Morte do xeique Njile North significa um duro golpe para as fileiras insurgentes em Cabo Delgado, diz Abudo Gafuru. Para o ativista, terroristas querem implantar lei islâmica, mas a mesma "não tem espaço" em Moçambique.
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A tropa da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC) estacionada no teatro operacional de Cabo Delgado anunciou este fim de semana ter abatido, numa base terrorista no distrito de Nangade, o líder espiritual dos insurgentes que aterrorizam a província há quatro anos.
Trata-se do xeique Njile North, tido como um dos líderes preponderantes do grupo e uma das figuras que teriam orquestrado o primeiro ataque à vila da Mocímboa da Praia a 5 de outubro de 2017.
"Nesta operação 19 terroristas foram abatidos, incluindo o líder - Dr. Njile North, e infelizmente perdemos um dos nossos militares neste ataque", disse em conferência de imprensa, De Ndzingue, vice-comandante das tropas da SADC em Cabo Delgado.
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Radicalização de jovens
De nome oficial Rajab Awadhi Ndanjile, natural da aldeia de Litinginya, nas imediações do distrito de Nangade, Njile North era tido como um dos responsáveis diretos pela radicalização dos jovens em Cabo Delgado.
Os jovens de Nampula que usam a música contra o terrorismo
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Para o ativista social Abudo Gafuru, o "xeique Njile North não era um qualquer". E sua a morte pode representar uma grande baixa para os terroristas.
"Primeiro, ele estava a liderar desde o início dos ataques em Cabo Delgado até aos dias de hoje. Porque ele esteve no dia do ataque a vila da Mocímboa da Praia, no dia 05 de outubro. E era considerado um líder religioso muito respeitado naquele triângulo todo, entre Nangade, Muidumbe e Mueda", avança o ativista.
Na base em Chitama, onde Njile North foi abatido, a tropa conjunta da SADC e das Forças de Defesa e Segurança (FDS) de Moçambique apreenderam documentos e equipamentos eletrónicos que fazem crer que, segundo Ndzingue, "era um campo de treinamento e radicalização de crianças raptadas nas aldeias".
"Ainda estamos a investigar estes documentos para melhor estudar o modus operandi dos terroristas", explicou o vice-comandante das tropas da SADC em Cabo Delgado.
"Está claro que o primeiro objetivo dos terroristas é recrutar e doutrinar as crianças e torná-las mais radicais", avançou a fonte à TVM.
Para o ativista Abudo Gafuru, a radicalização das crianças significa que os insurgentes as treinam "para saberem usar a arma, a catana para puder cortar pessoas em pedaços".
Na base de uma pesquisa por si feita a uma menor recentemente liberta das mãos dos terroristas, Gafur conta que "para as crianças que estão a ser instruídas, uma das provas que lhe é submetida, para testar o conhecimento do uso da arma e catanas ou facas, é colocá-las a matar os reféns que não têm conhecimento do alcorão".
Sobre a apreensão de livros com instruções militares e teor religioso nas bases dos terroristas, Abudu Gafur não tem dúvidas de que "é obvio que estão a preparar a lei Sharia e a sua implementação”. "Para nós, a lei Sharia não tem espaço para implementação no território moçambicano", conclui o ativista.
Terrorismo em Cabo Delgado: As marcas da destruição e a crise humanitária
Edifícios vandalizados, presença de militares nas ruas e promessas de soluções por parte de políticos contrastam com a tentativa das populações de levar a vida adiante.
Foto: Roberto Paquete/DW
Infraestruturas vandalizadas
O conflito armado em Cabo Delgado deixou um número de infraestruturas destruídas na província nortenha de Moçambique. Em Macomia, os insurgentes não pouparam nem a Direção Nacional de Identificação Civil. Os danos no prédio do órgão deixaram milhares de pessoas sem documentos. E carro da polícia incendiado.
Foto: Roberto Paquete/DW
Feridas abertas até na sede da Polícia
O edifício da Polícia da República de Moçambique (PRM) em Macomia ainda carrega as marcas de um ataque em 2020. O tanzaniano Abu Yasir Hassan – também conhecido como Yasser Hassan e Abur Qasim - é reconhecido pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos e pelo Governo moçambicano como líder do Estado Islâmico em Cabo Delgado. Não está claro se o grupo é responsável pelos ataques na província.
Foto: Roberto Paquete/DW
"Eliminar todo o tipo de ameaça"
Joaquim Rivas Mangrasse (à esquerda) foi empossado chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas a 16 e março. "É missão das Forças Armadas eliminar todo o tipo de ameaça à nossa soberania, incluindo o terrorismo e os seus mentores, que não devem ter sossego e devem se arrepender de ter ousado atacar Moçambique", declarou o Presidente Filipe Nyusi (centro) na cerimónia de posse, em Maputo.
Foto: Roberto Paquete/DW
Missões constantes para conter os terroristas
Soldados das Forças Armadas de Defesa de Moçambique preparam-se para mais uma missão contra terroristas em Palma. A vila foi alvo de ataques, esta quarta-feira (24.03), segundo fontes ouvidas pela agência Lusa e segundo a imprensa moçambicana. Neste mesmo dia, as autoridades moçambicanas e a petrolífera Total anunciaram, para abril, o retorno das obras do projeto de gás, suspensas desde dezembro.
Foto: Roberto Paquete/DW
Defender o gás natural da península de Afungi
A península de Afungi, distrito de Palma, foi designada como área de segurança especial pelo Governo de Moçambique para proteger o projeto de exploração de gás da Total. O controlo é feito pelas forças de segurança designadas pelos ministérios da Defesa e do Interior. Esta quinta-feira (25.03), o Ministério da Defesa confirmou o ataque junto ao projeto de gás, na quarta-feira (24.03).
Foto: Roberto Paquete/DW
Proteger os deslocados
Soldados das FADM protegem um campo para os desolocados internos na vila de Palma. A violência armada está a provocar uma crise humanitária que já resultou em quase 700 mil deslocados e mais de duas mil mortes.
Foto: Roberto Paquete/DW
Apoiar os deslocados
De acordo com as agências humanitárias, mais de 90% dos deslocados estão hospedados "com familiares e amigos". Muitos refugiaram-se em Palma. Com as estradas bloqueadas pelos insurgentes em fevereiro e março deste ano, faltaram alimentos. A ajuda chegou de navio.
Foto: Roberto Paquete/DW
Defender a própria comunidade
Soldados das Forças Armadas de Defesa de Moçambqiue estão presentes também no distrito de Mueda. Entretanto, cansados de sofrer nas mãos dos teroristas, antigos militares decidiram proteger eles mesmos a sua comunidade e formaram uma milícia chamada "força local".
Foto: Roberto Paquete/DW
Levar a vida adiante
No mercado no centro da vida de Palma, a população tenta seguir com a vida normal quando a situação está calma. Apesar da ameaça constante imposta pela possibilidade de um novo ataque, quando "a poeira abaixa", a normalidade parece regressar pelo menos momentaneamente...
Foto: Roberto Paquete/DW
Aprender a ter esperança com as crianças
Apesar de todo o caos que se instalou um pouco por todo o lado em Cabo Delgado, a esperança por um vida normal continua entre as poulações. Na imagem, crianças de famílias deslocadas que deixaram as suas casas, fugindo dos terroristas, e foram para a cidade de Pemba. Vivem no bairro de Paquitequete e sonham com um futuro próspero, sem ter de depender da ajuda humanitária e longe da violência.