Jorge Carlos Fonseca defende que o arquipélago tem de ter várias ancoragens nas relações com o mundo e ser "mais atrevido" na sua política externa.
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As declarações de Jorge Carlos Fonseca foram feitas num almoço com os jornalistas (a 26.10) que visou assinalar o primeiro ano do seu segundo mandado presidencial. Foi um almoço que durou mais de duas horas. Durante 80 minutos, o Presidente Jorge Carlos Fonseca falou sobre vários assuntos, sem tabu, respondendo às perguntas dos jornalistas sem titubear.
A política externa foi um dos temas da ementa. "Eu sempre tive a ideia de que um país como Cabo Verde, pequeno, com poucos recursos e com necessidade de investimento direto estrangeiro e de parcerias, não pode ter uma ancoragem. Nós somos um país destinado a ter muitas ancoragens, vai dependendo, em cada momento, daquilo a que correspondem os interesses superiores de Cabo Verde", afirmou Jorge Carlos Fonseca.
O Presidente entende que Cabo Verde não pode elencar determinados países como prioritários, do ponto de vista de relacionamento externo, como fazem alguns Estados africanos. "Por exemplo, recentemente, no discurso de tomada de posse, o novo Presidente angolano enumerou, até por uma certa ordem, as prioridades do ponto de vista do relacionamento externo. Para nós, temos que entender que é difícil", avaliou o chefe de Estado.
Em Cabo Verde, o discurso do Governo e do Presidente fazem clara referência a "relações muito importantes com a União Europeia", com quem o país tem uma Parceria Especial, que este ano assinalou 10 anos.
"Creio que é um relacionamento muito importante para o futuro, mas também a CEDEAO [Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental], a China, os Estados Unidos de América, a CPLP [Comunidade dos Países de Língua Portuguesa], as relações com Portugal, Angola e Brasil são todas importantes", defendeu Jorge Carlos Fonseca.
Em namoro com a CEDEAO
O espaço da África Ocidental está a tornar-se cada vez mais importante para os interesses cabo-verdianos. Discute-se atualmente no meio político e social do país a presidência da comissão da CEDEAO, um facto "muito novo" em Cabo Verde. "Há una anos não se pensava nisso, nem sequer em ter um comissário", lembrou Jorge Carlos Fonseca.
Cabo Verde aproxima-se da CEDEAO, diz Presidente
O que significa que, "nos últimos anos, há uma aproximação muito mais forte de Cabo Verde em relação à CEDEAO, por se entender que é importante".
Esta aproximação é relevante a vários níveis, nomeadamente para a "integração económica e política, a questão da paz, segurança e estabilidade da sub-região", mas também para a consolidação de outras parcerias, pois "a própria União Europeia entende que para o aprofundamento da Parceria Especial seria importante que Cabo Verde tivesse uma integração mais forte a nível da CEDEAO", explicou o chefe de Estado.
A partir de fevereiro de 2018, Cabo Verde deve assumir a presidência da Comissão da CEDEAO, numa altura em que as relações com a União Europeia dão mostras de maior aproximação. Também no próximo ano, Cabo Verde assume a presidência rotativa da CPLP.
Um Cabo Verde "mais atrevido"
O Presidente da República advoga que Cabo Verde deve ser "mais atrevido do ponto de vista da política externa". Nesse sentido, o país lusófono pode procurar "outras parcerias, tentar ver a Índia, a Turquia, alguns países latino-americanos como Colômbia e a Argentina", com os quais Cabo Verde não tem ainda "nenhum relacionamento”, argumentou Jorge Carlos Fonseca.
Ao mesmo tempo, Cabo Verde enraiza tradicionais parcerias. O arquipélago lusófono foi o primeiro país do mundo a conseguir o segundo compacto do programa norte-americano Millennium Challenge Account, um programa de apoio norte-americano que pretende ajudar a combater a pobreza.
Dessalinização de água com tecnologia europeia em Cabo Verde
Em Cabo Verde, as reservas naturais de água são escassas e a estação chuvosa dura apenas três meses por ano. Governo aposta na dessalinização da água do mar para abastecer a população. Mais de 55% da produção perde-se.
Foto: DW/C. Teixeira
Água fresca para os cabo-verdianos
Em Cabo Verde, a dessalinização garante água fresca para cerca de 80% da população. O país aposta no sistema de osmose inversa para produzir água doce. A Electra, Empresa Pública de Electricidade e Água, é responsável pela produção e distribuição da água dessalinizada nas ilhas de São Vicente, Sal e na Cidade da Praia. Na foto, visão parcial da central dessalinizadora da Electra na capital.
