Momade apela ao Governo para pedir ajuda internacional
Lusa
6 de abril de 2021
Líder da RENAMO censurou o PR por ter dito que o ataque em Palma "não foi o maior que tantos outros" e apelou ao Governo para pedir apoio internacional. À imprensa, Momade disse que "há grandes fragilidades nas FDS".
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"O Governo deve solicitar o apoio da comunidade internacional para, de forma legal e aberta, apoiar Moçambique no combate a estes terroristas", afirmou esta terça-feira (06.04) Ossufo Momade, líder da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), principal partido da oposição moçambicana.
Momade defendeu o recurso ao auxílio internacional, numa comunicação que leu perante jornalistas e que não teve direito a perguntas.
"A ocupação de vários distritos de Cabo Delgado e os avanços progressivos dos insurgentes deixam as populações e o país inteiro numa grande insegurança e fica cada vez mais claro que há grandes fragilidades no seio das Forças de Defesa e Segurança", enfatizou.
A violência terrorista contra crianças em Cabo Delgado
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Sem uma resposta eficaz, prosseguiu, a ação de grupos armados poderá alastrar-se da província de Cabo Delgado a outras duas províncias da região norte, nomeadamente Nampula e Niassa.
O presidente da RENAMO repudiou o recurso a "mercenários" para o combate aos grupos armados, assinalando que esta opção só vai agravar a violência e a vulnerabilidade da soberania moçambicana.
Identificação dos atacantes
Ossufo Momade defendeu que o Governo deve empenhar-se na identificação dos autores da violência armada no norte, "que parece ter apadrinhamento interno, a avaliar pela forma como começou esta guerra e a maneira estranha como foram negligenciadas as informações de alerta, logo em 2017".
Momade criticou o "triunfalismo" das Forças de Defesa e Segurança (FDS) na luta contra os grupos armados, classificando-o como "inconsistente e chavões desqualificados".
O presidente da RENAMO alertou para a situação de "desespero" em que se encontram milhares de pessoas obrigadas a fugir da guerra no norte, deplorando a falta de condições nos centros e nas famílias de acolhimentos dos deslocados.
A violência desencadeada há mais de três anos na província de Cabo Delgado ganhou uma nova escalada há cerca de duas semanas, quando grupos armados atacaram pela primeira vez a vila de Palma, que está a cerca de seis quilómetros dos multimilionários projetos de gás natural.
Os ataques provocaram dezenas de mortos e obrigaram à fuga de milhares de residentes de Palma, agravando uma crise humanitária que atinge cerca de 700 mil pessoas na província, desde o início do conflito, de acordo com dados das Nações Unidas.
O movimento terrorista Estado Islâmico reivindicou na segunda-feira o controlo da vila de Palma, junto à fronteira com a Tanzânia.
Vários países têm oferecido apoio militar no terreno a Maputo para combater estes insurgentes, cujas ações já foram reivindicadas pelo autoproclamado Estado Islâmico, mas, até ao momento, ainda não existiu abertura para isso, embora haja relatos e testemunhos que apontam para a existência de empresas de segurança e de mercenários na zona.
Cabo Delgado: Que tipo de apoio a UE pode dar a Moçambique?
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Mais críticas ao PR
Na mesma conferência de imprensa, o líder da RENAMO, acusou o Presidente da República, Filipe Nyusi, de "promover" o consumo de bebidas alcoólicas em plena pandemia de Covid-19, por ter inaugurado uma fábrica de cerveja.
"Surpreende-nos que o mesmo Presidente da República esteja a promover" o consumo de bebidas alcoólicas "com a inauguração da fábrica de cerveja, o que nos parece ser um paradoxo", afirmou Momade.
Filipe Nyusi inaugurou na semana passada uma unidade de produção da empresa Cervejas de Moçambique (CDM) no distrito de Marracuene, província de Maputo, orçada em 180 milhões de dólares (152,1 milhões de euros).
O presidente da RENAMO considerou contraproducente que Filipe Nyusi tenha aparecido em público num evento associado à venda e consumo de cerveja, num contexto em que impôs restrições nos horários de funcionamento de bares, no âmbito da prevenção de Covid-19.
