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Cabo Delgado: "Terroristas estão a fazer amizade com civis"

Delfim Anacleto
24 de janeiro de 2024

Terroristas estão a infiltrar-se no seio da população nos distritos de Macomia, Muidumbe e Mocímboa da Praia, na província moçambicana de Cabo Delgado. Ativista social Abudo Gafuro diz que há um aumento dos deslocados.

Macomia, em Cabo Delgado
Foto: Roberto Paquete/DW

Há novos episódios de violência extremista na província moçambicana de Cabo Delgado. Relatos da população indicam que o grupo terrorista que tem protagonizado ataques no norte do país desde 2017, ocupa, desde domingo (21.01), o posto administrativo de Mucojo, distrito de Macomia. As autoridades, ainda não se pronunciaram sobre o assunto.

Em entrevista à DW, o ativista social Abudo Gafuro Manana afirma que os terroristas estão infiltrados no seio da população em muitas aldeias. Diz também que o número de novos deslocados que se refugia na sede distrital de Macomia tem vindo a aumentar com as recentes movimentações dos terroristas.

DW África: O que sabe sobre a possível presença dos terroristas no posto administrativo de Mucojo, em Macomia?

Abudo Gafuro Manana: (AGM): Esses relatos de presença dos terroristas naquela região não são de hoje, já era de conhecimento público que os terroristas estavam a circular nas redondezas de Mucojo, Pangane, Quiterajo, entre outras zonas da baixa de Macomia. Então, neste exato momento o que está a acontecer é algo estranho: os terroristas estão a fazer amizade com os civis para poderem infiltrar-se e conseguirem dominar a região de Mucojo como uma zona estratégica e lá chegaram a ficar durante três dias.

DW África: Isto quer dizer que os terroristas continuam em Mucojo?

AGM: De lá para cá ainda não tivemos uma informação que eles na verdade ocuparam na sua totalidade [o posto administrativo de] Mucojo, mas que estão infiltrados dentro da sociedade, sim estão.

Novos episódios de violência extremista na província de Cabo DelgadoFoto: Delfim Anacleto/DW

DW África: E neste momento, qual é a situação de Macomia no que diz respeito ao deslocamento da população?  

AGM: Na verdade, em Macomia é onde está o epicentro dos deslocados, onde está a nascer agora um novo ponto de concentração de deslocados. Falo de deslocados provenientes da Aldeia Quinto Congresso, Nova Criação, a própria aldeia de Chitunda, um pouco da região de Awasse, Chinda. A população tende a sair daquela região para poder chegar à vila sede de Macomia ou então a procurar as zonas onde estavam reassentados anteriormente.

DW África: Qual é a razão desses novos deslocamentos a que se refere?

AGM: Porque há uma forte circulação e presença de terroristas nessas aldeias e eles agora optam em não raptar ou não matar os civis, mas sim serem amigos dos civis para conseguir entrar nas comunidades. Nos últimos ataques que eles provocaram houve morte de duas pessoas em Nantadola, isso significa que eles estão infiltrados no meio da sociedade. Fazem-se passar por civis e depois provocam esses ataques nas posições militares dessas regiões.

DW África: Como está a assistência humanitária a esses novos deslocados que estão a surgir em consequência dos últimos eventos violentos protagonizados pelos terroristas?

AGM:  Nós estivemos lá nos dias 10, 11 e 12 para podermos aferir e procurarmos saber qual era a magnitude do crescimento desse novo fenómeno [de deslocamentos]. O apoio é um pouco reduzido porque não há muitas organizações não-governamentais a entrar naquelas comunidades para poder apoiar ou ajudar os deslocados. Está a ser um bocadinho difícil a entrada das ONG para poder ajudá-los devido a essa forte presença e circulação dos terroristas.

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