Foto: DW/C. V. Teixeira
Dessalinização por osmose inversa
O processo de dessalinização por osmose inversa é uma moderna tecnologia de purificação da água que consiste em diversas etapas de filtragem. Logo após a captação, a água do mar passa pelos filtros de areia, que têm por finalidade eliminar impurezas e resíduos sólidos maiores. Na foto, os dois grandes cilindros são os filtros de areia de uma das unidades de dessalinização na Cidade da Praia.
Foto: DW/C. V. Teixeira
Várias etapas de filtragem
Depois, a água é novamente filtrada, desta vez por micro filtros. Os dois cilindros azuis que se podem ver na foto possuem uma alta eficiência na remoção de resíduos sólidos minúsculos - como moléculas e partículas. Essas duas pré-filtragens preparam a água para passar pelo processo de osmose inversa.
Foto: DW/C. V. Teixeira
Sob alta pressão
O aparelho azul (na foto) é uma bomba de alta pressão. Aplica uma forte pressão na água do mar, que é distribuída pelos cilindros brancos. No interior, encontram-se membranas semipermeáveis por onde a água é forçada a passar. Neste processo de filtragem, consegue-se a retenção de sais dissolvidos. Obtém-se a água doce e a salmoura - solução com alta concentração de sal - que é devolvida ao mar.
Foto: DW/C. V. Teixeira
Volume do abastecimento
Na Cidade da Praia, funcionam duas unidades dessalinizadoras da Electra, com capacidade para produzir 15.000m3 de água doce por dia. Pelo menos 60% da população da capital recebe a água dessalinizada da Electra. Na foto, uma visão parcial da unidade mais moderna de Santiago, em funcionamento desde 2013. A Electra é reponsável pelo abastecimento de água de mais de metade da população do país.
Foto: DW/C. V. Teixeira
Controlo de qualidade
A água doce produzida é analisada num laboratório onde é feito o controlo de qualidade. De acordo com a Electra, a transferência da água para consumo só é autorizada se apresentar as condições estabelecidas nos protocolos da Organização Mundial da Saúde (OMS). Na foto, a engenheira bioquímica Elisângela Moniz mostra as placas utilizadas para a contagem de coliformes totais e fecais.
Foto: DW/C. V. Teixeira
Moderna tecnologia europeia
Cabo Verde utiliza tecnologias europeias, espanhola e austríaca, para a dessalinização da água do mar. Na foto, o reservatório de água da empresa austríaca Uniha, que tem capacidade para armazenar 1.500 m3 de água. A água dessalinizada não fica parada aqui: é constantemente bombeada para os reservatórios de distribuição existentes ao longo da Cidade da Praia.
Foto: DW/C. V. Teixeira
Grandes perdas
Esses equipamentos são responsáveis por bombear a água para os tanques de distribuição da Cidade da Praia. No entanto, cerca de 55% de toda a produção é perdida durante este processo. As perdas são causadas por fugas de água em tubulações e reservatórios antigos para onde a água é enviada antes de chegar ao consumidor.
Foto: DW/C. V. Teixeira
Desafios e esforços para produzir água
O engenheiro António Pedro Pina, diretor de Planeamento e Controlo da Electra, diz que os maiores desafios da empresa são "garantir a continuidade na produção, estabilidade na distribuição e combater as perdas que, neste momento, estão em cifras proibitivas". Pina defende, no entanto, que "tem sido feito um esforço enorme para garantir a continuidade da distribuição da água" em Cabo Verde.
Foto: DW/C.V. Teixeira
Recurso natural abundante
Terminado o processo de dessalinização, a água com alta concentração de sal, denominada salmoura, é devolvida ao mar. Composto por 10 ilhas, o arquipélago cabo-verdiano encontra-se cercado por uma fonte inesgotável para a produção de água potável. Os cabo-verdianos têm assim o recurso natural abundante para garantir à população o abastecimento de água dessalinizada e limpa, constantemente.
Foto: DW/C. V. Teixeira
Preço da água ainda é alto
A água dessalinizada pela Electra em Santiago abastece os moradores da Cidade da Praia. Na foto, moradores do bairro Castelão, na capital cabo-verdiana, compram água no chafariz público - um dos poucos que ainda restam no país. Cada bidão de cerca de 30 litros de água custa 20 escudos cabo-verdianos (cerca de 0,20 euros). O valor é considerado alto por muitos cabo-verdianos.