Palma: Oposição sul-africana insta SADC a conter terrorismo
Lusa
30 de março de 2021
Num comunicado, o Aliança Democrática, principal partido da oposição na África do Sul, considera que os ataques em Cabo Delgado têm "potencial de desestabilizar toda a região" e insta a SADC a conter os terroristas.
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A África do Sul enviou um avião militar a Pemba para assistir cerca de 50 cidadãos sul-africanos afetados pelos recentes atentados terroristas na vila de Palma, norte do país vizinho, que resultou na morte de pelo menos um empreiteiro sul-africano, segundo as autoridades de Pretória.
No entanto, o Aliança Democrática (DA, na sigla em inglês) referiu esta terça-feira (30.03), em comunicado, que os ataques terroristas em Moçambique "tem o potencial de desestabilizar toda a região da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral [SADC]".
"E não podemos permitir que seja relegado para segundo plano ou esperar até que Moçambique seja destruído por completo antes que o nosso vizinho apresente um pedido de intervenção da SADC", salientou o DA.
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"Insurgentes mais encorajados"
O principal partido da oposição na África do Sul considerou que "os insurgentes estão cada vez mais encorajados" à medida que aumentam o seu controle sobre a ocupação dos territórios na província de Cabo Delgado.
"A África do Sul deve estender a sua mão ao nosso vizinho necessitado, e embora o país deva se preparar para ajudar Moçambique como parte de um contingente da SADC, é chegado o momento de repatriar os nossos cidadãos retidos em Palma com urgência", salientou a formação política sul-africana.
"A Força de Defesa Nacional da África do Sul (SANDF, na sigla em inglês) pode enviar as Forças Especiais para ajudar nesta evacuação vital para Pemba", frisou.
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Interesses e vidas em jogo
O DA acrescentou que "a África do Sul não pode pagar o preço de ter outro país vizinho em ruínas", salientando que para além dos interesses económicos e do potencial fornecimento de energia da província de Cabo Delgado para a África do Sul e para a região, "os insurgentes já têm as mãos manchadas de sangue de milhares de pessoas".
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"É necessário um ambiente político seguro e estável para garantir o desenvolvimento económico e a criação de emprego", salientou o DA, frisando que "a SADC precisa de intervir agora para salvar Moçambique e garantir estabilidade para toda a região".
O maior partido na oposição na África do Sul, disse que também vai solicitar à ministra das Relações Internacionais e Cooperação sul-africana, Naledi Pandor, uma explicação sobre "porque é que não se realizou a cimeira extraordinária de chefes de Estado e de Governo dos Estados-membros da SADC, prevista para março de 2021, em Maputo".
Na sequência do ataque terrorista na cidade de Palma, junto aos projetos de gás no norte do país, o Governo sul-africano anunciou no domingo o reforço da sua missão diplomática em Moçambique, sem precisar detalhes.
Ataque em Palma
A vila sede de distrito que acolhe os projetos de gás do norte de Moçambique foi atacada na quarta-feira por grupos insurgentes 'jihadistas' que há três anos e meio aterrorizam a região.
Dezenas de civis, incluindo sete pessoas que tentavam fugir do principal hotel de Palma, no norte de Moçambique, foram mortos pelo grupo armado que atacou a vila na quarta-feira. A violência está a provocar uma crise humanitária com quase 700 mil deslocados e mais de duas mil mortes.
Vários países têm oferecido apoio militar no terreno a Maputo para combater estes insurgentes, cujas ações já foram reivindicadas pelo autoproclamado Estado Islâmico, mas, até ao momento, ainda não existiu abertura para isso, embora existam relatos e testemunhos que apontam para a existência de empresas de segurança e de mercenários na zona.
Terrorismo em Cabo Delgado: As marcas da destruição e a crise humanitária
Edifícios vandalizados, presença de militares nas ruas e promessas de soluções por parte de políticos contrastam com a tentativa das populações de levar a vida adiante.
