Em Cabo Delgado, norte de Moçambique, população vítima de ataques decidiu fazer algo por si: policiamento comunitário e auxílio na investigação policial. Presidente Filipe Nyusi ainda não se pronunciou sobre os ataques.
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Só em menos de dez dias, 17 pessoas foram mortas por homens armados, até agora não devidamente identificados. Este tipo de ataques começou há oito meses e a sua frequência aumenta, tal como a brutalidade contra a população.
Em reação ao ataque de 27 de maio, em que foram decapitadas dez pessoas a catana, adolescentes e adultos, perto de Olumbi, na região de Palma, David Machimbuko, administrador de Palma, valoriza a coragem da população e descreve o que tem sido feito para confrontar a situação.
"Nós, para além de sermos população, temos a capacidade de lutar e enfrentar o inimigo. Daí, juntaram-se às Forças de Defesa e Segurança e foram fazer uma caça aos bandidos, a busca dos malfeitores onde se encontram. E fez-se uma campanha que resultou na morte de malfeitores. Eram 278 populares que juntaram as forças e fizeram a campanha de vasculha nas matas", explicou à DW África.
Justiça popular
Entretanto, alguma imprensa moçambicana (nomeadamente, Canal Moz 04.06) acredita que as pessoas mortas pelas Forças de Defesa e Segurança poderiam ser populares que andavam a caçar. Confrontado com esta suposição, David Machimbuko descarta a possibilidade da morte de inocentes.
"Não, não eram caçadores. No sítio havia vestígios que demonstraram claramente que eram os malfeitores, porque foi na zona onde aconteceram exatamente essas situações. Caçadores nunca vão para uma zona em número de trinta. Foi encontrado lá um carregador com 39 munições. Até aqui a perseguição continua. Já atravessaram para o leste e já estão a correr para o oeste, numa zona em que sabemos que, por causa da floresta, estão à procura de um melhor refúgio", justifica.
Ao que parece, o administrador de Palma pode ter-se enganado em relação à fuga. Cerca de uma semana depois, na madrugada de segunda-feira (04.06), aconteceu um outro ataque que fez sete mortos. Foram ainda incendiadas várias casas, barracas de comércio e dois carros de transporte coletivo. Além disso, terão sido roubados medicamente de um centro de saúde que foi também vandalizado.
Entretanto, o Governo deixa transparecer dificuldades em reconhecer que a situação se agrava e que está difícil travar tais atos. Apesar da gravidade, o analista Paulo Wache ainda não vê necessidade de uma intervenção do exército.
Cabo Delgado: Governo ainda não se pronunciou sobre ataques
Força policial é a mais adequada
"O exército lida com o inimigo. E antes de se chegar à conclusão de que essas pessoas são inimigas, ou que vêm do exterior e têm a missão de aniquilar o Estado, seria um exagero o exército. É que em termos de meios, os que são usados pelo exército seriam desproporcionais.
Paulo Wache acrescenta que a força policial continua a ser a mais adequada para o caso, mas necessitará do apoio da população para obter informações.
"Movimentos irregulares como esse combatem-se muito mais com inteligência do que com a força das armas", defende.
A consternação tomou conta dos moçambicanos. Outros estão duplamente desolados pelo facto de o Governo não ter dirigido até agora qualquer mensagem de conforto às famílias das vítimas e às comunidades visadas.
Paulo Wache defende que os pronunciamentos frequentes da polícia refletem a posição do Governo. Mas reconhece que, quando houver mais informações, o Governo deva também reagir.
"Faz sentido que quem está a gerir um Estado tenha que falar com propriedade e não apenas dizer sentimos muito e parar por aí. Mas penso que, no momento oportuno, esta comunicação deverá acontecer talvez com mais detalhes”, declarou à DW.
Pemba: degradação em tempos de boom
Apesar do crescimento económico causado pelas descobertas de gás no norte de Moçambique, os edifícios históricos de Pemba continuam degradados. Os investimentos vão à construção de novos edifícios e não à reabilitação.
