Em Pemba, pelo menos 450 casas foram parcialmente destruídas e outras 60 foram totalmente devastadas pelas chuvas e ventos fortes. Infraestruturas públicas e privadas também ficaram danificadas.
Publicidade
A cidade de Pemba, capital provincial de Cabo Delgado, no norte de Moçambique, esteve desde a noite desta quinta-feira (26.12) até a madrugada desta sexta-feira (27.12) debaixo de chuvas e ventos fortes. O mau tempo, que atingiu a sua intensidade ao longo da madrugada desta sexta-feira, resultou na destruição de diversas habitações deixando várias famílias sem abrigo.
Um total de 510 casas foram afetadas em Pemba, disse à agência Lusa fonte do Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INGC).
"Deste número, 450 casas foram parcialmente destruídas e outras 60 foram totalmente devastadas. Mas este são dados preliminares", disse a delegada do INGC em Cabo Delgado, Elisete da Silva.
As autoridades continuam a contabilizar os estragos.
Desespero dos afectados
As chuvas inundaram os bairros de Natite, Cariacó, Josina Machel, Eduardo Mondlane e Paquitequete.
Surpreendidas com enchentes, algumas famílias viram-se obrigadas a procurar refúgio em zonas mais seguras, deixando todos os seus pertences submersos.
"Estava dentro de casa quando, de repente, comecei a sentir muita ventania. Levantei-me e saí para fora, estou a ver a água a encher," recorda Belito Alfredo, do bairro de Natite.
Cabo Delgado: Mau tempo destrói e obriga centenas de pessoas a deixarem as suas casas
"Algumas coisas consegui pôr em cima, outras deixei aí mesmo em baixo [d'água]. O que consegui levantar era televisor e cama, outras coisas molharam-se," lamenta.
A família de Belito Alfredo, composta por sete membros, antevê uma vida difícil pela frente e o único recurso que lhe resta é a solidariedade da vizinhança.
"Não tenho como [fazer]. Vou pedir às vizinhas para poder dormir aí porque ali pode passar uma semana sem que aquela água acabe," considera.
Ana Bilal, viúva e responsável por uma família de cinco pessoas, teve a sua casa destruída como consequência da queda de uma árvore. Perante os microfones da DW África, não conseguiu conter as lágrimas, já antevendo um futuro incerto que lhe espera.
"Eram por volta das quatro horas e estávamos a dormir, quando a árvore caiu sobre o telhado. Retirei as crianças com muita pressa, mas acabei ficando ferida. Não consegui tirar mais nada," descreve.
Situação sob controlo
O mau tempo assolou também os distritos de Mocímboa da Praia, Macomia, Quissanga, Metuge, Mecúfi, Ancuabe, Chiúre, Meluco, Muidumbe, Mueda, Balama e Montepuez, tendo provocado a interrupção do fornecimento da energia eléctrica por algumas horas.
As autoridades locais referem que não houve registo de vítimas mortais. Citado pela Rádio Moçambique, o edil de Pemba, Florete Simba Motarua, garante que está tudo controlado.
"As pessoas não precisaram de ser reassentadas. Foram às casas das famílias. Não havia necessidade de nós reabrirmos um centro transitório para pôr esses munícipes e a situação está controlada," afirma.
"Não temos perda de vidas humanas, infraestruturas públicas: temos a nossa escola com cinco salas destruídas, que o teto voou. Em termos de vias de acesso, não temos grandes problemas. Tivemos restrições em algumas zonas, porque alguns paus [troncos e galhos de árvores] e postes de energia tinham sido derrubados pelo vento," relata.
Em Nampula, de acordo com o delegado do INGC naquela província, Alberto Armando, não houve registo de danos, na medida em que o regime da chuva que caiu foi fraco e moderado.
"Vamos continuar a acompanhar a situação porque a previsão indica para mais chuva nas próximas horas", disse à Lusa Alberto Armando.
