Oposição moçambicana critica "incapacidade" das autoridades no combate aos grupos armados na província de Cabo Delgado. Covid-19 foi outro tema debatido no Parlamento esta quarta-feira.
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O recente ataque de homens armados desconhecidos à vila de Mocímboa da Praia foi um dos temas que dominaram esta quarta-feira (25.03) a abertura da primeira sessão ordinária do novo Parlamento, saído das eleições de 15 de outubro.
O Comando Geral da Polícia da República de Moçambique informou, na altura, que as forças governamentais travaram combates com os homens armados com vista a repor a ordem e tranquilidade públicas.
Na terça-feira, o porta-voz do Governo, Filimão Suazi, confirmou que, na manhã seguinte ao ataque, os "malfeitores" ter-se-ão retirado e deixado rastos em alguns locais da vila, "rastos de sangue de corpos humanos, supostamente de pessoas de entre os próprios malfeitores levados para lugar incerto", esclareceu.
Estado de emergência
Arnaldo Chalaua, porta-voz da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), maior partido da oposição, exige que seja declarado o estado de emergência local nas "zonas onde estão a decorrer essas atividades maléficas [perante o] olhar sereno e impávido daquele que tem a função de zelar pelo cumprimento escrupuloso da constituição e demais leis."
Para Fernando Bismarque, porta-voz do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), este último ataque "mostra a incapacidade das nossas Forças de Defesa e Segurança".
O político sugere, por isso, ao Executivo moçambicano que pondere a "solicitação de apoio internacional para fazer face a esta situação".
Por seu turno, Jacinto Capito, porta-voz da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), defende que todos são chamados a envolverem-se "na sensibilização a toda a sociedade para que realmente esses atos não continuem a acontecer".
A presidente do Parlamento, Esperança Bias, encorajou "o Presidente da República a prosseguir com ações para o combate cerrado e sem tréguas aos malfeitores".
Desarmamento da RENAMO
Outro tema que mereceu a atenção dos parlamentares esta quarta-feira está relacionado com os ataques que se registam no centro do país, tendo sido reiterada a necessidade de se acelerar o processo de desarmamento e reintegração das forças residuais da RENAMO.
Por outro lado, a RENAMO mostrou-se preocupada com o atual figurino do Parlamento, que, no entender do partido, tem uma composição desproporcional. A RENAMO considera que existem já sinais preocupantes indicando que a FRELIMO tem procurado fazer valer o facto de ter dois terços dos deputados na tomada de decisões.
A questão da corrupção foi um dos temas abordados pela FRELIMO, que garantiu estar determinada a prosseguir com o combate à impunidade.
Os deputados apelaram ao reforço das medidas de prevenção, tendo a presidente do Parlamento, Esperança Bias, afirmado que os parlamentares encorajam o Governo a continuar com medidas efetivas de saúde pública, nomeadamente a "priorização da despesa pública para a implementação de políticas direcionadas à mitigação dos efeitos do vírus".
Esperança Bias sublinhou também ser necessária "a contínua intervenção do banco central no apoio à estabilidade de preços e ao crescimento económico, mantendo a resiliência do sistema financeiro face aos riscos decorrentes do impacto macroeconómico da Covid-19."
Sessão parlamentar especial em tempos de coronavírus
Começaram em outubro de 2017 em Mocímboa da Praia e já se alastraram a outros três distritos moçambicanos. Os ataques armados na província de Cabo Delgado, que somam já mais de 130 mortos, ainda não têm solução à vista.
Foto: DW/G. Sousa
Outubro de 2017
Os primeiros ataques de grupos armados desconhecidos na província de Cabo Delgado aconteceram no dia 5 de outubro de 2017 e tiveram como alvo três postos da polícia na vila de Mocímboa da Praia. Cinco pessoas morreram. Cerca de um mês depois, a 17 de novembro, as autoridades dão ordem de encerramento a algumas mesquitas por se suspeitar terem sido frequentadas por membros do grupo armado.
Foto: Privat
Dezembro de 2017
Surgem novos relatos de ataques nas aldeias de Mitumbate e Makulo, em Mocímboa da Praia. Na primeira semana de dezembro de 2017, terão sido assassinadas duas pessoas. Vários suspeitos foram identificados, tendo os moradores dado conta que os atacantes deram sinais de afiliação muçulmana. Por sua vez, a polícia desmentiu o envolvimento do grupo terrorista Al-Shabaab nestes ataques.
Foto: DW/G. Sousa
Janeiro a maio de 2018
Apesar de ter começado calmo, 2018 revelar-se-ia um ano de terror na província de Cabo Delgado com os ataques a alastrarem-se a mais distritos. Dada a gravidade da situação, a Assembleia da República aprovou, a 2 de maio, a Lei de Combate ao Terrorismo. Mas, no final do mês, dia 27, novos ataques foram realizados junto a Olumbi, distrito de Palma. Dez pessoas morreram, algumas decapitadas.
