembro esteve livre de terroristas e que está mais próximo das províncias vizinhas (Nampula e Niassa) do que de Pemba, capital provincial, que fica a cerca de 400 quilómetros.
"Por volta das 15:00 [14:00 em Lisboa] fomos surpreendidos por um grupo que pensamos tratar-se de terroristas, pela maneira de agir", descreveu um residente.
População em fuga no norte de Moçambique
01:59
O grupo decapitou o chefe da aldeia e a esposa, incendiou a escola primária e um trator de uma associação agrícola local, detalhou, o que fez com que a população fugisse para a sede de distrito.
População em fuga
"Abandonámos a aldeia porque eles são violentos. Mataram o nosso chefe de aldeia e não sabemos o que nos espera", acrescentou a mesma fonte.
Outra fonte local referiu que está desaparecida, pelo menos, uma criança que se afastou dos pais durante o ataque. A população das aldeias em redor também começou a fugir para a sede de distrito.
A OIM emitiu um alerta do mecanismo de registo de deslocados em Cabo Delgado, segundo o qual 958 pessoas saíram no sábado e domingo das zonas de Hucula e Machoca para a sede distrital.
"O medo e ataques confirmados por grupos armados estiveram na origem da movimentação", lê-se no alerta, segundo o qual há 100 deslocados vulneráveis, entre grávidas, idosos e menores separados da família. Do total de residentes em fuga, 60% são crianças, acrecenta.
A província de Cabo Delgado tem sido aterrorizada desde 2017 por violência armada, sendo alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico. Em cinco anos, o conflito já fez um milhão de deslocados, de acordo com o ACNUR, e cerca de 4.000 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED.
O regresso da vida pós destruição em Cabo Delgado
Apesar da tendência de retorno das populações às zonas de origem, várias aldeias ainda continuam desertas e o cenário de destruição é visível nessas comunidades.
Foto: DW
Sensação de paz em Macomia
O distrito de Macomia já registou o regresso de grande parte da sua população que se havia evadido para outras zonas com a escalada da violência protagonizada pelos insurgentes, localmente conhecidos por "al-shababes". Na vila, atividades comerciais ganham terreno. Mas a população pede ainda a permanência do exército para lhes proteger. O desejo dos residentes é que a paz tenha vindo para ficar.
Foto: DW
Serviços públicos em Mocímboa da Praia
Após a recuperação do território, em agosto de 2021, as autoridades estão empenhadas no restabelecimento dos serviços públicos de modo a impulsionar o retorno da população que se refugiou em comunidades de Cabo Delgado. O Escritório das Nações Unidas de Serviços para Projetos comprometeu-se em alocar escritórios moveis ao governo de Mocímboa da Praia para fazer face à escassez de infraestruturas.
Foto: DW
Local do massacre de Xitaxi
A 7 de abril de 2021, na aldeia de Xitaxi, no distrito de Muidumbe, os terroristas terão morto a sangue frio um grupo de 53 jovens num campo de futebol (ao fundo da imagem). Aparentemente, a causa da chacina foi a recusa desses jovens, que haviam sido raptados localmente e em aldeias já atacadas, em juntar-se ao movimento rebelde que devasta Cabo Delgado desde o ano de 2017.
Foto: DW
Forças Armadas na estrada
A estrada N380 liga o distrito de Ancuabe a Mocímboa da Praia. A via permaneceu intransitável com a escalada da violência terrorista em aldeias atravessadas pela rodovia. Com as ações terroristas enfraquecidas, a N380 voltou a ser transitável, embora de forma tímida. Veículos militares patrulham constantemente, para garantir que nenhuma situação de alteração da ordem venha a verificar-se.
Foto: DW
Destroços visíveis
Sucatas de veículos destruídos denunciam a quem por aqui passa, cenários de violência vividos na estrada principal que liga sul, centro e norte da província.
Foto: DW
Bens abandonados
Terroristas bloquearam durante um ano o acesso aos distritos no norte, com destaque para Mueda e Mocímboa da Praia, com o assalto ao posto de controlo policial no cruzamento de Awasse. Após o seu desalojamento pela força conjunta Moçambique-Ruanda, os terroristas abandonaram alguns dos seus bens, em caves que serviam de esconderijos.
Foto: DW
Ruínas
Casas abandonadas e em ruínas e zonas residenciais tomadas pelo capim são o retrato que se repete em diversas aldeias ao longo das estradas N380 e R698. Denunciam também a crueldade dos terroristas.