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Cabo Delgado: ONG defende diálogo com insurgentes

DW (Deutsche Welle)
13 de outubro de 2021

O Centro para a Democracia e Desenvolvimento (CDD) entende que é preciso falar com os jovens que se alistam nas fileiras dos terroristas para perceber as causas do conflito na província moçambicana de Cabo Delgado.

Foto: AFP/J. Nhamirre

O Centro para a Democracia e Desenvolvimento (CDD) encoraja as ações das Forças de Defesa e Segurança, e das tropas estrangeiras, no combate ao terrorismo no norte e centro de Cabo Delgado.

Mas, segundo o diretor do CDD, Adriano Nuvunga, é preciso ir além da resposta militar e planear uma intervenção para o desenvolvimento das zonas afetadas.

"Aqui passa primeiro pelo respeito aos direitos humanos, incluindo dos deslocados internos. O seu direito ao regresso às suas terras, o direito que têm de ver as suas zonas não somente a desenvolver em termos de infraestruturas, mas também com redes socioeconómicas a serem restabelecidas", explica.

Diálogo com insurgentes

Desde outubro de 2017 que a região é assolada pelos ataques terroristas. Com apoio militar estrangeiro, as Forças de Defesa e Segurança conseguiram deter o avanço dos insurgentes e devolver o clima de segurança às regiões, outrora palco de confrontos armados.

Adriano Nuvunga defende que é preciso ir além da resposta militar na resolução do conflito armadoFoto: DW

Agora, Adriano Nuvunga diz que é preciso entender as causas do conflito e explorar a via do diálogo com o grupo atacante.  

"Afinal, o que é que se passou? E como é que se pode ter uma mesa para discutir com todos aqueles que estavam desavindos para com o estado de ordem e tranquilidade que se assistia? Quem eram eles afinal? O que estão a dizer é que é importante perseguir militarmente as pessoas, mas é preciso encontrá-las. É preciso pegá-las, chamar as pessoas para que se possa dialogar. Esta deve ser, no nosso ponto de vista, a forma de o Estado moçambicano abordar este e outros conflito", sublinha.

Questionado pelos jornalistas à margem de um workshop, na cidade de Pemba, sobre como seria efetivado o diálogo com um grupo que ainda não apresenta rosto nem reivindicações, o diretor da organização da sociedade civil defendeu que se fale com os jovens que aderem ao grupo.

"Muitos são vítimas, são pegados nas suas comunidades e treinados. Então, têm que ser tratados como vítimas. Precisamos de melhorar o nosso entendimento de qual é o problema e, a partir daí, vamos então compreender onde está o problema e esses vão levar-nos aos atores. E os atores aqui são aqueles que estiveram na linha da frente."

Desenvolvimento das comunidades locais

A promoção do desenvolvimento nas comunidades locais é também uma das soluções que o CDD propõe para o conflito de Cabo Delgado.

"Precisamos de jovens formados para evitar que sejam desviados para o terrorismo", Florete MutaruaFoto: DW

Neste ponto, as autoridades do município de Pemba, capital da província de Cabo Delgado, concordam com a organização.

"A riqueza é nossa. E para que a riqueza seja nossa, precisamos de jovens, homens e mulheres formados. Para evitar que eles sejam desviados para atividades ilícitas, sobretudo o terrorismo, precisamos de abraçar seriamente a formação profissional, para evitar que os jovens reclamem em todo o momento que não têm emprego", salientou o edil de Pemba, Florete Mutarua.

O autarca lembra, no entanto, que "para haver emprego é preciso que haja competência e qualificações dos jovens".

"Neste momento, o conselho municipal está apostado em selecionar os jovens criando uma parceria com as associações, empresas nacionais e internacionais para contribuirmos para o desenvolvimento de Moçambique", rematou.

O workshop sobre o conflito em Cabo Delgado, promovido pelo CDD, arrancou esta quarta-feira em Pemba e estende-se até amanhã (14.10).

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