Foto: Roberto Paquete/DW
Infraestruturas vandalizadas
O conflito armado em Cabo Delgado deixou um número de infraestruturas destruídas na província nortenha de Moçambique. Em Macomia, os insurgentes não pouparam nem a Direção Nacional de Identificação Civil. Os danos no prédio do órgão deixaram milhares de pessoas sem documentos. E carro da polícia incendiado.
Foto: Roberto Paquete/DW
Feridas abertas até na sede da Polícia
O edifício da Polícia da República de Moçambique (PRM) em Macomia ainda carrega as marcas de um ataque em 2020. O tanzaniano Abu Yasir Hassan – também conhecido como Yasser Hassan e Abur Qasim - é reconhecido pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos e pelo Governo moçambicano como líder do Estado Islâmico em Cabo Delgado. Não está claro se o grupo é responsável pelos ataques na província.
Foto: Roberto Paquete/DW
"Eliminar todo o tipo de ameaça"
Joaquim Rivas Mangrasse (à esquerda) foi empossado chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas a 16 e março. "É missão das Forças Armadas eliminar todo o tipo de ameaça à nossa soberania, incluindo o terrorismo e os seus mentores, que não devem ter sossego e devem se arrepender de ter ousado atacar Moçambique", declarou o Presidente Filipe Nyusi (centro) na cerimónia de posse, em Maputo.
Foto: Roberto Paquete/DW
Missões constantes para conter os terroristas
Soldados das Forças Armadas de Defesa de Moçambique preparam-se para mais uma missão contra terroristas em Palma. A vila foi alvo de ataques, esta quarta-feira (24.03), segundo fontes ouvidas pela agência Lusa e segundo a imprensa moçambicana. Neste mesmo dia, as autoridades moçambicanas e a petrolífera Total anunciaram, para abril, o retorno das obras do projeto de gás, suspensas desde dezembro.
Foto: Roberto Paquete/DW
Defender o gás natural da península de Afungi
A península de Afungi, distrito de Palma, foi designada como área de segurança especial pelo Governo de Moçambique para proteger o projeto de exploração de gás da Total. O controlo é feito pelas forças de segurança designadas pelos ministérios da Defesa e do Interior. Esta quinta-feira (25.03), o Ministério da Defesa confirmou o ataque junto ao projeto de gás, na quarta-feira (24.03).
Foto: Roberto Paquete/DW
Proteger os deslocados
Soldados das FADM protegem um campo para os desolocados internos na vila de Palma. A violência armada está a provocar uma crise humanitária que já resultou em quase 700 mil deslocados e mais de duas mil mortes.
Foto: Roberto Paquete/DW
Apoiar os deslocados
De acordo com as agências humanitárias, mais de 90% dos deslocados estão hospedados "com familiares e amigos". Muitos refugiaram-se em Palma. Com as estradas bloqueadas pelos insurgentes em fevereiro e março deste ano, faltaram alimentos. A ajuda chegou de navio.
Foto: Roberto Paquete/DW
Defender a própria comunidade
Soldados das Forças Armadas de Defesa de Moçambqiue estão presentes também no distrito de Mueda. Entretanto, cansados de sofrer nas mãos dos teroristas, antigos militares decidiram proteger eles mesmos a sua comunidade e formaram uma milícia chamada "força local".
Foto: Roberto Paquete/DW
Levar a vida adiante
No mercado no centro da vida de Palma, a população tenta seguir com a vida normal quando a situação está calma. Apesar da ameaça constante imposta pela possibilidade de um novo ataque, quando "a poeira abaixa", a normalidade parece regressar pelo menos momentaneamente...
Foto: Roberto Paquete/DW
Aprender a ter esperança com as crianças
Apesar de todo o caos que se instalou um pouco por todo o lado em Cabo Delgado, a esperança por um vida normal continua entre as poulações. Na imagem, crianças de famílias deslocadas que deixaram as suas casas, fugindo dos terroristas, e foram para a cidade de Pemba. Vivem no bairro de Paquitequete e sonham com um futuro próspero, sem ter de depender da ajuda humanitária e longe da violência.