Cabo Delgado: Voluntários pretendem ajudar a resolver crise
Lusa
5 de março de 2021
Informação foi avançada pela coordenadora das Nações Unidas em Moçambique, que diz esperar que a situação seja ultrapassada nas próximas semanas. Visto para prestadores de assistência humanitária foi criado em dezembro.
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Mais de 50 especialistas das Nações Unidas aguardam por visto humanitário, criado há três meses por Moçambique, para poderem entrar no país e ajudar a resolver a crise em Cabo Delgado.
"Temos mais de 50 pedidos [pendentes] e esperamos poder ter a possibilidade de obter vistos humanitários nas próximas semanas", referiu à Lusa a coordenadora residente das Nações Unidas em Moçambique, Myrta Kaulard, que acrescentou: "Eu espero semanas" e não um prazo maior, "porque é necessário" que esse apoio externo chegue ao terreno, disse.
Um relatório da ONU de final de janeiro sobre o acesso da ajuda humanitária a Cabo Delgado enunciava a existência de "desafios administrativos" com 57 vistos pendentes - acrescentando que a demora na aprovação rondava, em média, três meses e meio.
Segundo o mesmo documento, materiais para saúde, abrigo ou outros itens de apoio estavam a demorar quase três meses para serem libertados pelas alfândegas.
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"Como todas as coisas administrativas", os novos vistos de entrada no país "precisam de tempo para começar a ser utilizados" e as férias de final de ano e a covid-19 estão a atrasar o processo - a par de "aspetos administrativos do visto que ainda têm de ser definidos", disse Myrta Kaulard.
"Estamos a trabalhar muito, junto com as instituições moçambicanas, como o Ministério dos Negócios Estrangeiros e Cooperação e o Ministério do Interior, para ver como resolver isto", porque "é muito importante ter mais pessoal humanitário no norte do país".
"A zona é bastante grande, as necessidades são muitas e precisamos de estar presentes em todos os distritos", acrescentou.
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"Limitação muito grande"
Segundo Myrta Kaulard, a falta de vistos humanitários constitui uma limitação "muito grande" à "eficiência da resposta humanitária e, no final, vai ter implicações também na disponibilidade dos parceiros para contribuir com recursos", caso não haja "capacidade de distribuir ajuda humanitária".
Os vistos são destinados a especialistas que devem deslocar-se a Moçambique para "estabelecer sistemas, mecanismos e treinar as capacidades locais".
"É uma resposta que tem de ser rápida" e uma capacitação que deve ser feita ao mesmo tempo que são montadas as respostas nas áreas da saúde, educação, apoio social ou outras. Formar, trabalhando, porque não se pode "esperar até ter as pessoas treinadas", concluiu.
Contactada pela Lusa, fonte do Serviço Nacional de Migração (Senami) do Ministério do Interior moçambicano remeteu quaisquer esclarecimentos sobre o assunto para momento oportuno.
O Governo moçambicano anunciou a 01 de dezembro de 2020 a criação de um visto de entrada no país para prestadores de assistência humanitária.
O desterro forçado dos deslocados em Cabo Delgado
São mais de 450 mil no norte de Moçambique. O terrorismo cortou-lhes as raízes e tomou-lhes o chão. Os deslocados internos procuram vingar noutras paragens. E Pemba tem sido lugar de eleição. Sobreviverão na nova terra?
Foto: Privat
A dor da perda e da impotência
Um olhar que diz mais do que mil palavras, a imagem poderia ser "sem legenda". Foi depois de um ataque à aldeia "Criação", Muidumbe, a primeira investida terrorista ao distrito, em novembro de 2019. Os insurgentes começaram os seus ataques em Cabo Delgado em outubro de 2017.
Foto: Privat
Histórias de vida reduzidas a cinzas
Desde então, a matança e destruição passaram a ser visitas assíduas da região. Como ninguém quer ser anfitrião, os aldeões fugiram. Em finais de outubro, Muidumbe e outros distritos sangraram de novo e a população fugiu. Muidumbe está praticamente nas mãos dos terroristas, tal como Mocímboa da Praia, desde agosto.
Foto: Privat
Quase todos os caminhos vão dar a Pemba
O único desejo destes residentes de Mueda é conseguir um canto no camião para chegar à capital provincial de Cabo Delgado. Mas a disputa entre pessoas e os seus próprios pertences ameaça deixar alguém para trás. Desde meados de outubro, Pemba recebeu cerca de 12 mil deslocados. Inicialmente, recebia à volta de mil deslocados por dia.
Foto: Privat
Quando o mato passa a ser melhor que o lar
Para muitos em Cabo Delgado, ter um teto deixou de ser sinónimo de segurança. Conseguir manter a vida, mesmo sem casa, passou agora a ser a meta. Os bichos passaram a ser mais cordiais que os irmãos terroristas, as estrelas melhores que o teto e os arbustos melhores que as paredes. Famílias procuram refúgio nas matas, onde caminham por dias dominados pelo medo, sem comida e sem norte.
Foto: Privat
Um abraço amigo em Pemba
Estes deslocados chegam de Quissanga. Mas também chegam à praia de Paquitequete, Pemba, deslocados vindos de vários lugares. Todos tentam escapar ao terror. Muitos fixam-se aqui, onde recebem apoio de ONGs, associações, indivíduos e do Governo. Há até quem abra as portas da sua casa para os receber, mesmo não os conhecendo.
Foto: Privat
Crise humanitária faz brotar solidariedade infinita
A falta de quase tudo faz despertar solidariedade que chega de todo o lado. Para quem está longe, uma angariação de fundos e bens materiais é a opção. Já cuidar dos deslocados na praia de Paquitequete, atendendo-os nas suas necessidades, é o que faz quem está no terreno. Na praia, há jovens que chegam de madrugada para dar amor a quem precisa.
Foto: Privat
Uma fuga rodeada de perigos
O medo é tanto que nem a sobrelotação parece intimidar os deslocados internos. No começo de novembro, mais de 40 pessoas morreram a tentar chegar a Pemba num naufrágio entre as ilhas do Ibo e Matemo.
Foto: Privat
Pemba a rebentar pelas costuras
O "boom" de deslocados é tão grande que o sistema de serviços básicos para a população, como água e saneamento, está no limite. Antes desta nova vaga de deslocados, a capital de Cabo Delgado tinha 204 mil habitantes. Agora, tem mais de 300 mil.
Foto: DW/E. Silvestre
Começar nova vida noutro chão
O Governo criou um comité de gestão para esta crise humanitária. Afirma que está a criar novas aldeias, centros de reassentamento, infrastruturas e a parcelar terras para acomodar os deslocados. Embora esteja garantida a segurança, as suas raízes estão noutro chão.
Foto: Privat
Que futuro?
Por enquanto não há resposta. Mas há deslocados que se vão "desenrascando" para sobreviver. Muitos dizem que não querem viver de mão estendida. Por exemplo, quem tem barco vai à pesca ou trasporta mercadorias. Outros entretêm-se a jogar futebol. Vão cuidando das suas vidas. Mas para os que não têm alternativas, que são a maioria, correrão riscos de entrar para o mundo do crime?