O Presidente moçambicano pediu ainda, esta quarta-feira (12.05), no âmbito da tomada de posse dos novos membros do Conselho Superior de Comunicação Social, mais debates sobre a cobertura noticiosa dos media no país.
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O Presidente moçambicano pediu, esta quarta-feira (12.05), respeito pela dignidade humana aos órgãos de comunicação social na cobertura da violência armada em Cabo Delgado, no norte do país, manifestando preocupação sobre "tendências para o desrespeito".
"Se é naturalmente compreensível a procura a todo o custo de notícias e imagens sobre a violência terrorista, o jornalista e o órgão de comunicação social devem sentir obrigação moral de reportar respeitando as regras de dignidade humana", disse Filipe Nyusi, que falava durante a cerimónia de tomada de posse dos 11 novos membros do Conselho Superior de Comunicação Social (CSCS) de Moçambique.
Para o Chefe de Estado, a proliferação de órgãos de comunicação social no país propícia o desrespeito pela deontologia profissional e pela vida, situação causada pela busca de audiência.
"A importância do sofrimento humano não pode ser reduzida a meros atos de competição para atrair audiências", declarou Nyusi, pedindo que os empossados criem debates sobre o assunto, para "resgatar alguns valores que lentamente vão-se perdendo".
"Sente-se na nossa sociedade uma preocupação sobre tendências para o desrespeito pelos mais elementares princípios éticos e sociais. Vive-se o desrespeito pelos valores da família, dignidade da mulher e da criança pelos órgãos da comunicação social", apontou.
Moçambique: Liberdade de imprensa em perigo
03:23
As declarações de Filipe Nyusi surgem numa altura em que continua desaparecido, desde 7 de abril de 2020, o jornalista Ibrahimo Mbaruco, da Rádio Comunitária de Palma em Cabo Delgado, e aumentam o número de casos de violação de liberdades de imprensa e de expressão em Moçambique. Um relatório recente do MISA dava conta que, em 2020, foram registados no país 32 casos de violações à liberdade de expressão, o maior número dos últimos cinco anos. As restrições ao trabalho da imprensa são também cada vez mais, principalmente em Cabo Delgado, assim como as críticas ao Governo.
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Igreja Católica critica Governo
Entretanto, e num comunicado divulgado esta terça-feira (12.05), a Comissão Episcopal de Justiça e Paz, entidade da Igreja Católica em Moçambique, acusou o Governo de estar mais preocupado em proteger os projetos de gás natural em Cabo Delgado do que em defender as populações.
"A maior concentração na defesa do negócio de gás e petróleo em detrimento da defesa de vida de milhares de moçambicanos induz-nos a acreditar que a primazia do Estado é defender os lucros e bem-estar para um pequeno punhado de gente já abastada", referiu a comissão, numa declaração assinada pelo seu presidente e bispo de Nacala, Alberto Vera Arejula.
A primeira luta seria pôr fim ao conflito armado, investir na área social e infraestruturas, bem como definir estratégias para uma exploração eficaz e segura dos recursos, defendeu a entidade.
"Não há dúvida de que o país conta com muitas riquezas e matérias-primas, que podem ajudar a desenvolver economicamente o país e, por aí, desenvolver humanamente. Porém, o país não está preparado para gerir a exploração sustentável e humana destas riquezas", lê-se.
A Comissão Episcopal de Justiça e Paz apontou "interesses que se apoderaram da nação e dos seus recursos" como responsáveis pela violência armada na província de Cabo Delgado.
No mesmo documento, a Comissão Episcopal de Justiça e Paz frisa que o Estado moçambicano não tem condições para enfrentar a guerra com as forças militares de que dispõe, alertando que "a vitória militar não seria uma resposta à complexidade da situação de Cabo Delgado".
Terrorismo em Cabo Delgado: As marcas da destruição e a crise humanitária
Edifícios vandalizados, presença de militares nas ruas e promessas de soluções por parte de políticos contrastam com a tentativa das populações de levar a vida adiante.
