Objetivo é mais segurança contra espionagem internacional e velocidade na internet, diz diretor do projeto que deverá ser concluído em 2018.
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"Criar uma rota com mais segurança da informação entre os países emergentes" é um dos objetivos do projeto que vai construir o primeiro cabo submarino a cruzar o hemisfério sul; diz em entrevista à DW África Artur Mendes, diretor da Angola Cables. A empresa é responsável pela construção do cabo e parte das maiores empresas de telecomunicações de Angola.
Sua construção ganhou impulso após as denúncias de espionagem pelos EUA a diversos Governos do mundo por meio da Agência Nacional de Segurança (NSA), disse o diretor da empresa angolana. Hoje, os cabos de fibra ótica provenientes do hemisfério sul precisam passar pelas rotas do Atlântico-norte.
O projeto entre Angola e Brasil terá velocidade de 40tbps e 6.165 kilómetros de extensão entre as cidades de Fortaleza (norte do Brasil) e Luanda (capital angolana). O custo estimado é de 149 milhões de euros.
Com ele, a internet deverá ficar mais rápida em África, além de melhorar o panorama das telecomunicações para países emergentes, diz o diretor da Angola Cables: "95% do tráfego de informação pelo mundo passa por cabos submarinos e não por satélites”, esclarece Mendes.
Espionagem
Os EUA e a Europa são as rotas mais utilizadas porque têm maior preponderância em internet. A construção de cabos submarinos alternativos, por isso, ganhou impulso após denúncias do ex-consultor da Agência Nacional de Segurança dos Estados Unidos (NSA), Edward Snowden, sobre espionagem norte-americanana.
Em 2013, o ex-consultor da NSA revelou milhares de documentos sobre a vigilância em massa de dados privados dos cidadãos pela administração norte-americana.
À DW, o diretor da Angola Cables diz que a segurança ainda é uma preocupação dos Governos e afirma que já "havia vontade política para isso por parte dos governos brasileiro e angolano” ao conceberem o projeto do primeiro cabo submarino a cruzar o Oceanos Atlântico numa rota pelo hemisfério sul.
Cabos submarinos
Atualmente, existem cerca de 278 cabos submarinos em operação pelo mundo, de acordo com dados da empresa de consultoria em telecomunicação TeleGeography. Com os cabos de fibra ótica é possível enviar sinais e informações com alta capacidade e velocidade; explica Thomas Walther, especialista alemão da Universidade Técnica de Darmstadt, na Alemanha.
O especialista concorda que o primeiro cabo a cruzar o Oceano Atlântico por países do hemisfério sul diminuirá a possibilidade de espionagem, mas o risco não é excluído. "Se uma informação trafega por centros próximos de informação pode haver tentativa de se vigiar. Com um cabo entre Brasil e Angola isso ainda seria possível, mas muito mais complicado para a NSA”, diz.
Benefícios económicos
O diretor da Angola Cables, Artur Mendes, acredita que o cabo de fibra ótica trará benefícios económicos; pois, segundo ele, estudos mostram que aumento de cerca de 10 por cento em telecomunicações impacta postivamente em 1,3% o PIB de um país.
Por isso, Angola quer usar sua posição geográfica para levar internet mais rápida aos demais países africanos e com isso mudar o paradigma das telecomunicações no hemisfério sul, diz o diretor de Angola Cables.
A empresa Telecomunicações Brasileiras S.A. (Telebras), por sua vez, declarou que não faz parte desse projeto com Angola desde 2015. Um outro projeto da Angola Cables, o “Projeto Monet”, feito em parceria com as empresas Google, Algar Telecom (Brasil) e a Antel (do Uruguai) ligará São Paulo à Miami.
Angola: Os contrastes de um gigante petrolífero
O "boom" do petróleo ainda não é para todos. Ao mesmo tempo que Angola oferece oportunidades de investimento a empresas nacionais e estrangeiras, mais de um terço da população vive com menos de um dólar por dia.
Foto: DW/R. Krieger
Lama no cotidiano
O bairro Cazenga é o mais populoso de Luanda – ali, vivem mais de 400 mil pessoas numa área de 40 quilômetros quadrados. Em outubro de 2012, chuvas fortes obrigaram muitos habitantes a andar na lama. Do Cazenga saíram muitos políticos do partido governista angolano MPLA. "Uma das prioridades de políticos pobres é a riqueza rápida", diz o economista angolano Fernando Heitor.
Foto: DW/R. Krieger
Dominância do MPLA
Euricleurival Vasco, 27, votou no MPLA nas eleições gerais de agosto de 2012: "É o partido do presidente. Desde a guerra civil, ele tenta deixar o poder, mas a população não deixa". Críticos dizem que José Eduardo dos Santos não cumpriu nenhuma promessa eleitoral, como acesso à água e à eletricidade. Mas o governo lançou um plano de desenvolvimento em novembro para dar esses direitos à população.