Foto: DW/E. Silvestre
Casas históricas em ruínas
Apesar do crescimento económico causado pelas descobertas de gás no norte de Moçambique, os edifícios do centro histórico de Pemba continuam degradados. Os investimentos vão à construção de novos edifícios e não à reabilitação. A degradação não poupa prédios com elevado valor histórico como esta casa, que foi na era colonial e até 1979 a residência do governador da província de Cabo Delgado.
Foto: Eleutério Silvestre
Mercado central de Pemba
O mercado localiza-se na cidade baixa da cidade desde 1940. Foi uma atração turística de Pemba, que em tempos coloniais era chamada Porto Amélia. Os números e as letras na placa por cima da fachada da entrada, resistem as intempéries naturais e ainda testemunham o quanto foi importante o mercado para os colonos portugueses.
Foto: Eleutério Silvestre
Negócio parado: as bancas do mercado
Nestas bancas simples eram expostos cereais, leguminosas e outros produtos alimentares. Antes do total abandono nos anos 2000, o mercado era frequentado por cidadãos da classe média de diferentes bairros de Pemba, atraídos pelo nível de higiene que caraterizava na exposição dos produtos. Vendia-se o melhor peixe e a melhor carne da cidade de Pemba.
Foto: Eleutério Silvestre
Abandono total: o cinema de Pemba
O cinema de Pemba, localizado na periferia da cidade baixa, era o único da cidade. Até 1990, eram projetados filmes na sala: das 14 às 16 horas os filmes para menores e das 17 às 21 horas as longas metragens para maiores de 18 anos. O cinema era ponto de encontro de cidadãos de diferentes idades de Pemba. O edifício funcionou também como ginásio de 2008 a 2012.
Foto: Eleutério Silvestre
Novas construções na vizinhança
Em vez de renovar e adaptar edifícios históricos já existentes, constroem-se novos prédios em Pemba, a capital da província moçambicana de Cabo Delgado. Este projeto do anfiteatro de Pemba é fruto de uma parceria público privada, entre o Hotel Wimbe Sun e o Conselho Municipal de Pemba. Mais um exemplo de que os investimentos vão para a construção e não para a reabilitação.
Foto: DW/E. Silvestre
Construir de raiz em vez de reabilitar
Mesmo para escritórios, que facilmente poderiam ser instalados em prédios históricos renovados, a opção preferida é construir de raiz. Assim sendo, o "boom" económico causado pela descoberta de grandes quantidades de gás na Bacia do Rovuma na província de Cabo Delgado não beneficia o centro histórico da cidade de Pemba. Este edifício é destinado para albergar uma filial bancária.
Foto: DW/E. Silvestre
Antiga delegação da Cruz Vermelha
Esta casa localiza-se na principal via de acesso à cidade baixa de Pemba. Serviu em regime de arrendamento como primeira delegação da Cruz Vermelha na província. A partir deste edifício, a Cruz Vermelha desencadeou ações humanitárias durante a guerra civil de Moçambique. Em 1999, a Cruz Vermelha de Moçambique abandonou a casa e mudou para infraestruturas próprias modernas.
Foto: Eleutério Silvestre
Armazém histórico de Pemba
Este armazém na cidade baixa faz parte dos edifícios históricos abandonados. Durante a guerra civil, serviu para o armazenamento de alimentos. Foi aqui que os residentes do bairro mais antigo de Pemba, Paquitequete, compravam produtos de primeira necessidade. Teve um papel muito importante durante a emergência de fome que assolou a população de Pemba durante a guerra civil no ano de 1980.
Foto: Eleutério Silvestre
Porto de Pemba
Quando o centro histórico está em degradação, uma das zonas mais dinámicas de Pemba é o porto. Do lado direito, as antigas instalações, do lado esquerdo a zona de ampliação destinada a carga do material da exploração do gás. O cais flutuante foi construído pela empresa francesa Bolloré. A esperança é que o boom do gás ajuda a reabilitar para além do porto também os edifícios históricos de Pemba.