Feridas do ciclone Kenneth não cicatrizaram, seis meses depois
O ciclone Kenneth devastou o norte de Moçambique, em abril. 45 pessoas morreram e 250 mil foram afetadas pelo ciclone. Seis meses depois, muito já foi feito, mas muito continua por fazer na província de Cabo Delgado.
Foto: Reuters/OCHA/Saviano Abreu
Salas de aula por reconstruir
Mais de 500 salas de aula ficaram destruídas depois da passagem do ciclone Kenneth. Com apoio financeiro, recuperaram-se cerca de 100 salas. Em alguns casos, foram alocadas tendas às escolas destruídas para permitir o decurso das aulas. Entretanto, há várias escolas por reconstruir. Um exemplo é esta escola primária na Ilha das Quirimbas, distrito do Ibo, cuja cobertura foi arrasada.
Foto: DW
"Comida pelo trabalho"
O Programa Alimentar Mundial (PAM) em Cabo Delgado, chefiado por Enrique Alvarez, continua a prestar assistência alimentar às famílias afetadas pelo ciclone. Em agosto, iniciou uma nova etapa de reconstrução, denominada "Comida pelo trabalho", onde cerca 70 mil pessoas beneficiarão de apoio alimentar ou material de construção, mediante a prestação de trabalhos na comunidade.
Foto: DW
Setor da pesca atingido
O ciclone Kenneth destruiu ou danificou muitos barcos de pesca artesanal, e a atividade piscatória ficou paralisada. O motor deste barco ficou avariado com o ciclone e o proprietário e os seus sete trabalhadores viram-se obrigados a paralisar a atividade durante cinco meses.
Foto: DW/D. Anacleto
Lonas para cobrir as casas
Várias habitações devastadas pelo mau tempo em Cabo Delgado continuam por reabilitar. O Governo ofereceu tendas às famílias que tiveram as casas totalmente destruídas. Para muitas casas onde só o tecto ficou destruído, foram oferecidas lonas.
Foto: DW/D. Anacleto
A longa espera pelo reassentamento
Na cidade de Pemba, depois da passagem do ciclone, em abril, cerca de 300 famílias que tiveram as suas habitações destruídas foram levadas para o centro de trânsito do bairro de Chuiba. Aguardam aqui a distribuição de terrenos para recomeçar uma nova vida. "Ainda não há sinal de luz verde", lamentam estes cidadãos.
Foto: DW
Sistema de drenagem obstruído
Em abril, as chuvas intensas que se fizeram sentir em Pemba durante a passagem do Kenneth alagaram os bairros de Natite, Josina Machel, Eduardo Mondlane e Paquitequite. Uma das causas para o fenómeno terá sido o deficiente sistema de drenagem, que estava obstruído. O edil de Pemba, Florete Simba Motarua, promete melhorá-lo.
Foto: DW
Família pede ajuda
Uma das casas da família de Fernando Fernandes foi destruída pelo ciclone. Com um agregado numeroso, os membros têm de partilhar o pequeno espaço na residência principal. Fernandes renova o pedido de apoio a pessoas de boa-fé: "Se eles realmente sentem pelo desastre que o povo sofreu, que venham dar um apoio, não digo financeiro, mas material, como ferros ou cimento…"
Foto: DW
Lixeira municipal foi transferida
A lixeira municipal de Pemba, que há 60 anos ficava na unidade residencial de Chibuabuare, no centro da cidade, está agora a 22 quilómetros da zona urbana. A lixeira terá soterrado seis pessoas durante a passagem do ciclone Kenneth, em abril passado.
Foto: DW/D. Anacleto
União Europeia apoia reconstrução
A União Europeia ofereceu 3,5 milhões de euros para apoiar a reconstrução da autarquia de Pemba, através de um programa denominado "Mais Pemba". O programa de apoio inclui a melhoria das vias de acesso destruídas, requalificação dos espaços públicos e a limpeza da cidade. A maior parte das estradas danificadas pelo Kenneth em Pemba já foi reconstruída.