Ponte aérea leva pessoas resgatadas em Palma para Maputo
Lusa
29 de março de 2021
Voos de Pemba para a capital de Moçambique transportam sobretudo trabalhadores ligados ao projeto de gás resgatados de Palma, alvo de ataques armados. Milhares de pessoas continuam a tentar abandonar o distrito.
Publicidade
Uma ponte aérea está montada entre Pemba e Maputo para retirar do norte de Moçambique quase 1.300 pessoas resgatadas no sábado (27.03) por navio do distrito de Palma, alvo de ataques armados na quarta-feira, disse à agência de notícias Lusa fonte da Total.
Prevê-se que a operação decorra até esta segunda-feira, disse a mesma fonte, durante as operações em curso na capital provincial de Cabo Delgado.
Os voos transportam sobretudo trabalhadores ligados ao projeto de gás do norte de Moçambique para a capital moçambicana, 1.700 quilómetros a sul, de onde terão ligação para as suas províncias ou para outros países, no caso de funcionários estrangeiros, acrescentou.
Um grupo de trabalhadores portugueses seguiu no primeiro avião que descolou de Pemba para Maputo pelas 13h00 deste domingo, cerca de três horas depois de o navio Sea Star 1, um 'ferry' da companhia Zan Fast Ferries, ter chegado ao porto de Pemba, disse à Lusa um dos integrantes do grupo.
A companhia marítima faz habitualmente ligações entre o território continental da Tanzânia e o arquipélago de Zanzibar e desta vez cumpriu a missão especial entre Afungi e a capital de Cabo Delgado.
A violência terrorista contra crianças em Cabo Delgado
02:28
Um segundo navio é aguardado esta segunda-feira, de acordo com as autoridades portuárias de Pemba, transportando sobretudo população deslocada do distrito de Palma, 200 quilómetros a norte da capital provincial.
Forte dispositivo de segurança e silêncio
Duas fontes de organizações humanitárias contactadas em Pemba referiram que, salvo o regresso de alguns profissionais que estavam destacados em Palma, como professores, não houve até hoje registo de entrada massiva de deslocados, que já aconteceu após outras vagas de ataques em 2020.
Publicidade
Este domingo, todo o movimento, em todas as zonas por onde circularam as pessoas que chegaram no navio, decorreu sob fortes medidas de segurança, em áreas vedadas aos jornalistas pelas Forças de Defesa e Segurança (FDS).
Algumas pessoas abordadas pela Lusa fora das zonas vedadas recusaram-se a prestar informações sobre os acontecimentos em Palma e um funcionário de uma empresa foi interrompido por um alegado superior hierárquico quando dava uma entrevista à televisão pública moçambicana, às portas do aeroporto de Pemba.
Em Maputo, os jornalistas foram igualmente impedidos pelas forças de segurança de abordar os passageiros à chegada.
A vila sede de distrito que acolhe os projetos de gás do norte de Moçambique foi atacada na quarta-feira por grupos insurgentes que há três anos e meio aterrorizam a região. Dezenas de civis, incluindo sete pessoas que tentavam fugir do principal hotel de Palma, no norte de Moçambique, foram mortos pelo grupo armado que atacou a vila na quarta-feira, disse hoje o Ministério da Defesa moçambicano.
A violência está a provocar uma crise humanitária com quase 700 mil deslocados e mais de duas mil mortes.
Terrorismo em Cabo Delgado: As marcas da destruição e a crise humanitária
Edifícios vandalizados, presença de militares nas ruas e promessas de soluções por parte de políticos contrastam com a tentativa das populações de levar a vida adiante.
Foto: Roberto Paquete/DW
Infraestruturas vandalizadas
O conflito armado em Cabo Delgado deixou um número de infraestruturas destruídas na província nortenha de Moçambique. Em Macomia, os insurgentes não pouparam nem a Direção Nacional de Identificação Civil. Os danos no prédio do órgão deixaram milhares de pessoas sem documentos. E carro da polícia incendiado.
Foto: Roberto Paquete/DW
Feridas abertas até na sede da Polícia
O edifício da Polícia da República de Moçambique (PRM) em Macomia ainda carrega as marcas de um ataque em 2020. O tanzaniano Abu Yasir Hassan – também conhecido como Yasser Hassan e Abur Qasim - é reconhecido pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos e pelo Governo moçambicano como líder do Estado Islâmico em Cabo Delgado. Não está claro se o grupo é responsável pelos ataques na província.
Foto: Roberto Paquete/DW
"Eliminar todo o tipo de ameaça"
Joaquim Rivas Mangrasse (à esquerda) foi empossado chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas a 16 e março. "É missão das Forças Armadas eliminar todo o tipo de ameaça à nossa soberania, incluindo o terrorismo e os seus mentores, que não devem ter sossego e devem se arrepender de ter ousado atacar Moçambique", declarou o Presidente Filipe Nyusi (centro) na cerimónia de posse, em Maputo.
Foto: Roberto Paquete/DW
Missões constantes para conter os terroristas
Soldados das Forças Armadas de Defesa de Moçambique preparam-se para mais uma missão contra terroristas em Palma. A vila foi alvo de ataques, esta quarta-feira (24.03), segundo fontes ouvidas pela agência Lusa e segundo a imprensa moçambicana. Neste mesmo dia, as autoridades moçambicanas e a petrolífera Total anunciaram, para abril, o retorno das obras do projeto de gás, suspensas desde dezembro.
Foto: Roberto Paquete/DW
Defender o gás natural da península de Afungi
A península de Afungi, distrito de Palma, foi designada como área de segurança especial pelo Governo de Moçambique para proteger o projeto de exploração de gás da Total. O controlo é feito pelas forças de segurança designadas pelos ministérios da Defesa e do Interior. Esta quinta-feira (25.03), o Ministério da Defesa confirmou o ataque junto ao projeto de gás, na quarta-feira (24.03).
Foto: Roberto Paquete/DW
Proteger os deslocados
Soldados das FADM protegem um campo para os desolocados internos na vila de Palma. A violência armada está a provocar uma crise humanitária que já resultou em quase 700 mil deslocados e mais de duas mil mortes.
Foto: Roberto Paquete/DW
Apoiar os deslocados
De acordo com as agências humanitárias, mais de 90% dos deslocados estão hospedados "com familiares e amigos". Muitos refugiaram-se em Palma. Com as estradas bloqueadas pelos insurgentes em fevereiro e março deste ano, faltaram alimentos. A ajuda chegou de navio.
Foto: Roberto Paquete/DW
Defender a própria comunidade
Soldados das Forças Armadas de Defesa de Moçambqiue estão presentes também no distrito de Mueda. Entretanto, cansados de sofrer nas mãos dos teroristas, antigos militares decidiram proteger eles mesmos a sua comunidade e formaram uma milícia chamada "força local".
Foto: Roberto Paquete/DW
Levar a vida adiante
No mercado no centro da vida de Palma, a população tenta seguir com a vida normal quando a situação está calma. Apesar da ameaça constante imposta pela possibilidade de um novo ataque, quando "a poeira abaixa", a normalidade parece regressar pelo menos momentaneamente...
Foto: Roberto Paquete/DW
Aprender a ter esperança com as crianças
Apesar de todo o caos que se instalou um pouco por todo o lado em Cabo Delgado, a esperança por um vida normal continua entre as poulações. Na imagem, crianças de famílias deslocadas que deixaram as suas casas, fugindo dos terroristas, e foram para a cidade de Pemba. Vivem no bairro de Paquitequete e sonham com um futuro próspero, sem ter de depender da ajuda humanitária e longe da violência.