Cabo Delgado: Momade aponta risco de novas bases terroristas
Lusa
16 de agosto de 2021
Líder da RENAMO alertou o Governo para o risco de os insurgentes em Cabo Delgado abrirem novas bases, após a retomada de Mocímboa da Praia pelo Estado. Momade diz que o "silêncio" dos terroristas não deve ser desprezado.
Publicidade
"Eu fui guerrilheiro e sei que é preciso que o Estado moçambicano e as forças moçambicanas tenham muito cuidado [com as movimentações dos grupos armados], porque quando um guerrilheiro abandona um sítio vai instalar-se num outro lugar", disse Ossufo Momade, que falava esta segunda-feira (16.08) à margem de uma visita de trabalho ao distrito de Marínguè, província de Sofala, centro de Moçambique.
As forças governamentais, prosseguiu, devem encarar o silêncio dos grupos armados, que sofreram desaires nas últimas semanas, com seriedade.
O líder da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) observou que a reconquista da vila de Mocímboa da Praia pelas forças governamentais sem muita resistência pode ser sinal de que os insurgentes se retiraram estrategicamente e isso pode ser "perigoso".
"Tem de haver reconhecimento da área para que se possam desalojar os rebeldes, em toda a zona norte do país", acrescentou.
A vila, que além do porto conta com um aeródromo, estava ocupada pelos rebeldes desde 23 de março do ano passado, numa ação depois reivindicada pelo grupo 'jihadista' Estado Islâmico.
Grupos armados aterrorizam a província de Cabo Delgado desde 2017, sendo alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico.
Na sequência dos ataques, há mais de 3.100 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED, e mais de 817 mil deslocados, segundo as autoridades moçambicanas.
O receio da "iraquização" de Cabo Delgado
05:10
Pensão dos antigos guerrilheiros
O líder da RENAMO, principal partido da oposição em Moçambique, também manifestou hoje preocupação com a falta de pagamento de pensões aos antigos guerrilheiros da organização, apelando ao Governo e aos parceiros internacionais para resolverem a situação.
"É uma lamentação legítima e que nos preocupa, porque quando os guerrilheiros estavam nas bases, tiveram algumas promessas e nós gostarias de vê-las materializadas", declarou Ossufo Momade.
O líder da RENAMO considerou preocupante o silêncio do Governo e dos parceiros internacionais em relação à matéria, assinalando que foram dadas garantias do pagamento de pensões e financiamento de projetos de geração de renda para os antigos guerrilheiros, no âmbito do processo de Desarmamento, Desmobilização e Reintegração (DDR).
Na semana passada, o secretário-geral da Renamo, André Majibire, avançou que cerca de mil antigos guerrilheiros que aderiram ao DDR estão sem receber pensões há seis meses.
Majibire disse que os combatentes desmobilizados devem receber uma pensão de sobrevivência paga pelas Nações Unidas, através do Governo moçambicano, durante um ano, no âmbito do Acordo de Paz e Reconciliação Nacional.
Após esse período, os antigos guerrilheiros passam a receber uma pensão vitalícia do Estado moçambicano.
Terrorismo em Cabo Delgado: As marcas da destruição e a crise humanitária
Edifícios vandalizados, presença de militares nas ruas e promessas de soluções por parte de políticos contrastam com a tentativa das populações de levar a vida adiante.
Foto: Roberto Paquete/DW
Infraestruturas vandalizadas
O conflito armado em Cabo Delgado deixou um número de infraestruturas destruídas na província nortenha de Moçambique. Em Macomia, os insurgentes não pouparam nem a Direção Nacional de Identificação Civil. Os danos no prédio do órgão deixaram milhares de pessoas sem documentos. E carro da polícia incendiado.
Foto: Roberto Paquete/DW
Feridas abertas até na sede da Polícia
O edifício da Polícia da República de Moçambique (PRM) em Macomia ainda carrega as marcas de um ataque em 2020. O tanzaniano Abu Yasir Hassan – também conhecido como Yasser Hassan e Abur Qasim - é reconhecido pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos e pelo Governo moçambicano como líder do Estado Islâmico em Cabo Delgado. Não está claro se o grupo é responsável pelos ataques na província.
Foto: Roberto Paquete/DW
"Eliminar todo o tipo de ameaça"
Joaquim Rivas Mangrasse (à esquerda) foi empossado chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas a 16 e março. "É missão das Forças Armadas eliminar todo o tipo de ameaça à nossa soberania, incluindo o terrorismo e os seus mentores, que não devem ter sossego e devem se arrepender de ter ousado atacar Moçambique", declarou o Presidente Filipe Nyusi (centro) na cerimónia de posse, em Maputo.
Foto: Roberto Paquete/DW
Missões constantes para conter os terroristas
Soldados das Forças Armadas de Defesa de Moçambique preparam-se para mais uma missão contra terroristas em Palma. A vila foi alvo de ataques, esta quarta-feira (24.03), segundo fontes ouvidas pela agência Lusa e segundo a imprensa moçambicana. Neste mesmo dia, as autoridades moçambicanas e a petrolífera Total anunciaram, para abril, o retorno das obras do projeto de gás, suspensas desde dezembro.
Foto: Roberto Paquete/DW
Defender o gás natural da península de Afungi
A península de Afungi, distrito de Palma, foi designada como área de segurança especial pelo Governo de Moçambique para proteger o projeto de exploração de gás da Total. O controlo é feito pelas forças de segurança designadas pelos ministérios da Defesa e do Interior. Esta quinta-feira (25.03), o Ministério da Defesa confirmou o ataque junto ao projeto de gás, na quarta-feira (24.03).
Foto: Roberto Paquete/DW
Proteger os deslocados
Soldados das FADM protegem um campo para os desolocados internos na vila de Palma. A violência armada está a provocar uma crise humanitária que já resultou em quase 700 mil deslocados e mais de duas mil mortes.
Foto: Roberto Paquete/DW
Apoiar os deslocados
De acordo com as agências humanitárias, mais de 90% dos deslocados estão hospedados "com familiares e amigos". Muitos refugiaram-se em Palma. Com as estradas bloqueadas pelos insurgentes em fevereiro e março deste ano, faltaram alimentos. A ajuda chegou de navio.
Foto: Roberto Paquete/DW
Defender a própria comunidade
Soldados das Forças Armadas de Defesa de Moçambqiue estão presentes também no distrito de Mueda. Entretanto, cansados de sofrer nas mãos dos teroristas, antigos militares decidiram proteger eles mesmos a sua comunidade e formaram uma milícia chamada "força local".
Foto: Roberto Paquete/DW
Levar a vida adiante
No mercado no centro da vida de Palma, a população tenta seguir com a vida normal quando a situação está calma. Apesar da ameaça constante imposta pela possibilidade de um novo ataque, quando "a poeira abaixa", a normalidade parece regressar pelo menos momentaneamente...
Foto: Roberto Paquete/DW
Aprender a ter esperança com as crianças
Apesar de todo o caos que se instalou um pouco por todo o lado em Cabo Delgado, a esperança por um vida normal continua entre as poulações. Na imagem, crianças de famílias deslocadas que deixaram as suas casas, fugindo dos terroristas, e foram para a cidade de Pemba. Vivem no bairro de Paquitequete e sonham com um futuro próspero, sem ter de depender da ajuda humanitária e longe da violência.