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Cabo Delgado: ACNUR precisa de mais ajuda internacional

29 de março de 2022

Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) alerta para dificuldades no acesso a Mueda, onde chegou, recentemente, a maior parte dos cerca de 24 mil novos deslocados internos.

Foto: Igor G. Barbero/MSF

Só nos primeiros três meses deste ano, cerca de 24 mil pessoas abandonaram as suas casas devido à onda de ataques terroristas na província de Cabo Delgado, no norte de Moçambique, dá conta o Alto Comissariado da Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR).

Em entrevista à DW, a agência da ONU alerta ainda que a situação de segurança em alguns distritos de Cabo Delgado continua complicada.

"As dificuldades de acesso a alguns distritos são uma forte preocupação do ACNUR e aumentam mais a vulnerabilidade dos deslocados", lamenta Juliana Ghazi, oficial de relações exteriores do ACNUR em Moçambique.

DW África: Qual é o ponto de situação dos deslocados internos em Cabo Delgado?

Juliana Ghazi (JG): A situação dos deslocados internos é bastante preocupante porque a maioria deles abandonou tudo em busca de um lugar seguro e de condições melhores. É importante dizer que estes deslocados se deslocam inúmeras vezes, e isso vai aumentando a sua vulnerabilidade, os riscos que eles encontram.

DW África: Quais são os distritos mais afetados?

JG: É difícil dizer. Recentemente houve muitos ataques em Nangade, o que fez com que muitas pessoas fugissem de lá para buscar um lugar seguro em Mueda. Ainda estamos a tentar entender qual é o número real [de deslocados internos] em Mueda. No nosso relatório, falamos de 24 mil, mas acreditamos que o número pode ser muito maior. E Mueda é um distrito de muito difícil acesso. As Nações Unidas têm dificuldades de lá chegar por razões de segurança, o que aumenta ainda mais a vulnerabilidade das pessoas que precisam de apoio.

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DW África: 24 mil deslocados em três meses. Este é um número que também demonstra que a situação de segurança na região norte de Cabo Delgado ainda não está garantida?

JG: Sim, a situação de segurança continua problemática. Mesmo um ano depois dos ataques de Palma e mesmo com os cordões de segurança, a situação é muito complicada. O acesso a alguns distritos ainda é uma forte preocupação do ACNUR.

DW África: Como é que o ACNUR olha para o regresso das pessoas a regiões tidas como libertadas?

JG: Essa é uma questão muito importante. O ACNUR prioriza sempre o regresso voluntário e seguro [dos deslocados]. É importante que as famílias que queiram regressar aos locais de origem saibam qual é a situação desses locais. O ACNUR faz sempre um trabalho de sensibilização das comunidades e a ideia é que o regresso seja sempre feito de forma voluntária, segura e digna. Juntamente com os parceiros e o Governo, tem havido também esse grande movimento de reconstruir as infraestruturas para garantir que as pessoas que querem regressar, por exemplo, para Mocímboa da Praia, encontrem as melhores condições possíveis.

DW África: No seu último comunicado, o ACNUR dizia que é necessário mais financiamento para apoiar os deslocados internos em Cabo Delgado. Em termos gerais, quanto é preciso para garantir o apoio necessário a estas pessoas?

JG: 36,7 milhões é o orçamento do ACNUR para 2022 para as atividades dos deslocados internos. Até agora, só 11% deste orçamento foi atingido. Por isso, é claro que existe uma grande lacuna para que consigamos realmente responder a todas as necessidades, principalmente de proteção dos deslocados internos e das comunidades locais. O ACNUR responde sempre às necessidades dos deslocados e também das comunidades locais, que também foram afetadas, e que por muito tempo abrigaram, e ainda abrigam, muitos desses deslocados.

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