Terrorismo em Cabo Delgado: As marcas da destruição e a crise humanitária
Edifícios vandalizados, presença de militares nas ruas e promessas de soluções por parte de políticos contrastam com a tentativa das populações de levar a vida adiante.
Foto: Roberto Paquete/DW
Infraestruturas vandalizadas
O conflito armado em Cabo Delgado deixou um número de infraestruturas destruídas na província nortenha de Moçambique. Em Macomia, os insurgentes não pouparam nem a Direção Nacional de Identificação Civil. Os danos no prédio do órgão deixaram milhares de pessoas sem documentos. E carro da polícia incendiado.
Foto: Roberto Paquete/DW
Feridas abertas até na sede da Polícia
O edifício da Polícia da República de Moçambique (PRM) em Macomia ainda carrega as marcas de um ataque em 2020. O tanzaniano Abu Yasir Hassan – também conhecido como Yasser Hassan e Abur Qasim - é reconhecido pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos e pelo Governo moçambicano como líder do Estado Islâmico em Cabo Delgado. Não está claro se o grupo é responsável pelos ataques na província.
Foto: Roberto Paquete/DW
"Eliminar todo o tipo de ameaça"
Joaquim Rivas Mangrasse (à esquerda) foi empossado chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas a 16 e março. "É missão das Forças Armadas eliminar todo o tipo de ameaça à nossa soberania, incluindo o terrorismo e os seus mentores, que não devem ter sossego e devem se arrepender de ter ousado atacar Moçambique", declarou o Presidente Filipe Nyusi (centro) na cerimónia de posse, em Maputo.
Foto: Roberto Paquete/DW
Missões constantes para conter os terroristas
Soldados das Forças Armadas de Defesa de Moçambique preparam-se para mais uma missão contra terroristas em Palma. A vila foi alvo de ataques, esta quarta-feira (24.03), segundo fontes ouvidas pela agência Lusa e segundo a imprensa moçambicana. Neste mesmo dia, as autoridades moçambicanas e a petrolífera Total anunciaram, para abril, o retorno das obras do projeto de gás, suspensas desde dezembro.
Foto: Roberto Paquete/DW
Defender o gás natural da península de Afungi
A península de Afungi, distrito de Palma, foi designada como área de segurança especial pelo Governo de Moçambique para proteger o projeto de exploração de gás da Total. O controlo é feito pelas forças de segurança designadas pelos ministérios da Defesa e do Interior. Esta quinta-feira (25.03), o Ministério da Defesa confirmou o ataque junto ao projeto de gás, na quarta-feira (24.03).
Foto: Roberto Paquete/DW
Proteger os deslocados
Soldados das FADM protegem um campo para os desolocados internos na vila de Palma. A violência armada está a provocar uma crise humanitária que já resultou em quase 700 mil deslocados e mais de duas mil mortes.
Foto: Roberto Paquete/DW
Apoiar os deslocados
De acordo com as agências humanitárias, mais de 90% dos deslocados estão hospedados "com familiares e amigos". Muitos refugiaram-se em Palma. Com as estradas bloqueadas pelos insurgentes em fevereiro e março deste ano, faltaram alimentos. A ajuda chegou de navio.
Foto: Roberto Paquete/DW
Defender a própria comunidade
Soldados das Forças Armadas de Defesa de Moçambqiue estão presentes também no distrito de Mueda. Entretanto, cansados de sofrer nas mãos dos teroristas, antigos militares decidiram proteger eles mesmos a sua comunidade e formaram uma milícia chamada "força local".
Foto: Roberto Paquete/DW
Levar a vida adiante
No mercado no centro da vida de Palma, a população tenta seguir com a vida normal quando a situação está calma. Apesar da ameaça constante imposta pela possibilidade de um novo ataque, quando "a poeira abaixa", a normalidade parece regressar pelo menos momentaneamente...
Foto: Roberto Paquete/DW
Aprender a ter esperança com as crianças
Apesar de todo o caos que se instalou um pouco por todo o lado em Cabo Delgado, a esperança por um vida normal continua entre as poulações. Na imagem, crianças de famílias deslocadas que deixaram as suas casas, fugindo dos terroristas, e foram para a cidade de Pemba. Vivem no bairro de Paquitequete e sonham com um futuro próspero, sem ter de depender da ajuda humanitária e longe da violência.