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Cabo Delgado: Jovens pedem trabalho e fim da corrupção

Delfim Anacleto
13 de agosto de 2023

Jovens residentes no distrito de Macomia, na província moçambicana de Cabo Delgado, dizem que não têm oportunidades para prosperarem na vida. Pedem emprego e atenção, para que o terrorismo não seja uma atração.

Foto: Delfim Anacleto/DW

Foi durante uma sessão de diálogo entre o governo provincial de Cabo Delgado, organizações não governamentais e jovens, que alguns participantes abriram o coração e exprimiram o que sentem e que poderá estar na origem da migração para unidades terroristas.   

"Todos os projetos e empresas vêm com o seu próprio pessoal. Será que aqui em Macomia não há jovens que estudaram e que têm certificados da 10ª ou 12ª classe? Não temos carpinteiros ou pedreiros em Macomia?", questionou.

Um outro jovem que se identificou como Paulino Sebastião referiu que, para além das oportunidades de emprego serem ocupadas alegadamente por gente trazida de fora pelas próprias empresas ou organizações, há outro fenómeno que barra os jovens. 

"Os dirigentes que estão nos gabinetes convidam familiares que vivem noutras. As vagas de Macomia eram para serem ocupadas por pessoas de Macomia, mas são pessoas de fora que as ocupam. Isso doí-me bastante", criticou.

Celebrações do Dia Internacional da Juventude reuniu jovens em MacomiaFoto: Delfim Anacleto/DW

Risco de radicalização 

Paulino Sebastião considera que as dificuldades de inserção laboral tornam a camada juvenil vulnerável ao aliciamento por grupos armados. "Os nossos dirigentes sabem que essas atitudes podem levar-nos a tomar decisões não benéficas para nós mesmos", referiu.

Os jovens de Macomia denunciam ainda que as várias promessas de inclusão nas oportunidades de emprego acabam goradas, porque quem as ocupa são funcionários que já tem um posto de trabalho. 

O diálogo com os jovens decorreu no sábado (12.08) por ocasião das celebrações do Dia Internacional da Juventude. O governador de Cabo Delgado, Valige Tauabo, que dirigiu o encontro, anotou as inquietações e defendeu que os jovens devem aceder às oportunidades para contribuírem com o seu saber.

"Se os jovens já estão aqui em Macomia, então tudo aquilo que é de Macomia deve vir a Macomia. Não poder ser Macomia receber de outro distrito [alegadamente] porque aqui não dá. Não. E essa vossa reação é bastante positiva", considerou Valige Tauabo.

A iniciativa governamental "Diálogo com a juventude" é apoiada pela Fundação Azul e pelo Escritório das Nações Unidades de Serviços para Projetos (UNOPS), e está inserido na Recuperação da Crise do Norte (NCRP).  

Maurício Manuel, representante do UNOPSFoto: Delfim Anacleto/DW

Mais formação

Maurício Manuel, representante do UNOPS, garantiu que a sua organização vai promover, nas próximas semanas, uma série de formações para os jovens de Macomia, Quissanga, Muidumbe, Palma e Mocímboa da Praia, para habilitá-los a participarem da reconstrução das infraestruturas arrasadas pelo extremismo violento.   

"Esta mão de obra que vai ser formada é para garantir que estes jovens possam fazer parte do processo de construção e reconstrução das infraestruturas a partir do nosso projeto e para os outros parceiros", frisou Maurício Manuel.

Com a inclusão na reconstrução, o UNOPS pretende transmitir um sentimento de pertença das infraestruturas que vão construir aos jovens, para que assim também ajudem à sua preservação.   

O governador de Cabo Delgado aproveitou a ocasião para pedir aos jovens de Macomia para contribuírem para a consolidação da paz, por meio da vigilância e denúncia de todas as manobras que visem criar instabilidade nas comunidades. 

A celebração do Dia Internacional da Juventude na sede distrital de Macomia foi caracterizada por uma marcha dos jovens empunhando dísticos com dizeres de apelo à paz, concórdia, união e acesso às oportunidades.   

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