Cimeira da SADC esta quinta-feira discute a atividade terrorista em Cabo Delgado. O analista moçambicano Rufino Sitoe lembra que combater o terrorismo é caro e os estados do bloco não têm expertise em contrainsurgência.
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A capital moçambicana, Maputo, vai acolher esta quinta-feira (08.04) a cimeira da defesa e segurança da SADC sobre a violência armada no norte de Moçambique e o apoio no combate aos grupos armados.
O encontro será dirigido pelo presidente em exercício da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) e chefe de Estado do Botswana, Mokgweetsi Masisi, e contará com a presença dos Presidentes de Moçambique, Filipe Nyusi, da África do Sul, Cyril Ramaphosa, Zimbabué, Emmerson Mnangagwa, Malawi, Lazarus Chakwera, e da Tanzânia, Samia Suluhu.
"Penso que vai ser melhor do que o encontro passado, que Moçambique tenha uma ação mais concreta, não só centrada na área de defesa e segurança, mas também nas várias dimensões de prevenção da violência extremista", expôs, em conversa com a DW África, o especialista em resolução de conflitos e políticas públicas, Rufino Sitoe.
Recorde-se que depois da última reunião de alto nível da SADC, em dezembro, Moçambique foi duramente criticado por supostamente não ter qualquer estratégia e por ter apresentado uma simples "lista de compras" aos seus pares da região.
Mas os seus países vizinhos há tempos que aguardam por um pedido de apoio de Maputo e as expetativas são de que, desta vez, o país assuma os seus vizinhos como verdadeiros parceiros e os envolva no caso.
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"Problema de orgulho”
David Matsinhe, pesquisador da Amnistia Internacional, vê um senão na postura do Governo.
"O que temos verificado é que o Governo moçambicano tem problema de orgulho, quer projetar a imagem de um Governo que tem o controlo da situação. Os países da SADC dizem que estão à espera de um pedido formal do Governo moçambicano para que haja uma intervenção. Na União Africana o argumento é o mesmo, na comunidade internacional e ONU o argumento é o mesmo, mas não estamos a ver do lado do Governo moçambicano um comprometimento, senso de urgência, para restaurar a paz em Cabo Delgado", lamenta.
Oficialmente, o Governo moçambicano não aposta em pedidos de ajuda para responder ao terrorismo em Cabo Delgado, alegando respeito à soberania, um direito a ser tomado em conta, principalmente se observamos casos em que a intervenção estrangeira resultou em colapso de estados. Contudo, o terrorismo em Cabo Delgado está a transformar-se num problema transnacional.
Necessário financiamento
A par disso, há problemas domésticos na SADC que podem deixar os seus membros de braços atados. Nesse contexto, pode-se esperar um cometimento da SADC? Rufino Sitoe acredita que não e explica:
"Na verdade, não acredito muito porque é preciso envolver uma variável muito importante de estratégia de contrainsurgência que é o financiamento. Combater o terrorismo requer o cometimento de muitos recursos financeiros por parte dos estados membros. A África do Sul já vive num marasmo financeiro há muito tempo de tal forma que há vários programas que não consegue desenvolver. E quanto aos demais estados já sabemos da realidade deles. Não se trata apenas de compromissos políticos".
O analista recorda ainda que vários membros da organização não têm expertise em matéria de contrainsurgência, algo crucial para Moçambique neste momento.
O encontro agendado para esta quinta feira, 08.04, junta a chamada Cimeira da Dupla Troika da SADC, que integra os países das troikas do Órgão de Defesa e Segurança e da Troika da SADC, de acordo com uma nota explicativa divulgada pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros e Cooperação de Moçambique.
Terrorismo em Cabo Delgado: As marcas da destruição e a crise humanitária
Edifícios vandalizados, presença de militares nas ruas e promessas de soluções por parte de políticos contrastam com a tentativa das populações de levar a vida adiante.