Foto: Privat
2 de junho de 2018
Dias mais tarde, a televisão STV dava conta que as forças de segurança moçambicanas haviam abatido, nas matas de Cabo Delgado, oito suspeitos de participação nos ataques. Foram ainda apreendidas catanas e uma metralhadora AK-47, além de comida e um passaporte tanzaniano. Por esta altura, já milhares de pessoas haviam abandonado as suas casas, temendo a repetição dos episódios de terror.
Foto: Borges Nhamire
4 de junho de 2018
Ainda se "festejava" os avanços na investigação das autoridades, e consequente abate dos suspeitos quando, a 4 e 7 de junho, se registaram novos incêndios nas aldeias de Naunde e Namaluco. Sete pessoas morreram e quatro ficaram feridas. Foram ainda destruídas 164 casas e quatro viaturas. O mesmo cenário voltou a repetir-se a 22 de junho: um novo ataque na aldeia de Maganja matou cinco pessoas.
Foto: Privat
29 de junho de 2018
Fortemente criticado por não se ter ainda pronunciado acerca dos ataques, o Presidente moçambicano Filipe Nyusi resolve fazê-lo, em Palma, perante um mar de gente. Oito meses e 33 mortos [25 vítimas dos ataques e oito supostos atacantes] depois... Em Cabo Delgado, Nyusi prometeu proteção aos cidadãos e convidou os atacantes a dialogar consigo, de forma a resolver as suas "insatisfações".
Foto: privat
Agosto de 2018
Depois de, em julho, um novo ataque à aldeia de Macanca - Nhica do Rovuma, em Palma, ter feito mais quatro mortos, Filipe Nyusi desafiou, a 16 de agosto, os oficiais promovidos no exército, por indicação da RENAMO, a usarem a sua experiência no combate contra estes grupos armados que, mais tarde, a 24 do mesmo mês, tirariam a vida a mais duas pessoas, na aldeia de Cobre, distrito de Macomia.
Foto: Jinty Jackson/AFP/Getty Images
Setembro de 2018
Setembro de 2018 voltava a ser um mês negro no norte de Moçambique. Ataques nas aldeias de Mocímboa da Praia, Ntoni e Ilala, em Macomia, deixaram pelo menos 15 mortos e dezenas de casas destruídas. No final do mês, o ministro da Defesa, Atanásio Mtumuke, afirmou que os homens armados responsáveis pelos ataques seriam "jovens expulsos de casa pelos pais".
Foto: Privat
Outubro de 2018
Um ano após o início dos ataques em Cabo Delgado, a polícia informou que os mais de 40 ataques ocorridos, haviam feito 90 mortos, 67 feridos e destruído milhares de casas. Foi também por esta altura que Filipe Nyusi anunciou a detenção de um cidadão estrangeiro suspeito de recrutar jovens para atacar as aldeias. No final do mês, começaram a ser julgados 180 suspeitos de envolvimento nos ataques.
Foto: privat
Novembro de 2018
Novos relatos de mortes macabras surgem na imprensa. Seis pessoas foram encontradas mortas com sinais de agressão com catana na aldeia de Pundanhar, em Palma. Dias depois, o cenário repetiu-se nas aldeias de Chicuaia Velha, Lukwamba e Litingina, distrito de Nangade. Balanço: 11 mortos. Em Pemba, o embaixador da União Europeia oferecia ajuda ao país.
Foto: Privat
6 de dezembro de 2018
A população do distrito de Nangade terá feito justiça pelas próprias mãos e morto três homens envolvidos nos ataques. Na altura, à DW, David Machimbuko, administrador do distrito de Palma, deu conta que "depois de um ataque, a população insurgiu-se e acabou por atingir alguns deles". Entretanto, o Ministério Público juntou mais nomes à lista dos arguidos neste caso. Entre eles está Andre Hanekom.
Foto: DW/N. Issufo
16 de dezembro de 2018
A 16 de dezembro, e após mais um ataque armado no distrito de Palma, que matou seis pessoas, entre as quais uma criança, Moçambique e Tanzânia anunciaram uma união de esforços no combate aos crimes transfronteiriços. 2018 chegava assim ao fim sem uma solução à vista para os ataques que já haviam feito, pelo menos, 115 mortos. O julgamento dos já acusados de envolvimento nos ataques continua.
Foto: privat
Janeiro de 2019
O novo ano não começou da melhor forma. Sete pessoas morreram quando um grupo armado intercetou uma carrinha de caixa aberta que transportava passageiros entre Palma e Mpundanhar. Na semana seguinte, outras sete pessoas foram assassinadas a tiro no Posto Administrativo de Ulumbi. Um comerciante foi ainda decapitado em Maganja, distrito de Palma, no passado dia 20.