1. Ir para o conteúdo
  2. Ir para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Polícias querem descobrir colegas que ajudam terroristas

Lusa | tm
17 de abril de 2021

Associação Moçambicana dos Polícias apelou hoje (17.04) para um "trabalho rigoroso" na descoberta de "eventuais" membros das Forças de Defesas e Segurança (FDS) que cooperam com os grupos armados em Cabo Delgado.

BG Mosambik | Alltag und Militarismus in Cabo Delgado
Analistas afirmam que cresce a desconfiança sobre o vazamento de informações para os terroristas em Cabo Delgado.Foto: Roberto Paquete/DW

Em Moçambique, "a inteligência militar deve funcionar, deve fazer um trabalho rigoroso para descobrir eventuais infiltrados", afirmou o presidente da Associação Moçambicana dos Polícias (Amopaip), Nazário Muanambane, em declarações à agência de notícias Lusa avançadas neste sábado (17.04).

Analistas e consultores em segurança têm alertado para uma possível colaboração entre alguns membros das Forças de Defesas e Segurança (FDS) moçambicanas com os grupos armados que atuam no norte do país, apontando a precisão e o momento dos ataques,bem como o facto de alguns terroristas usarem fardamento das forças governamentais como alegados indícios dessa cooperação. 

Segundo o presidente da Amopaip, a neutralização de "agentes do inimigo" no seio das FDS é fundamental para "o fortalecimento da defesa e capacidade operacional" das forças governamentais. 

Militares moçambicanos em Cabo Delgado.Foto: Roberto Paquete/DW

Recolha de informação

"A guerra contra grupos armados e a criminalidade ganha-se também na recolha de informação e apanhando os traidores infiltrados no nosso seio", destacou Nazário Muanambane. 

Por outro lado, a neutralização de membros das FDS que colaboram com "as forças inimigas" será igualmente importante para a moralização das forças governamentais. 

"Quando os maus não são apanhados, os bons também são suspeitos e ficam desmoralizados. É importante tirar o 'peixe podre' antes que todo o 'peixe' fique contaminado", comparou o presidente da Amopaip.  

Nazário Muanambane defendeu igualmente a necessidade de mobilização das populações para cooperarem com o Governo no combate aos grupos armados e à criminalidade, porque muitos dos "delinquentes são conhecidos pelas comunidades". 

"Precisamos de ter as comunidades do nosso lado, porque conhecem cada um dos seus jovens, seu comportamento e é por isso que estamos disponíveis para apoiar na reativação dos conselhos de policiamento comunitário nas zonas em que há problemas", acrescentou. 

Conselhos de policiamento comunitários podem ajudar a combater o crime.Foto: DW

Conselhos de policiamento comunitário

Os conselhos de policiamento comunitário, segundo o porta-voz, seriam uma grande ajuda no combate ao crime, porque os membros da comunidade que integram essas estruturas podem detetar comportamentos suspeitos e passar informação às autoridades. 

Docentes e investigadores do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais da Universidade Joaquim Chissano, universidade estatal moçambicana, alertaram há um ano - após os primeiros grandes ataques terroristas, com ocupação de sedes de distrito - para sinais de que as Forças de Defesa e Segurança do país não estão preparadas nem empenhadas para combater os grupos armados que atacam o norte de Moçambique.

"Cresce a desconfiança sobre o vazamento de informações para os terroristas, onde se verifica a colaboração de alguns militares", lia-se num documento, aludindo-se a suspeitas de "esquemas de corrupção no seio das forças", havendo "uma necessidade urgente de incrementar o efetivo, as tarefas, missões e funções da Polícia Militar". 

Nesta sexta-feira (16.04), o Presidente de Moçambique, Filipe Nyusi, pediu maior solidariedade ao povo moçambicano face à crise humanitária provocada pela violência armada em Cabo Delgado, e criticou a disseminação de falsas informações sobre o conflito, que ganhou nova escalada no mês passado, quando grupos armados atacaram pela primeira vez a vila de Palma, a cerca de seis quilómetros dos multimilionários projetos de gás natural.

A violência em distritos mais a norte da província começou há três anos e está a provocar uma crise humanitária com quase 700 mil deslocados, de acordo com agências da Organização das Nações Unidas (ONU), e mais de 2.500 mortes, segundo uma contabilidade feita pela agência de notícias Lusa.