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Cabo Delgado: Quase 820 mil pessoas continuam deslocadas

Lusa
10 de agosto de 2023

Mais de 400 mil pessoas vítimas dos ataques no norte de Moçambique nos últimos cinco anos já regressaram às zonas de origem, nomeadamente em Cabo Delgado, mas quase 820 mil continuam deslocados, segundo números oficiais.

Foto: DW

De acordo com a mais recente atualização feita pelo Instituto Nacional de Gestão e Redução do Risco de Desastres (INGD), divulgada rdta quinta-feira (10.08), "pelo menos 409.087 pessoas" regressaram às zonas de origem.

Contudo, "existem ainda 819.004 pessoas deslocadas", das quais 764.332 na província de Cabo Delgado, e as restantes nas províncias de Niassa (4.533), Nampula (39.875), Manica (5.582), Sofala (3.376) e Zambézia (1.191), entre outras.

A província de Cabo Delgado (norte de Moçambique) enfrenta há cinco anos uma insurgência armada com alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico.

A insurgência levou a uma resposta militar desde julho de 2021 com apoio do Ruanda e da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC), libertando distritos junto aos projetos de gás, mas surgiram novas vagas de ataques a sul da região e na vizinha província de Nampula.

4 mil mortos

O conflito já provocou cerca de 4.000 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED.

De acordo com os dados do INGD, o Governo moçambicano "continua a implementar a Política e Estratégia para Gestão de Deslocados Internos", bem como o Plano de Reconstrução de Cabo Delgado (PRCD), "com incidência para a Assistência Humanitária, Recuperação de Infraestruturas e Atividades Económicas e Financeiras".

Deslocados transportados por barco em PembaFoto: DW

Estes dados foram igualmente apresentados esta semana, em Maputo, pela presidente do INGD, Luísa Celma Meque, ao subcomité para Refugiados, Repatriados e Pessoas Deslocadas do Comité dos Representantes Permanentes (COREP) da União Africana, no âmbito de uma avaliação humanitária, "devido as cheias e ciclones, bem como a situação dos ataques armados por insurgentes em Cabo Delgado", explicou a instituição.

A presidente do INGD informou que os fenómenos naturais ocorridos na época 2022/2023, "com destaque para o ciclone Freddy, afetaram cerca de 1,4 milhão de pessoas, tendo provocado mais de 300 óbitos" em Moçambique.

"Desafios continuam ainda visíveis"

Luísa Celma Meque fez saber que "os desafios continuam ainda visíveis, desde a necessidade de inserção ou reinserção das famílias retornadas, disponibilidade de habitação, de infraestruturas sociais, promoção de autoemprego, entre outras ações". 

Durante a época em causa foram assistidas mais de 442 mil pessoas com bens alimentares e cerca de 271 mil pessoas através de bens não alimentares. 

Atualmente, o INGD gere seis Centros de Acomodação na cidade de Maputo, com 267 famílias. 

O ciclone Freddy faz parte um conjunto de fenómenos extremos que cientistas consideram estar a ganhar força devido ao aumento das temperaturas no planeta.

Foi um dos ciclones mais longos de que há registo (37 dias, entre 05 de fevereiro e 14 de março) e que maior distância percorreu, superando 10 mil quilómetros, desde que se formou ao largo do norte da Austrália e atravessou todo o oceano Índico até à África Austral.

A intempérie provocou centenas de mortes e destruição generalizada no centro de Moçambique e no Malaui.