Macomia: Professores contestam regresso às escolas
Lusa
13 de julho de 2021
Um grupo de professores do ensino básico do distrito de Macomia, um dos afetados por ataques armados no norte de Moçambique, questiona a segurança no regresso à escola, porque dizem que não há segurança naquela zona.
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Os professores referem que, se forem para Macomia, ficam expostos "como escudos de guerra", relata Manuel Alberto, docente naquele distrito, atualmente deslocado em Pemba, capital provincial.
"No ano passado os insurgentes entraram na presença das Forças de Defesa e Segurança (FDS)", refere, recordando a ocupação da vila, em maio de 2020.
Para o docente, "era bom que [as autoridades] esperassem até a situação voltar à normalidade para reabrir", as escolas, "mesmo que seja só no próximo ano", até porque quem está em Macomia "dorme na mata", descreve Manuel Alberto.
E questiona: como pode um professor planificar aulas em tais condições, a viver com medo de ser decapitado?
Em causa, está uma decisão do Serviço Distrital de Educação, Juventude e Tecnologia, assente num comunicado publicado em março, a pedir o regresso de todos os professores primários para as suas escolas, alegando haver segurança.
Só que a realidade é diferente, contam os docentes.
"Há disparos", relata Isaura dos Santos, professora em Macomia há mais de cinco anos, agora alojada em Pemba, mas que continua a receber informações sobre focos de insegurança que persistem nas últimas semanas.
A vida dos deslocados no centro de reassentamento de Nampula
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"Há colegas que só estão lá porque não têm dinheiro para transporte", descreve, referindo que até "alguns chefes [de bairro] fugiram".
Justificar atribuição de fundos?
Cripton Dias, outro professor, teme a infiltração de "terroristas" nas escolas, visto que, agora, devido à debandada generalizada da população, os alunos são desconhecidos.
"Não são aqueles alunos que conhecíamos" e "o professor tem dúvidas se está a ensinar o inimigo ou não", disse.
Para ele, o pedido de regresso a uma zona sob ameaça pretende justificar a atribuição de fundos para o setor da educação, sem que haja outros serviços a funcionar.
Manuel Alberto diz que o professor não poder ser "o único funcionário público" a regressar a Macomia.
E Isaura acrescenta: "Se o distrito decidiu isso [regresso às aulas] temos de voltar todos, porque o professor não pega arma", concluiu.
A Lusa tentou obter esclarecimentos dos serviços de educação, mas sem obter respostas.
Terrorismo em Cabo Delgado: As marcas da destruição e a crise humanitária
Edifícios vandalizados, presença de militares nas ruas e promessas de soluções por parte de políticos contrastam com a tentativa das populações de levar a vida adiante.
Foto: Roberto Paquete/DW
Infraestruturas vandalizadas
O conflito armado em Cabo Delgado deixou um número de infraestruturas destruídas na província nortenha de Moçambique. Em Macomia, os insurgentes não pouparam nem a Direção Nacional de Identificação Civil. Os danos no prédio do órgão deixaram milhares de pessoas sem documentos. E carro da polícia incendiado.
Foto: Roberto Paquete/DW
Feridas abertas até na sede da Polícia
O edifício da Polícia da República de Moçambique (PRM) em Macomia ainda carrega as marcas de um ataque em 2020. O tanzaniano Abu Yasir Hassan – também conhecido como Yasser Hassan e Abur Qasim - é reconhecido pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos e pelo Governo moçambicano como líder do Estado Islâmico em Cabo Delgado. Não está claro se o grupo é responsável pelos ataques na província.
Foto: Roberto Paquete/DW
"Eliminar todo o tipo de ameaça"
Joaquim Rivas Mangrasse (à esquerda) foi empossado chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas a 16 e março. "É missão das Forças Armadas eliminar todo o tipo de ameaça à nossa soberania, incluindo o terrorismo e os seus mentores, que não devem ter sossego e devem se arrepender de ter ousado atacar Moçambique", declarou o Presidente Filipe Nyusi (centro) na cerimónia de posse, em Maputo.
Foto: Roberto Paquete/DW
Missões constantes para conter os terroristas
Soldados das Forças Armadas de Defesa de Moçambique preparam-se para mais uma missão contra terroristas em Palma. A vila foi alvo de ataques, esta quarta-feira (24.03), segundo fontes ouvidas pela agência Lusa e segundo a imprensa moçambicana. Neste mesmo dia, as autoridades moçambicanas e a petrolífera Total anunciaram, para abril, o retorno das obras do projeto de gás, suspensas desde dezembro.
Foto: Roberto Paquete/DW
Defender o gás natural da península de Afungi
A península de Afungi, distrito de Palma, foi designada como área de segurança especial pelo Governo de Moçambique para proteger o projeto de exploração de gás da Total. O controlo é feito pelas forças de segurança designadas pelos ministérios da Defesa e do Interior. Esta quinta-feira (25.03), o Ministério da Defesa confirmou o ataque junto ao projeto de gás, na quarta-feira (24.03).
Foto: Roberto Paquete/DW
Proteger os deslocados
Soldados das FADM protegem um campo para os desolocados internos na vila de Palma. A violência armada está a provocar uma crise humanitária que já resultou em quase 700 mil deslocados e mais de duas mil mortes.
Foto: Roberto Paquete/DW
Apoiar os deslocados
De acordo com as agências humanitárias, mais de 90% dos deslocados estão hospedados "com familiares e amigos". Muitos refugiaram-se em Palma. Com as estradas bloqueadas pelos insurgentes em fevereiro e março deste ano, faltaram alimentos. A ajuda chegou de navio.
Foto: Roberto Paquete/DW
Defender a própria comunidade
Soldados das Forças Armadas de Defesa de Moçambqiue estão presentes também no distrito de Mueda. Entretanto, cansados de sofrer nas mãos dos teroristas, antigos militares decidiram proteger eles mesmos a sua comunidade e formaram uma milícia chamada "força local".
Foto: Roberto Paquete/DW
Levar a vida adiante
No mercado no centro da vida de Palma, a população tenta seguir com a vida normal quando a situação está calma. Apesar da ameaça constante imposta pela possibilidade de um novo ataque, quando "a poeira abaixa", a normalidade parece regressar pelo menos momentaneamente...
Foto: Roberto Paquete/DW
Aprender a ter esperança com as crianças
Apesar de todo o caos que se instalou um pouco por todo o lado em Cabo Delgado, a esperança por um vida normal continua entre as poulações. Na imagem, crianças de famílias deslocadas que deixaram as suas casas, fugindo dos terroristas, e foram para a cidade de Pemba. Vivem no bairro de Paquitequete e sonham com um futuro próspero, sem ter de depender da ajuda humanitária e longe da violência.