Relatório anual da ONG moçambicana Centro para a Democracia e Desenvolvimento (CDD), apresentado em Maputo, aponta o diálogo com os insurgentes como uma das soluções para acabar com a violência armada em Cabo Delgado.
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Foi apresentado esta quinta-feira (05.05), em Maputo, o relatório anual da organização não-governamental Centro para a Democracia e Desenvolvimento (CDD).
O documento aponta o diálogo com os insurgentes como uma das soluções para acabar com a violência armada na província de Cabo Delgado, à semelhança do que já tinha feito em outubro de 2021, e sugere ainda o desenvolvimento de projetos que impeçam os jovens de aderir aos movimentos extremistas.
O diretor do CDD, Adriano Nuvunga, quer que os mais novos sejam o motor do desenvolvimento.
"Porque somente assim os jovens, que compreendem melhor o desafio do seu tempo, podem ajudar a encontrar soluções. Mas também há a questão de que a extração de recursos, minerais em particular, tem que gerar desenvolvimento", explica.
Já o coordenador da Agência de Desenvolvimento Integrado do Norte (ADIN), João Machatine, que tem estado a desenvolver vários projetos em Cabo Delgado, defende que é preciso procurar uma agenda e um rosto para o diálogo.
"O terrorista tem cara, o insurgente tem cara, e toda e qualquer ação tem que ser dirigida, tem de ter um líder. Falta saber se este líder tem uma agenda clara. A 'cara' de que estamos à procura não é uma cara física, mas de uma agenda, qual é a agenda?", questiona.
Estabilidade na região
Para Adriano Nuvunga, o diálogo que é proposto pelo relatório visa procurar soluções para as preocupações das comunidades locais.
"Que o desenvolvimento que é experimentado noutras partes do país também possa ser verificado e beneficiar a população dessas zonas afetadas, somente assim podemos vencer os corações e as mentes nestas comunidades para poderem também participar", espera.
Segundo João Machatine, os projetos da ADIN têm estado a criar estabilidade social, económica e política, além de ajudarem a atrair mais jovens para a sua execução.
"Nesse sentido posso dizer que, com os nossos parceiros que estão ativos na região norte, já logramos muitos sucessos. Em resultado disso, hoje Macomia já é diferente, Quissanga e a sede de Palma estão a ficar diferentes, a própria Mocímboa da Praia, que foi dilacerada, está diferente", sublinha satisfeito.
No lançamento do relatório do CDD estiveram diversos círculos sociais, políticos e diplomáticos.
O regresso da vida pós destruição em Cabo Delgado
Apesar da tendência de retorno das populações às zonas de origem, várias aldeias ainda continuam desertas e o cenário de destruição é visível nessas comunidades.
Foto: DW
Sensação de paz em Macomia
O distrito de Macomia já registou o regresso de grande parte da sua população que se havia evadido para outras zonas com a escalada da violência protagonizada pelos insurgentes, localmente conhecidos por "al-shababes". Na vila, atividades comerciais ganham terreno. Mas a população pede ainda a permanência do exército para lhes proteger. O desejo dos residentes é que a paz tenha vindo para ficar.
Foto: DW
Serviços públicos em Mocímboa da Praia
Após a recuperação do território, em agosto de 2021, as autoridades estão empenhadas no restabelecimento dos serviços públicos de modo a impulsionar o retorno da população que se refugiou em comunidades de Cabo Delgado. O Escritório das Nações Unidas de Serviços para Projetos comprometeu-se em alocar escritórios moveis ao governo de Mocímboa da Praia para fazer face à escassez de infraestruturas.
Foto: DW
Local do massacre de Xitaxi
A 7 de abril de 2021, na aldeia de Xitaxi, no distrito de Muidumbe, os terroristas terão morto a sangue frio um grupo de 53 jovens num campo de futebol (ao fundo da imagem). Aparentemente, a causa da chacina foi a recusa desses jovens, que haviam sido raptados localmente e em aldeias já atacadas, em juntar-se ao movimento rebelde que devasta Cabo Delgado desde o ano de 2017.
Foto: DW
Forças Armadas na estrada
A estrada N380 liga o distrito de Ancuabe a Mocímboa da Praia. A via permaneceu intransitável com a escalada da violência terrorista em aldeias atravessadas pela rodovia. Com as ações terroristas enfraquecidas, a N380 voltou a ser transitável, embora de forma tímida. Veículos militares patrulham constantemente, para garantir que nenhuma situação de alteração da ordem venha a verificar-se.
Foto: DW
Destroços visíveis
Sucatas de veículos destruídos denunciam a quem por aqui passa, cenários de violência vividos na estrada principal que liga sul, centro e norte da província.
Foto: DW
Bens abandonados
Terroristas bloquearam durante um ano o acesso aos distritos no norte, com destaque para Mueda e Mocímboa da Praia, com o assalto ao posto de controlo policial no cruzamento de Awasse. Após o seu desalojamento pela força conjunta Moçambique-Ruanda, os terroristas abandonaram alguns dos seus bens, em caves que serviam de esconderijos.
Foto: DW
Ruínas
Casas abandonadas e em ruínas e zonas residenciais tomadas pelo capim são o retrato que se repete em diversas aldeias ao longo das estradas N380 e R698. Denunciam também a crueldade dos terroristas.