Foto: Roberto Paquete/DW
Infraestruturas vandalizadas
O conflito armado em Cabo Delgado deixou um número de infraestruturas destruídas na província nortenha de Moçambique. Em Macomia, os insurgentes não pouparam nem a Direção Nacional de Identificação Civil. Os danos no prédio do órgão deixaram milhares de pessoas sem documentos. E carro da polícia incendiado.
Foto: Roberto Paquete/DW
Feridas abertas até na sede da Polícia
O edifício da Polícia da República de Moçambique (PRM) em Macomia ainda carrega as marcas de um ataque em 2020. O tanzaniano Abu Yasir Hassan – também conhecido como Yasser Hassan e Abur Qasim - é reconhecido pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos e pelo Governo moçambicano como líder do Estado Islâmico em Cabo Delgado. Não está claro se o grupo é responsável pelos ataques na província.
Foto: Roberto Paquete/DW
"Eliminar todo o tipo de ameaça"
Joaquim Rivas Mangrasse (à esquerda) foi empossado chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas a 16 e março. "É missão das Forças Armadas eliminar todo o tipo de ameaça à nossa soberania, incluindo o terrorismo e os seus mentores, que não devem ter sossego e devem se arrepender de ter ousado atacar Moçambique", declarou o Presidente Filipe Nyusi (centro) na cerimónia de posse, em Maputo.
Foto: Roberto Paquete/DW
Missões constantes para conter os terroristas
Soldados das Forças Armadas de Defesa de Moçambique preparam-se para mais uma missão contra terroristas em Palma. A vila foi alvo de ataques, esta quarta-feira (24.03), segundo fontes ouvidas pela agência Lusa e segundo a imprensa moçambicana. Neste mesmo dia, as autoridades moçambicanas e a petrolífera Total anunciaram, para abril, o retorno das obras do projeto de gás, suspensas desde dezembro.
Foto: Roberto Paquete/DW
Defender o gás natural da península de Afungi
A península de Afungi, distrito de Palma, foi designada como área de segurança especial pelo Governo de Moçambique para proteger o projeto de exploração de gás da Total. O controlo é feito pelas forças de segurança designadas pelos ministérios da Defesa e do Interior. Esta quinta-feira (25.03), o Ministério da Defesa confirmou o ataque junto ao projeto de gás, na quarta-feira (24.03).
Foto: Roberto Paquete/DW
Proteger os deslocados
Soldados das FADM protegem um campo para os desolocados internos na vila de Palma. A violência armada está a provocar uma crise humanitária que já resultou em quase 700 mil deslocados e mais de duas mil mortes.
Foto: Roberto Paquete/DW
Apoiar os deslocados
De acordo com as agências humanitárias, mais de 90% dos deslocados estão hospedados "com familiares e amigos". Muitos refugiaram-se em Palma. Com as estradas bloqueadas pelos insurgentes em fevereiro e março deste ano, faltaram alimentos. A ajuda chegou de navio.
Foto: Roberto Paquete/DW
Defender a própria comunidade
Soldados das Forças Armadas de Defesa de Moçambqiue estão presentes também no distrito de Mueda. Entretanto, cansados de sofrer nas mãos dos teroristas, antigos militares decidiram proteger eles mesmos a sua comunidade e formaram uma milícia chamada "força local".
Foto: Roberto Paquete/DW
Levar a vida adiante
No mercado no centro da vida de Palma, a população tenta seguir com a vida normal quando a situação está calma. Apesar da ameaça constante imposta pela possibilidade de um novo ataque, quando "a poeira abaixa", a normalidade parece regressar pelo menos momentaneamente...
Foto: Roberto Paquete/DW
Aprender a ter esperança com as crianças
Apesar de todo o caos que se instalou um pouco por todo o lado em Cabo Delgado, a esperança por um vida normal continua entre as poulações. Na imagem, crianças de famílias deslocadas que deixaram as suas casas, fugindo dos terroristas, e foram para a cidade de Pemba. Vivem no bairro de Paquitequete e sonham com um futuro próspero, sem ter de depender da ajuda humanitária e longe da violência.