Foto: Roberto Paquete/DW
Infraestruturas vandalizadas
O conflito armado em Cabo Delgado deixou um número de infraestruturas destruídas na província nortenha de Moçambique. Em Macomia, os insurgentes não pouparam nem a Direção Nacional de Identificação Civil. Os danos no prédio do órgão deixaram milhares de pessoas sem documentos. E carro da polícia incendiado.
Foto: Roberto Paquete/DW
Feridas abertas até na sede da Polícia
O edifício da Polícia da República de Moçambique (PRM) em Macomia ainda carrega as marcas de um ataque em 2020. O tanzaniano Abu Yasir Hassan – também conhecido como Yasser Hassan e Abur Qasim - é reconhecido pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos e pelo Governo moçambicano como líder do Estado Islâmico em Cabo Delgado. Não está claro se o grupo é responsável pelos ataques na província.
Foto: Roberto Paquete/DW
"Eliminar todo o tipo de ameaça"
Joaquim Rivas Mangrasse (à esquerda) foi empossado chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas a 16 e março. "É missão das Forças Armadas eliminar todo o tipo de ameaça à nossa soberania, incluindo o terrorismo e os seus mentores, que não devem ter sossego e devem se arrepender de ter ousado atacar Moçambique", declarou o Presidente Filipe Nyusi (centro) na cerimónia de posse, em Maputo.
Foto: Roberto Paquete/DW
Missões constantes para conter os terroristas
Soldados das Forças Armadas de Defesa de Moçambique preparam-se para mais uma missão contra terroristas em Palma. A vila foi alvo de ataques, esta quarta-feira (24.03), segundo fontes ouvidas pela agência Lusa e segundo a imprensa moçambicana. Neste mesmo dia, as autoridades moçambicanas e a petrolífera Total anunciaram, para abril, o retorno das obras do projeto de gás, suspensas desde dezembro.
Foto: Roberto Paquete/DW
Defender o gás natural da península de Afungi
A península de Afungi, distrito de Palma, foi designada como área de segurança especial pelo Governo de Moçambique para proteger o projeto de exploração de gás da Total. O controlo é feito pelas forças de segurança designadas pelos ministérios da Defesa e do Interior. Esta quinta-feira (25.03), o Ministério da Defesa confirmou o ataque junto ao projeto de gás, na quarta-feira (24.03).
Foto: Roberto Paquete/DW
Proteger os deslocados
Soldados das FADM protegem um campo para os desolocados internos na vila de Palma. A violência armada está a provocar uma crise humanitária que já resultou em quase 700 mil deslocados e mais de duas mil mortes.
Foto: Roberto Paquete/DW
Apoiar os deslocados
De acordo com as agências humanitárias, mais de 90% dos deslocados estão hospedados "com familiares e amigos". Muitos refugiaram-se em Palma. Com as estradas bloqueadas pelos insurgentes em fevereiro e março deste ano, faltaram alimentos. A ajuda chegou de navio.
Foto: Roberto Paquete/DW
Defender a própria comunidade
Soldados das Forças Armadas de Defesa de Moçambqiue estão presentes também no distrito de Mueda. Entretanto, cansados de sofrer nas mãos dos teroristas, antigos militares decidiram proteger eles mesmos a sua comunidade e formaram uma milícia chamada "força local".
Foto: Roberto Paquete/DW
Levar a vida adiante
No mercado no centro da vida de Palma, a população tenta seguir com a vida normal quando a situação está calma. Apesar da ameaça constante imposta pela possibilidade de um novo ataque, quando "a poeira abaixa", a normalidade parece regressar pelo menos momentaneamente...
Foto: Roberto Paquete/DW
Aprender a ter esperança com as crianças
Apesar de todo o caos que se instalou um pouco por todo o lado em Cabo Delgado, a esperança por um vida normal continua entre as poulações. Na imagem, crianças de famílias deslocadas que deixaram as suas casas, fugindo dos terroristas, e foram para a cidade de Pemba. Vivem no bairro de Paquitequete e sonham com um futuro próspero, sem ter de depender da ajuda humanitária e longe da violência.