Foto: DW/R. Krieger
Economia informal em Angola
Muitos angolanos esperam riqueza do chamado "boom" do petróleo. Mas grande parte da população é ativa na economia informal, como estas vendedoras de bolachas na capital, Luanda. Segundo a ONU, 37% da população vivem com menos de um dólar por dia. Elias Isaac, da organização de defesa dos direitos humanos Open Society, considera este um "contrassenso" entre "crescimento e desenvolvimento".
Foto: DW/R. Krieger
Uma infraestrutura de fachada?
A capital angolana Luanda é considerada uma das cidades mais caras do mundo. Um prato de sopa pode custar cerca de 10 dólares num restaurante, o aluguel de um apartamento mais de cinco mil dólares por mês. A Baía de Luanda é testemunho constante do "boom" do petróleo: guindastes e arranha-céus disputam quem é mais alto.
Foto: DW/Renate Krieger
O "Capitólio" de Angola
Próximo à Baía de Luanda, surge a nova sede do parlamento angolano. O partido governista MPLA vai ocupar a maior parte dos 220 assentos: elegeu 175 deputados em agosto de 2012. Por outro lado, o MPLA perdeu 18 assentos em comparação à eleição de 2008. A UNITA, maior partido da oposição, ganhou 32 assentos em 2012 – mas tem pouco espaço...
Foto: DW/R. Krieger
O presidente no cotidiano de Luanda
…porque, segundo críticos, o presidente José Eduardo dos Santos (numa foto da campanha eleitoral) "domina tudo": o poder Executivo, o Judiciário e o Legislativo, diz o economista Fernando Heitor. José Eduardo dos Santos também parece dominar muitas ruas de Luanda: em novembro de 2012, quase todas as imagens eram da campanha do partido no poder, o MPLA.
Foto: DW/R. Krieger
Dormir nos carros
Os engarrafamentos são frequentes em Luanda. Por isso, muitos funcionários que moram em locais mais afastados já partem para a capital angolana de madrugada. Ao chegarem em Luanda, dormem nos carros até a hora de ir trabalhar – juntamente com as crianças que precisam ir à escola. A foto foi tirada às 06:00h da manhã perto do Palácio da Justiça em novembro de 2012.
Foto: DW/R. Krieger
A riqueza em recursos naturais de Angola
Angola é o segundo maior produtor de petróleo da África, mas também tem potencial para se tornar um dos maiores exportadores de gás natural. A primeira unidade de produção de LNG – Gás Natural Liquefeito, em inglês – foi construída no Soyo, norte do país, mas ainda está em fase de testes. A fábrica tem uma capacidade de produção de 5,2 milhões de toneladas de LNG por ano.
Foto: DW/Renate Krieger
Para acabar com a dependência do petróleo...
A diversificação da economia poderia ser uma solução, diz o Fundo Monetário Internacional (FMI). O governo angolano criou um fundo soberano do petróleo para investir no país e no estrangeiro, e para ter uma reserva caso haja oscilações no preço do chamado "ouro negro". Uma alternativa, segundo especialistas, poderia ser a agricultura, já que o petróleo só deve durar mais 20 ou 30 anos.
Foto: DW/R. Krieger
Angola atrai estrangeiros
Vêem-se muitas placas em chinês e empresas chinesas em Angola. Os chineses são a maior comunidade estrangeira no país. Em seguida, vêm os portugueses, que em parte fogem à crise económica europeia. Depois, os brasileiros, por causa da proximidade cultural. Todos querem uma parte da riqueza angolana ou investem na reconstrução do país.
Foto: DW/R. Krieger
Homem X Asfalto
Para o educador Fernando Pinto Ndondi, o governo angolano deveria investir "no homem e não no asfalto". Há cinco anos, Fernando e sua famíla foram desalojados da ilha de Luanda por causa da construção de uma estrada. Agora vivem nestas casas precárias. O governo constrói novas casas para a população. Porém, os preços, a partir de 90 mil dólares, são altos demais para a maior parte dos angolanos.
Foto: DW/Renate Krieger
Para onde vai o dinheiro?
O que aconteceu com 32 mil milhões de dólares lucrados pela empresa petrolífera estatal angolana Sonangol entre 2007 e 2011? Um relatório do FMI constatou, em 2011, que faltava essa soma nos cofres públicos. A Sonangol diz ter investido o dinheiro em infraestrutura. Elias Isaac, da Open Society, diz que o governo disponibiliza mais informações – o que "não é sinônimo de transparência".