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Profissionais de saúde abandonam postos em Cabo Delgado

Lusa | AFP | nn
22 de dezembro de 2020

Pelo menos 641 profissionais de saúde abandonaram os postos de trabalho devido à violência em Cabo Delgado, no norte de Moçambique. ONU precisa de mais 207 milhões de euros para continuar a dar assistência às populações.

Mosambik | Provinz Nampula | Vertriebene Kinder Opfer von Terrorismus
Foto: Roberto Paquete/DW

Os profissionais de saúde "perderam tudo e estão refugiados em zonas consideradas seguras", havendo 41 unidades hospitalares encerradas, das quais 27 estão destruídas, segundo Armindo Tiago, o Ministro da Saúde de Moçambique, citado hoje pela Televisão de Moçambique (TVM). 

A situação criou uma segunda preocupação para o setor da saúde, além da Covid-19, lamentou o ministro, durante um encontro com parceiros de cooperação, que visava abordar estratégias para área. 

O Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INGC) de Moçambique disse na semana passada que só este ano foram realojadas em novos distritos cerca de 45 mil famílias deslocadas devido à violência armada em Cabo Delgado.

A maior parte das famílias está concentrada em Montepuez, Chiúre e Balama, distritos considerados seguros, disse o diretor para a área de Prevenção e Mitigação no INGC, César Tembe.

Só em 2020 foram realojadas cerca de 45 mil famílias deslocadas devido à violência armada em Cabo DelgadoFoto: Roberto Paquete/DW

Segundo César Tembe, além de Cabo Delgado, as autoridades têm estado a assistir outros grupos deslocados que preferiram fugir para províncias vizinhas, com destaque para Nampula.

"Todas as famílias que estão sendo realojadas tem recebido sensibilização para que possam denunciar qualquer situação anómala", declarou. Muitos destes deslocados precisam de ajuda e tratamento médico.

A assistência humanitária prestada naquela província do Norte de Moçambique está a ser feita com base no plano de contingência do INGC elaborado para a época chuvosa 2019/2020, uma estratégia orçada num valor global de 7,4 mil milhões de meticais (81 milhões de euros).

A estratégia tem um défice de, pelo menos, seis mil milhões de meticais (65 milhões de euros), montante que poderá reduzir com a contribuição do plano de resposta da ONU.

ONU precisa de mais fundos

A ONU anunciou que precisa de 254 milhões de dólares (207 milhões de euros) para o plano de assistência humanitária às populações deslocadas, incluindo as que se refugiaram nas províncias de Niassa e Nampula, vizinhas de Cabo Delgado.

A segurança alimentar e o abrigo estão entre os principais pontos de destaque no plano de assistência da ONU, com uma verba de 136 milhões de dólares (110 milhões de euros) e 28 milhões de dólares (22 milhões de euros), respetivamente, do total de 254 milhões de dólares necessários.

A violência armada em Cabo Delgado está a provocar uma crise humanitária com mais de duas mil mortes e 560 mil deslocadosFoto: Roberto Paquete/DW

O comendador Nazim Ahmad, ligado à Rede Aga Khan para o Desenvolvimento, entidade com projetos na província moçambicana de Cabo Delgado, considera que existe "um risco" de a violência na região se alastrar pelo país.

Em declarações à agência de notícias Lusa, por mail, o representante diplomático do Imamat Ismaili junto da República Portuguesa disse que "o problema de Cabo Delgado tem características muito específicas, enquadradas naquela região, em concreto", mas, ainda assim, "o alastrar do problema [pelo país] deve ser um risco a ter em conta na análise do mesmo".

Mais de 560 mil deslocados

 A violência armada em Cabo Delgado, onde se desenvolve o maior investimento multinacional privado de África, para a exploração de gás natural, está a provocar uma crise humanitária com mais de duas mil mortes e 560 mil deslocados, sem habitação, nem alimentos, concentrando-se sobretudo na capital provincial, Pemba. 

 Algumas das incursões passaram a ser reivindicadas pelo grupo 'jihadista' Estado Islâmico desde 2019. 

 A Organização das Nações Unidas anunciou na sexta-feira que precisava de 254 milhões de dólares (207 milhões de euros) para garantir a assistência humanitária às populações deslocadas devido a violência armada em Cabo Delgado. 

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